Uma tragédia dentro de outra. Depois de verem frustrado o sonho de uma vida melhor e ao tomarem conhecimento da iminente deportação, estrangeiros ilegais presos em um centro de detenção do Instituto Nacional de Migração (INM), em Ciudad Juárez, foram vítimas de um incêndio sem precedentes no extremo norte do México. Às 22h de segunda-feira (1h de ontem, em Brasília), o fogo se espalhou rapidamente pelo alojamento, que abrigava 68 adultos do sexo masculino — 40 morreram e 28 ficaram feridos, dos quais 17 estão internados em unidades de terapia intensiva. Entre os mortos, há 28 guatemaltecos. As autoridades também anunciaram que os outros "migrantes identificados" envolvidos na tragédia são 12 venezuelanos, 12 salvadorenhos, um colombiano e um equatoriano, sem diferenciar mortos e feridos.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), classificou a tragédia como "muito lamentável" e "muito triste", mas responsabilizou os próprios migrantes pelo incêndio. "Isso teve a ver com um protesto que eles começaram, nós supomos, depois de eles saberem que seriam deportados. Como protesto, na porta do albergue colocaram colchonetes e atearam fogo. Não imaginaram que isso fosse causar essa terrível desgraça", afirmou, durante a entrevista coletiva diária, na manhã de ontem.
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"É típico do presidente López Obrador culpar as vítimas, em vez de responsabilizar o INM, ao tratar os migrantes como bolinhas de pingue-pongue e ao não lhes fornecer a documentação. AMLO poderia exigir dos Estados Unidos que não enviassem mais migrantes à fronteira sul, pois o norte do México está saturado", afirmou ao Correio o jornalista e ativista mexicano Irineo Mujica Arzate, diretor da organização não governamental Pueblos Sin Fronteras, que trabalha para garantir os direitos dos migrantes. De acordo com ele, os ilegais recebem um documento com validade de 30 dias para que, em teoria, deixem o México. "Quando chegam à fronteira norte, o documento perde a validade e eles são deixados no limbo. Recebem documentos de deportação ou os devolvem para o sul do país depois de 30 dias", denunciou.
Arzate lembrou que o motim no INM de Ciudad Juárez não foi o primeiro. "Essas centros nada mais são do que prisões projetadas, onde ninguém consegue escapar. Pedimos a renúncia de Francisco Garduño Yáñez, comissário do INM", afirmou, ao denunciar que a gestão de Yáñéz é "corrupta" e está em "completo desacato" com a lei. Um vídeo recebido pela reportagem mostra o momento em que o incêndio começou, atrás das grades do centro de detenção. Os funcionários aparecem caminhando de um lado para o outro, enquanto o fogo e a fumaça tomam conta do local.
Em nota, o Instituto Nacional de Migração informou que apresentou denúncia às autoridades competentes para que investiguem o ocorrido. "Da mesma forma, a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) foi ouvida para intervir em processos judiciais e salvaguardar os estrangeiros.
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