A Rússia anunciou nesta quinta-feira (30/3) a detenção por "espionagem" do jornalista americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, em um contexto de repressão desde o início da ofensiva contra a Ucrânia.
O Kremlin garantiu, sem revelar detalhes, que Evan Gershkovich foi "pego em flagrante" e alertou Washington para não adotar represálias contra a mídia russa nos Estados Unidos.
O Serviço Federal de Segurança (FSB) russo indicou que "frustrou as atividades ilegais do cidadão americano Evan Gershkovich (...) correspondente do escritório de Moscou do jornal americano The Wall Street Journal", a quem acusa de "espionar para o governo dos EUA" .
O Wall Street Journal, que afirmou estar "profundamente preocupado com a segurança" de Gershkovich, negou as acusações contra seu repórter e pediu sua "libertação imediata".
A ONG Repórteres Sem Fronteiras declarou-se "preocupada" com "o que parece ser uma medida de represália". "Jornalistas não devem ser alvos de ataques!", exortou.
A França também reagiu com "preocupação" e pediu a Moscou que respeite a liberdade de imprensa.
O crime de espionagem pode ser punido na Rússia com penas de 10 a 20 anos de prisão, de acordo com o artigo 276 do código penal.
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"Refém?"
As autoridades russas confirmaram que Evan Gershkovich, de 31 anos, estava trabalhando com uma credencial emitida pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Também afirmaram que ele foi detido por coletar informações "sobre uma empresa do complexo militar-industrial russo".
"O estrangeiro foi preso em Yekaterinburg quando tentava obter informações sigilosas", detalhou o FSB, referindo-se a uma cidade do centro da Rússia localizada a 1.800 quilômetros a leste de Moscou.
"O problema é que a nova legislação russa (...) permite que qualquer pessoa simplesmente interessada em assuntos militares seja presa por 20 anos", disse a analista política independente russa Tatiana Stanovaya nas redes sociais em reação à prisão do repórter.
Mas a analista também apontou que o FBS pode ter feito o jornalista "como refém" para uma possível troca de prisioneiros.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Riabkov, descartou a hipótese nesta quinta-feira e disse que é muito cedo para falar sobre uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos.
"Eu não colocaria a questão desta forma agora porque, como vocês sabem, essas trocas que ocorreram no passado eram para pessoas que já estavam cumprindo sentenças, incluindo cidadãos americanos sob acusações bastante graves", disse Riabkov, citado pelas agências de notícias russas.
Antes de trabalhar para o Wall Street Journal a partir de 2022, Gershkovich, que fala russo com fluência, trabalhou para a AFP em Moscou e anteriormente para o The Moscow Times, um site de notícias em inglês.
Sua família emigrou da Rússia para os Estados Unidos quando ele era criança. A prisão por espionagem de um jornalista estrangeiro não tem precedentes na história recente da Rússia.
Intensificação da repressão
Vários cidadãos americanos estão atualmente presos na Rússia e Washington e Moscou acusam-se mutuamente de realizar prisões por motivos políticos.
Entre eles está Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval de 53 anos preso em 2018, que cumpre pena de 16 anos de prisão por espionagem. No ano passado aconteceram várias trocas de prisioneiros de alto nível entre os dois países.
Em dezembro, Moscou libertou a estrela do basquete americano Brittney Griner, detida por contrabandear óleo de cannabis no país, em troca do traficante de armas russo Viktor Bout.
A imprensa russa e os jornalistas críticos ao Kremlin estão frequentemente sujeitos a processos criminais na Rússia, algo que os jornalistas estrangeiros geralmente eram poupados, porque Moscou optava por expulsá-los ou endurecer as regras de credenciamento.
No entanto, desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, as autoridades russas intensificaram a repressão à oposição e à mídia independente.
Ao mesmo tempo, as condições para emissão de credenciais, das quais dependem os vistos, foram reforçadas para jornalistas estrangeiros.
Às vezes, repórteres estrangeiros também são seguidos por serviços de segurança durante suas reportagens, especialmente fora de Moscou.
Nesse contexto, muitos veículos de comunicação ocidentais reduziram consideravelmente sua presença na Rússia desde a entrada das forças russas na Ucrânia em fevereiro de 2022.
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