O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump chegou, nesta segunda-feira (3), à Trump Tower, em Nova York, onde deve pernoitar antes de se apresentar às autoridades judiciais para responder a acusações criminais sobre o pagamento que teria feito pelo silêncio de uma atriz pornô em 2016.
O bilionário, o primeiro presidente americano a ser indiciado como réu em um tribunal, deixou sua mansão de Mar-a-Lago, na Flórida, e aterrissou às 15h25 do horário local (16h25 de Brasília) no aeroporto de La Guardia, no bairro nova-iorquino do Queens, em seu avião privado.
Trump entrou pela porta da Trump Tower, seu próprio arranha-céu na 5ª Avenida, sob forte esquema de segurança antes das 16h15 locais (17h15 de Brasília).
O edifício encontra-se cercado por ônibus da polícia, que está em alerta máximo devido à previsão de possíveis distúrbios.
Antes de deixar a Flórida, Trump, que já anunciou que pretende disputar as eleições presidenciais de 2024, escreveu em sua rede social, a Truth Social, que viajaria a Nova York para "devolver a grandeza aos Estados Unidos". Também afirmou ser "uma vítima de uma caça às bruxas".
Na terça-feira, como parte de seu comparecimento, ele passará pelo procedimento padrão de tomada da impressão digital e fotografia, o que provavelmente será uma das fotos mais famosas de ficha policial da era moderna.
Depois, Trump vai comparecer diante do juiz, que fará a leitura das acusações. Embora algumas estejam sob sigilo, alguns meios de comunicação especulam que sejam por volta de 30.
Trump vai se declarar inocente, segundo adiantam seus advogados. E então, o caso será julgado.
O processo gira em torno do pagamento de 130 mil dólares à estrela pornô Stormy Daniels, antes das eleições de 2016, para comprar seu silêncio por uma suposta relação extraconjugal ocorrida dez anos antes, algo que Trump sempre negou.
"O procurador corrupto não tem um caso", disse ele sobre Alvin Bragg, que o indiciou.
"O que tem é uma jurisdição onde é IMPOSSÍVEL que eu tenha um Julgamento Justo", acrescentou, ao anunciar sua viagem a Nova York, um reduto tradicionalmente democrata.
O aposentado Vito Dichiara, que chegou à Trump Tower com cerca de 20 apoiadores, explicou à AFP que veio para "apoiar Donald Trump, o ex e futuro presidente dos Estados Unidos".
- 'Controlem-se' -
Ainda que "não haja ameaças críveis" para Nova York, o prefeito, Eric Adams, optou por fazer uma advertência: "Agitadores: controlem-se".
Adams mencionou especificamente a congressista radical Marjorie Taylor Greene, "conhecida por difundir desinformação e mensagens de ódio", que convocou uma manifestação em frente ao tribunal.
Está previsto que o ex-presidente faça um discurso às 20h15 locais (21h15 de Brasília), após retornar à Flórida.
'No ar'
O comparecimento é um ritual já bem estabelecido, mas não há um roteiro para a entrega de um ex-presidente às autoridades judiciais.
"Está tudo no ar", disse o advogado de Trump, Joe Tacopina, à rede CNN no domingo (2).
Um "desfile do acusado" (tradução literal da expressão "perp walk"), no qual um réu é escoltado algemado diante das câmeras da imprensa, é improvável para um ex-presidente sob proteção do Serviço Secreto.
Mas o advogado antecipa que a Promotoria tentará "obter toda a publicidade" do caso.
"Esperamos que seja o mais indolor e o mais elegante possível para uma situação como esta", acrescentou.
O caso de Daniels é apenas uma das investigações que ameaçam o ex-presidente, que também está sendo investigado por sua possível participação na insurreição de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio americano, pelo manejo e apropriação de documentos secretos após abandonar a Casa Branca.
E a mais importante, talvez, por pressionar funcionários a anular a vitória de Joe Biden em 2020, com uma chamada telefônica gravada, na qual pedia ao secretário de Estado da Geórgia que "encontrasse" votos suficientes para reverter o resultado.
Biden, consciente de que qualquer declaração sua pode acirrar os ânimos de Trump, que acusa o sistema judicial de ser "instrumentalizado" politicamente, é um dos poucos democratas que mantém silêncio sobre a acusação de seu rival político.
Divisão
O indiciamento de Trump voltou a deixar em evidência a divisão política do país. Segundo uma pesquisa realizada pela CNN, 60% dos americanos aprova o indiciamento. O índice sobe para 94% entre os democratas e para 62% entre os independentes, enquanto 79% dos republicanos são contra.
A maioria dos republicanos cerrou fileiras em torno do ex-presidente, incluindo seu provável grande adversário nas primárias presidenciais do partido, o governador da Flórida, Ron DeSantis, que chamou a acusação de "antiamericana".
Outros membros do partido manifestaram preocupação ante a perspectiva de que um presidente que sobreviveu a dois processos de impeachment no Congresso e enfrenta várias investigações busque a indicação do partido.
O ex-governador do Arkansas, Asa Hutchinson, que anunciou no domingo que disputará a indicação republicana, questionou abertamente essa estratégia e pediu a Trump que desista da corrida.
Da Hungria, o primeiro-ministro do país, Viktor Orban, enviou seu apoio: "Siga lutando, Sr. Presidente!", "Estamos com você".
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