Vladimir Putin disse que discutirá o plano de 12 pontos de Xi Jinping para "resolver a crise aguda na Ucrânia", durante uma visita muito esperada do presidente chinês a Moscou, nesta segunda-feira (20/03).
"Estamos sempre abertos para um processo de negociação", disse Putin, enquanto os líderes chamavam um ao outro de "querido amigo".
A China divulgou em fevereiro de 2023 um plano para acabar com a guerra - isso inclui um "cessar as hostilidades" e retomar as negociações de paz.
Mas, na sexta-feira (17/3), os Estados Unidos alertaram que o plano pode ser uma "tática de protelação".
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que "o mundo não deve ser enganado por nenhum movimento tático da Rússia, apoiado pela China ou qualquer outro país, para congelar a guerra em seus próprios termos."
"Pedir um cessar-fogo que não inclua a saída das forças russas do território ucraniano seria efetivamente apoiar a ratificação da conquista russa", acrescentou ele.
O plano da China não diz especificamente que a Rússia deve se retirar da Ucrânia - o que a Ucrânia insistiu como pré-condição para qualquer negociação.
Em vez disso, falou em "respeitar a soberania de todos os países", acrescentando que "todas as partes devem permanecer racionais e exercer moderação", além de "acalmar gradualmente a situação".
O plano também condenou o uso de "sanções unilaterais" - vistas como uma crítica velada aos aliados da Ucrânia no Ocidente.
Uma banda militar deu as boas-vindas a Xi em Moscou. Putin elogiou a China por "observar os princípios da justiça" e pressionar por "segurança total para todos os países".
Em troca, Xi disse a Putin que "sob sua forte liderança, a Rússia fez grandes progressos em seu próspero desenvolvimento. Estou confiante de que o povo russo continuará te dando seu firme apoio".
Antes da chegada de Xi, Putin escreveu no jornal Diário do Povo da China que as duas nações não seriam enfraquecidas pela política "agressiva" dos Estados Unidos.
Publicamente, os líderes ucranianos têm enfatizado o terreno comum que têm com a China - respeitando a soberania e a integridade territorial.
Mas, em particular, eles têm feito um lobby para uma reunião - ou telefonema - entre o presidente Volodymyr Zelensky e Xi.
O medo em Kiev é que o apoio da China à Rússia - atualmente baseado em tecnologia e comércio - possa se tornar militar, potencialmente incluindo artilharia para guerra.
"Se a China se movimentar para fornecer armas abertamente para a Rússia, ela estará de fato participando do conflito ao lado do agressor", disse Oleksiy Danilov, secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia.
Interesses comerciais
Era do interesse de Pequim estabilizar o relacionamento com a Rússia, país com quem compartilha uma fronteira de 4.300 km, disse Yu Jie, pesquisador da China em Chatham House.
A Rússia é uma fonte de petróleo para a enorme economia de Pequim e é vista como uma parceira para enfrentar os Estados Unidos.
Yu acrescentou que Xi acaba de obter uma vitória diplomática na mediação entre o Irã e a Arábia Saudita, que agora retomaram seus laços diplomáticos.
Esta pode ser uma chance para ele explorar a oportunidade de fazer a mediação entre Rússia e a Ucrânia.
Xi será presenteado com uma refeição de sete pratos, incluindo peixe nelma do rio Pechora, no norte da Rússia, uma tradicional sopa russa de frutos do mar e panquecas com codorna - acompanhados por vinho russo.
O porta-voz presidencial Dmitry Peskov indicou que haverá uma "explicação detalhada" das ações de Moscou na Ucrânia durante o jantar. As delegações russa e chinesa se reunirão na terça-feira (21/3) - o principal dia da visita.
A reunião ocorre dias depois que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra o presidente russo por acusações de crimes de guerra.
Isso significa que Putin pode ser tecnicamente preso em 123 países - embora nem a China nem a Rússia estejam nessa lista.
Fazer uma viagem a Moscou logo após o anúncio do TPI sugere que a China não sente "nenhuma responsabilidade de culpar o Kremlin" pelas atrocidades na Ucrânia, disse Blinken.
Os líderes ocidentais têm tentado desde fevereiro isolar a Rússia, após sua invasão em grande escala da Ucrânia.
Mas eles não conseguiram estabelecer um consenso global, com China, Índia e várias nações africanas relutantes em condenar Putin.