A França vive dias de protestos que reúnem milhares de pessoas contra o plano de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos (e não 42 como agora) para se ter direito à pensão integral. Em entrevista à TV France 2, o presidente francês Emmanuel Macron disse que não tem "nenhum prazer em fazer essa reforma, mas trata-se de uma necessidade financeira".
"Há uma questão demográfica que coloca o sistema previdenciário em desequilíbrio. Hoje, temos 17 milhões de aposentados e, em 2030, teremos 20 milhões. Vocês acham que conseguiremos manter o mesmo sistema?", disse Macron.
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A proposta da reforma da Previdência foi aprovada na semana passada, quando a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, ativou, pela 100ª vez desde 1958, o artigo 49.3 da Constituição, o qual permite adotar uma lei sem o voto do Parlamento quando o governo não conta com a maioria necessária.
A adoção do mecanismo foi duramente criticada e vista como uma maneira de driblar o Parlamento francês. No entanto, segundo Macron, a proposta seguiu o caminho democrático. "Foi feita uma concertação do texto a partir de emendas sugeridas pelo Senado e aceitas pelo governo", disse o chefe de Estado.
Durante os protestos, centenas de pessoas já forame detidas. Latas de lixo foram incendiadas, e houve danos em pontos de ônibus. Algumas barricadas foram erguidas. A mobilização também afetou a coleta de lixo em vários bairros de Paris, onde cerca de 10 mil toneladas de lixo se acumulam nas ruas.
Macron disse que é "inaceitável" usar "violência extrema para agredir parlamentares" e comparou o cenário com as invasões às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília. "Os sindicatos têm legitimidade e direito de se manifestar, mas é inaceitável quando grupos utilizam violência extrema para agredir parlamentares porque não estão contentes com alguma coisa", destacou.
"É inaceitável como foi inaceitável o que aconteceu nos Estados Unidos com a invasão do Capitólio e o que passou no Brasil", emendou. Nesta quarta-feira (22/3), o presidente defendeu que a reforma da Previdência entre em vigor até o fim do ano, em um momento de intensificação dos protestos contra o projeto do governo.
Com informações da AFP