Sudão

Combates persistem no Sudão, apesar dos pedidos de trégua

Os bombardeios sacudiram a capital sudanesa novamente nesta sexta, perto do quartel-general do Exército

Agence France-Presse
postado em 21/04/2023 17:23
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

O Sudão vivenciou nesta sexta-feira (21/4) o sétimo dia de combates entre o Exército e forças paramilitares, com ataques aéreos e enfrentamentos nas ruas de Cartum, sem sinais de uma trégua reivindicada internacionalmente para que a população pudesse celebrar os últimos dias do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Os bombardeios sacudiram a capital sudanesa novamente nesta sexta, perto do quartel-general do Exército, segundo testemunhas.

Os confrontos entre as forças dos dois generais que disputam o poder deixaram até agora ao menos 413 mortos e 3.551 feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) reivindica "acesso humanitário imediato e sem obstáculos" para poder ajudar a população civil.

A luta está sendo travada entre o Exército regular do general Abdel Fattah al Burhan, chefe de fato do Sudão desde o golpe de 2021, e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), liderado por Mohamed Hamdan Daglo, desde 15 de abril.

Os confrontos ocorrem principalmente em Cartum e na região de Darfur, no oeste do país, onde a situação é "catastrófica", segundo Cyrus Paye, médico da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Na quinta-feira, ONU e Estados Unidos solicitaram uma trégua para permitir que os civis celebrassem o Eid al Fitr, que, durante três dias, marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã.

No entanto, Burhan descartou na quinta-feira qualquer negociação com Daglo, seu ex-número dois e apelidado "Hemedti".

Cheiro de morte

"No Eid deste ano, nosso país sangra: a destruição, a desolação e o barulho das balas prevalecem sobre a alegria", disse o general Burhan nesta sexta, durante pronunciamento na televisão estatal.

Sami al Nour, morador de Cartum, lamentou que o Eid fosse celebrado este ano "com o som de tiros e o cheiro de morte de fundo, ao invés de bolos, crianças felizes e bons momentos em família".

Para Ibrahum Awad, outro morador da capital, "a situação era inevitável: um país com dois líderes e dois exércitos não pode avançar".

Os Estados Unidos anunciaram o envio de militares para a região para proceder com uma eventual evacuação de sua embaixada em Cartum.

A Coreia do Sul e o Japão enviarão aviões no sábado, embora o aeroporto da capital permaneça fechado. A União Europeia, por sua vez, planeja uma operação de retirada por via terrestre.

Tanto Espanha quanto Alemanha pediram hoje um cessar-fogo para poder evacuar os cidadãos europeus.

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, explicou em entrevista coletiva em Berlim que 60 espanhóis estão presos no país, junto com outras 20 pessoas da América Latina.

Entre 10.000 e 20.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, cruzaram a fronteira com o Chade, informou ontem o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Em comunicado, a MSF descreveu a situação em Darfur, com crianças feridas por tiros e pacientes atendidos nos corredores de um hospital.

"Há tantos pacientes que não há escolha a não ser atendê-los no chão, nos corredores, porque simplesmente não há leitos suficientes", disse o médico Paye, citado no comunicado da ONG.

Hospitais fora de serviço

A aviação regular, segundo os médicos, não hesita em bombardear bases das FAR em áreas populosas de Cartum, mesmo que estejam próximas de hospitais.

Na quinta-feira, um sindicato de médico informou que "70% dos 74 hospitais de Cartum e de áreas afetadas pelos combates estão fora de serviço".

As organizações humanitárias tiveram que suspender sua ajuda, fundamental em país onde mais de um terço da população passa fome em tempos normais.

Um funcionário da Organização Internacional para as Migrações (OIM) morreu nesta sexta, quando seu veículo ficou preso no meio de um tiroteio, informou Antonio Vitorino, diretor desta agência da ONU.

A explosão de violência foi o estopim das profundas divisões entre o Exército e as FAR, cujos líderes se uniram em abril de 2019 para derrubar o autocrata Omar al Bashir, após protestos multitudinários.

Em outubro de 2021, os dois homens fortes lideraram um golpe contra o governo civil instalado após a queda de Bashir e puseram fim a uma transição que contava com o apoio da comunidade internacional.

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