A promessa de debate em torno de um plano de paz de 12 pontos — recebido com ceticismo pelos Estados Unidos — marcou a primeira visita do presidente da China, Xi Jinping, a Moscou, desde o início da guerra da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. No domingo, antes de Xi embarcar em Pequim, o líder russo Vladimir Putin afirmou que depositava esperança pela visita de seu "velho bom amigo", em artigo publicado pelo jornal on-line chinês People's Daily e replicado pelo site do Kremlin. Durante a reunião de ontem, o anfitrião elogiou a posição "equilibrada" de Xi em relação à Ucrânia e garantiu que analisa "com respeito" o plano de paz.
"É claro que teremos oportunidade para debater esse tema. Sabemos que vocês se baseiam nos princípios da justiça e do compromisso com os pontos fundamentais do direito internacional. E que têm posição justa e equilibrada sobre os temas internacionais mais urgentes", disse Putin ao visitante. "Sempre estamos abertos a negociações. Falaremos, sem dúvidas, de todas essas questões, incluindo suas iniciativas, que tratamos com respeito." O chefe do Kremlin reconheceu que a China, nos últimos anos, deu um "salto colossal". "No mundo inteiro, isso desperta interesse e, infelizmente, até inveja", admitiu, em um recado velado aos EUA.
Cooperação
Xi, por sua vez, destacou que ele e Putin têm "metas similares". "É verdade que nossos dois países compartilham os mesmos objetivos, ou alguns semelhantes. Temos feito esforços para a prosperidade de nossos respectivos países. Podemos cooperar e trabalhar, juntos, para alcançarmos nossos objetivos", declarou.
Ele assegurou que a China está "disposta a permanecer, de maneira firme, ao lado da Rússia, em nome de um verdadeiro multilateralismo e de uma multipolaridade do mundo", disse Xi, que deverá permanecer em Moscou até amanhã. A visita do chinês à Rússia ocorre poucos dias depois de Polônia e Eslováquia anunciarem o envio de caças MiG-29 à Ucrânia — uma espécie de "linha vermelha" traçada pelo Kremlin para o Ocidente.
Ceticismo
A Casa Branca manteve uma posição de ceticismo em relação ao encontro entre Putin e Xi. O governo do democrata Joe Biden vê poucas evidências de que as conversas em Moscou surtam efeito positivo no front ucraniano. "Vamos ver o que eles falarão nessa reunião. Quero dizer, não sabemos se haverá algum tipo de arranjo. Apenas digo a vocês que não acreditamos que a China está tirando da mesa (o fornecimento de armas para Moscou)", declarou John Kirby, coordenador de comunicações do Conselho de Segurança Nacional.
A rede de TV CNN informou que o presidente norte-americano, Joe Biden, tem interesse em conversar novamente com Xi. Em novembro passado, os dois chefes de Estado mantiveram uma reunião de três horas à margem da cúpula do G20, em Bali, na Indonésia. Segundo Kirby, "é importante preservar as linhas de comunicação abertas, particularmente neste momento, quando as tensões estão muito altas".
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse duvidar que a China salvaguarde a "soberania e a integridade territorial" da Ucrânia. "Qualquer plano que não priorize este princípio fundamental é, na melhor das hipóteses, uma tática dilatória ou, simplesmente, busca um resultado injusto", insistiu. Ainda segundo o chefe de diplomacia de Washington, "pedir um cessar-fogo que não inclua a retirada das forças russas do território ucraniano seria apoiar efetivamente a ratificação da conquista russa".
Vice-presidente para Estudos do think tank Carnegie Endowment for International Peace, Evan A. Feigenbaum comentou que Pequim demonstra preocupação com os EUA, que Xi alegou publicamente ter como objetivos "conter, cercar, suprimir e bloquear" a China. "Em vários temas, da soberania de dados ao uso de sanções unilaterais, Pequim e Moscou estão amplamente de acordo e buscam alterar elementos do sistema internacional", explicou.
Para Eigenbaum, se Pequim tivesse realmente interesse de mediar a paz entre Rússia e Ucrânia, Xi teria feito um esforço para entrar em contato com o presidente Volodymyr Zelensky nos últimos 13 meses.
Ajuda militar
Ontem, Kiev agradeceu o pacote de 2 bilhões de euros (cerca de R$ 11,2 bilhões) anunciado pela União Europeia (UE) para repassar munição às forças ucranianas. "É uma medida muito forte para proteger a segurança europeia", afirmou Andrii Yermak, chefe da administração presidencial ucraniana.
A Noruega anunciou que entregou oito tanques Leopard 2 à Ucrânia, uma contribuição que espera seja "determinante". Polônia, Alemanha, Suécia, Espanha, Finlândia e Canadá também repassaram ou prometeram enviar os veículos blindados a Kiev.
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