Em 247 anos de república, 46 homens ocuparam o cargo mais alto dos Estados Unidos. Donald Trump tornou-se, ontem, o primeiro ex-presidente da história a ser indiciado formalmente. "Nesta noite, entramos em contato com o advogado do senhor Trump para coordenar sua apresentação ao Escritório da Promotoria Distrital de Nova York, onde será informado das acusações (...), que permanecem em sigilo", anunciou um porta-voz de Alvin Bragg, procurador do Distrito de Manhattan. O jornal The New York Times informou, no início da noite (em Brasília), que o grande júri de Nova York havia votado pelo indiciamento do magnata. Minutos depois, a notícia foi confirmada por vários veículos da mídia. Em tom desafiador, Trump divulgou comunicado em que denuncia "a perseguição política e interferência eleitoral do mais alto nível na história".
"Tenho certeza de que esta caça às bruxas vai se voltar violentamente contra Joe Biden. O povo americano percebe exatamente o que os democratas radicais de esquerda estão fazendo aqui", declarou o ex-presidente. Não faltaram críticas ao promotor responsável pelo indiciamento.
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Por e-mail, Roland Riopelle, ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York, destacou que a notícia é "sem precedentes" na história norte-americano e prevê que ela dominará a mídia por algum tempo. No entanto, ele não acredita que o indiciamento surta grande impacto político sobre Trump. "Os seguidores do ex-presidente permanecerão leais a ele. Trump ainda poderá ser nomeado pelo Partido Republicano como candidato às eleições de 2024", disse ao Correio. Ele alerta, porém, que a decisão da Justiça reduzirá as chances de um retorno à Casa Branca.
Historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island) e discípulo do falecido brasilianista Thomas Skidmore, James Naylor Green explicou que Trump deverá ser indicado em outros três casos criminais. "Daqui a pouco, creio que a Geórgia tomará a mesma medida, por acusações de fraude eleitoral. Também há as investigações sobre a apropriação de documentos e a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021", afirmou.
Green também aposta que a base eleitoral republicana manterá apoio a Trump. "Ele seguirá a candidatura à Presidência dos EUA, por acreditar que esta será sua melhor proteção. O setor anti-Trump, dentro do Partido Republicano, não deverá criticá-lo. É possível que ele seja candidato republicano mesmo indiciado", antevê. O especialista avalia que o indiciamento transmite a mensagem de vulnerabilidade do ex-presidente. "Indica que ele pode ser processado e condenado."
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Entenda o caso envolvendo o ex-presidente Donald Trump
Dinheiro para ex-atriz pornô
A atriz pornô Stormy Daniels, 44 anos, teria mantido uma relação amorosa com Trump em 2006. Uma década depois, antes das eleições presidenciais de 2016, ela recebeu US$ 130 mil (cerca de 661 mil), supostamente para não falar sobre o assunto. A Justiça do Estado de Nova York entende que o pagamento viola as normas que regem o financiamento de campanhas eleitorais. Ela e Trump se conheceram durante um torneio de golfe, em um resort de luxo no estado de Nevada. Segundo a própria Daniels, Trump a convidou para jantar em sua suíte, onde a recebeu de pijama no sofá. Ela assegura que logo eles tiveram uma relação sexual, o que ele nega.
O procurador
Alvin Bragg se tornou o primeiro procurador afro-americano a ser eleito para o Ministério Público de Manhattan e agora entra para a história como o primeiro a indiciar um ex-presidente dos Estados Unidos. No cargo desde 1º de janeiro de 2022, Bragg tem 49 anos e ficou conhecido por suas posições progressistas em matéria penal e repressiva: buscar alternativas à prisão para autores de pequenos delitos e pôr ênfase nos crimes de colarinho branco e financeiros.
Eu acho...
"A relação entre EUA e Russia atingiu um ponto baixo. Não creio que a prisão de outro cidadão americano vá piorá-la, embora obviamente também não vá melhorá-la. É sempre grave quando um país faz reféns cidadãos estrangeiros. Espero que qualquer governo faça o que puder para garantir a liberdade de seus cidadãos que são feitos reféns no exterior. O objetivo fundamental do Kremlin é a extorsão, para garantir uma concessão do governo dos EUA. Infelizmente, não está claro qual seria essa concessão."