O debate sobre sacrificar uma ursa e outros dois ursos considerados “problemáticos” tem dividido opiniões na Itália. No início de abril a ursa JJ4, conhecida como Gaia, atacou e matou um homem, de 26 anos, enquanto ele corria na floresta de Monte Peller, localizada na Província de Trento, ao norte do país. Depois do ocorrido, Maurizio Fugatti, presidente do local, decretou que a ursa e outros dois ursos machos, MJ5 e M62, fossem capturados e abatidos por serem considerados “problemáticos”.
A decisão repercute pelo país há duas semanas, sendo destaque na imprensa italiana, e colocou a maioria dos italianos contrária ao abatimento dos ursos, incluindo a família do jovem morto por Gaia. Ambientalistas e celebridades se posicionaram contra o sacrifício da ursa e defenderam a soltura dela em uma reserva. A Ordem dos Veterinários do Treno, inclusive, se pronunciou contra a eutanásia e garantiu que nenhum veterinário da província irá sacrificar o animal.
JJ4 está presa no centro de detenção da reserva faunística Casteller, onde aguarda determinação sobre seu destino. Logo após a decisão de Fugatti, a ursa foi capturada junto com seus três filhotes, de um ano e quatro meses, que foram liberados ilesos. Depois da captura, a associação animalista LAV apresentou recurso pedindo a suspensão do abatimento de Gaia, que foi acatado pelo Tribunal Administrativo Regional de Trento. Com isso, a execução da ursa está suspensa até o dia 11 de maio, quando se pronunciará oficialmente sobre a questão.
O Tribunal pode decidir condenar JJ4 a pena de morte, prisão perpétua ou a transferência para outro local. A LAV defende a transferência dela para uma reserva na Alemanha que se disponibilizou para acolher o animal.
Manifestações a favor de Gaia
Grupos de proteção dos animais marcaram manifestações para este fim de semana em Trento, com intuito de forçar as autoridades a cancelar o abatimento de Gaia. O delegado da província, Maurizio Improta, declarou à agência de notícias Adnkronos que a região está sendo monitorada dia e noite por policiais. “Queremos evitar qualquer invasão na área protegida por turistas atraídos por notícias no final de semana e que querem fotografar de perto o animal”, declarou Improta à Adnkronos.
O ministro do Meio Ambiente da Itália, Gilberto Pichetto Fratin, falou, na quinta-feira (20/4), à rede de rádio e televisão TGR Rai, que pretende encontrar uma solução que permitisse não matar a ursa. “Também estamos à procura de soluções de transferência entre agora e 11 de maio ”, anunciou.
Fratin disse acreditar que JJ4 não será abatida. Se encontrarmos um lugar para levar o urso, não encontraremos uma solução derrubando-o. O problema é que trouxe à tona este terrível episódio é que no Trentino existem cerca de 120 ursos enquanto poderia ser 40 . A situação saiu do controle e eles aumentaram dramaticamente. Você precisa de um plano de realocação com vários territórios. Mas não é matando a ursa que a gente dá solução ”, declarou o ministro.
Em 1999 um programa chamado Life Ursus, financiado pela União Europeia, entrou em ação para repovoar a população de ursos pardos alpinos que estavam quase extintos no país. Com isso, quatro ursos machos e seis fêmeas foram introduzidos na floresta de Trento. A intenção era aumentar a população para algo entre 40 e 60 animais da espécie, mas os ursos se reproduziram mais que o esperado e, hoje, a estimativa é que vivam entre 100 e 120 ursos pardos alpinos na região. Essa super povoação, a mais do que a floresta suporta, faz com que esses mamíferos se aproximem cada vez mais dos locais comumente frequentados por humanos.
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