Um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) relata a detecção no Irã de partículas de urânio enriquecido a 83,7%, pouco abaixo dos 90% necessários para a fabricação de uma bomba atômica. A situação foi constatada em material coletado, no início deste ano, na usina de Fordo, em Qom, confirmando relatos de fontes diplomáticas.
O órgão fiscalizador nuclear das Nações Unidas pediu esclarecimentos a Teerã, enquanto "as conversas continuam" para determinar a origem dessas partículas. O relatório será apresentado na próxima semana na reunião do Conselho de Governadores da AIEA.
A República Islâmica, que nega qualquer intenção de adquirir uma arma nuclear, indicou em carta à agência da ONU que a eventual presença desse tipo de partícula pode ser devida a "flutuações involuntárias" durante o processo. Na semana passada, autoridades iranianas haviam desmentido informações de enriquecimento de urânio a mais de 60%. Na ocasião, assinalaram que sustentar o contrário representa "uma distorção dos fatos".
Segundo o relatório, ao qual a agência de notícias France Presse teve acesso, o Irã está agindo à margem do estabelecido no acordo celebrado em 2015 com grandes potências para limitar as atividades atômicas do país. Em troca, seriam levantadas as sanções internacionais contra Teerã.
Na prática, porém, o pacto vigorou por três anos. Está moribundo desde que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018, por decisão do então presidente Donald Trump. Depois que Joe Biden assumiu a Casa Branca, negociações foram iniciadas em abril de 2021 para reativar o acordo, sem sucesso. As conversas foram interrompidas 16 meses depois, em um contexto de crescentes tensões.
Desde então, a República Islâmica tem ignorado vários compromissos desse acordo. No último dia 12, por exemplo, as reservas de urânio enriquecido do Irã somavam 3.760,8 kg. Isso equivale a 18 vezes mais que os 202,8kg autorizados pelo acordo de 2015.
Além disso, o processo de enriquecimento atinge patamares cada vez mais elevados em relação ao teto de 3,67% estabelecido pelo acordo. Atualmente, Teerã tem 434,7kg enriquecidos a 20% e 87,5kg a 60%.
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