O ex-presidente americano Donald Trump convocou seus apoiadores para irem às ruas na terça-feira (21/3) em protesto contra uma possível prisão sua, e as polícias de diversas cidades do país se prepararam para confrontos e confusão.
No entanto, ao contrário do que pediu Trump, muitos de seus apoiadores mais fervorosos mandaram um recado diferente para a sua base: fiquem em casa.
É possível entender essa contradição ao navegar pelos sites e plataformas pró-Trump na internet.
Nas principais redes sociais, aplicativos de mensagens e no próprio Truth Social — que pertence a Trump — há diversos tipos de boatos circulando.
Muitos apoiadores de Trump sugerem que manifestações em favor do ex-presidente seriam tomadas por infiltrados que realizariam ataques com a intenção de culpar os oponentes pela violência.
Essa é a visão que muitos apoiadores de Trump têm da violenta invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Eles dizem que a violência foi instigada não por apoiadores de Trump e grupos de extrema direita, como Proud Boys e Oath Keepers, mas sim por agentes federais ou "antifas" de esquerda — ativistas antifascismo que combatem Trump.
Eles dizem que a prova disso é a presença — revelada em documentos judiciais — de informantes secretos do FBI em meio aos manifestantes naquele dia.
Mas isso é muito diferente de dizer que houve um complô das autoridades federais para desencadear a violência. Embora não haja evidências disso — e haja evidências concretas de que as mais de mil pessoas presas em conexão com a invasão do Capitólio eram realmente apoiadores de Trump — sites alternativos de notícias não param de reproduzir especulações e conspirações sem embasamento.
Algumas dessas notícias chegaram até mesmo a canais mais convencionais, como a conservadora Fox News.
Os rumores e o medo de uma repetição dos eventos de janeiro de 2021 fizeram com que muitos desistissem de protestar a favor de Trump na terça-feira desta semana.
Ali Alexander, um ativista de extrema direita que organizou protestos que levaram à invasão do Capitólio, anunciou que não pretendia protestar e disse que o teórico da conspiração Alex Jones, do site Infowars, também ficaria em casa.
A deputada republicana da Geórgia, Marjorie Taylor Greene, conhecida por sua lealdade a Trump, também disse que não iria aos protestos.
O mesmo tipo de preocupação foi divulgado em grupos pró-Trump no Facebook, em canais do Telegram, em sites como o 4chan e no Truth Social.
"A maior parte da conversa que vi sobre os protestos é que todos eles vão estar cheios de agentes federais ou armados pelo 'Estado profundo' para exibir bandeiras falsas e fazer com que os 'manifestantes pacíficos' pareçam violentos", diz o especialista em teoria da conspiração Mike Rothschild.
Rothschild, autor do livro The Storm is Upon Us, sobre a teoria da conspiração QAnon, observou que um protesto na segunda-feira realizado pelo clube de jovens republicanos de Nova York atraiu apenas algumas dezenas de apoiadores.
"Acho que parte disso é paranoia legítima de ser preso, e parte é que hoje há menos pessoas com a devoção fanática a Trump do que em 6 de janeiro [de 2021]", diz ele.
Em contraste com suas mensagens na época da invasão do Capitólio, Trump não foi específico sobre onde exatamente os manifestantes deveriam protestar.
Mas há indícios de que a violência retórica contra os oponentes de Trump está aumentando. O Advance Democracy, um grupo de pesquisa não partidário, disse que as menções à violência triplicaram na plataforma Truth Social depois que Trump declarou no sábado que seria preso e enviou a seus apoiadores a mensagem: "PROTESTEM, RETOMEM NOSSA NAÇÃO!"
As autoridades parecem estar levando a sério essas ameaças e a possibilidade de grandes protestos.
A polícia de Nova York reforçou a segurança em torno do tribunal onde Trump seria preso. A polícia de Los Angeles se preparou para um protesto pró-Trump na terça-feira em frente a um prédio federal.
Em Washington, agentes ficaram de prontidão.
No próximo sábado, Trump deve realizar um comício em Waco. A cidade do centro do Texas foi o local de um ataque a um culto cristão em 1993, que resultou na morte de 82 membros do culto e quatro agentes federais, um incidente que sempre foi muito criticado por grupos antigoverno.