O príncipe Harry apareceu inesperadamente na Suprema Corte em Londres, no Reino Unido, para uma audiência preliminar em um caso de violação de privacidade.
O duque de Sussex está processando a Associated Newspapers, dona dos jornais The Daily Mail e The Mail On Sunday, sob a alegação de que foi alvo de escutas telefônicas e outras ilegalidades.
Harry foi ao tribunal na manhã de segunda-feira (27/3), enquanto o cantor Elton John, que também está envolvido no processo, chegou na hora do almoço.
O grupo Associated Newspapers diz que as alegações são "difamações absurdas" e quer encerrar o caso sem que vá a julgamento.
Uma audiência preliminar de quatro dias, que começou nesta segunda, considerará os argumentos legais, e um juiz decidirá se o caso seguirá adiante.
A aparição do príncipe Harry pode ser vista como um sinal de que ele está determinado a proteger sua privacidade.
As atrizes Sadie Frost e Liz Hurley, o marido de Elton John, David Furnish, e a baronesa Doreen Lawrence, mãe de Stephen Lawrence, que foi assassinado em um ataque racista em 1993, também estão entre as pessoas que alegam que a empresa fez uma coleta ilegal de informações.
O grupo iniciou a ação no ano passado depois de tomar conhecimento de "evidências convincentes e altamente angustiantes de que foram vítimas de atividades criminosas repugnantes e violações grosseiras de privacidade" por parte da Associated Newspapers, de acordo com um comunicado do escritório de advocacia Hamlins divulgado em outubro de 2022.
'Imperdoável'
O advogado da ANL, Adrian Beltrami, disse por escrito que as medidas legais foram tomadas tarde demais e que estão "obsoletas".
David Sherborne, o advogado do grupo de proponentes do processo, afirmou por escrito que seus clientes "alegam que, de maneiras diferentes, foram vítimas de vários atos ilegais realizados pela ré ou por aqueles que agiram sob as instruções de seus jornais".
Sherborne disse que a suposta atividade ilegal incluía "interceptação ilegal de mensagens de correio de voz, escuta de chamadas telefônicas ao vivo, obtenção de informações privadas, como contas telefônicas detalhadas ou registros médicos, por engano ou intencionalmente, usando investigadores particulares para cometer esses atos ilegais de coleta de informações em seu nome e até mesmo autorizando invasão de propriedade privada".
Ele acrescentou que tudo isso teria ocorrido "de 1993 a 2011, continuando até 2018".
O duque de Sussex sentou-se no fundo da sala do tribunal, ocasionalmente fazendo anotações em um pequeno caderno preto enquanto os argumentos legais eram apresentados.
Sadie Frost estava sentada a duas cadeiras dele.
A Suprema Corte também foi informada de que o telefone fixo de Elton John e David Furnish em sua casa em Windsor teria sido grampeado por um investigador particular sob ordens da Associated Newspapers.
Documentos arquivados em nome do casal, disponibilizados à mídia na segunda-feira, informam que, além de terem seu telefone fixo grampeado, o assistente pessoal do cantor e o jardineiro do casal também teriam sido alvos de espionagem.
Sherborne disse por escrito na petição: "Os reclamantes estão indignados com o fato de a Associated ter se envolvido nesses atos ilegais e ilícitos para publicar artigos ilegais sobre eles".
"Eles também ficam horrorizados ao considerar que todas as suas conversas, algumas das quais muito pessoais, foram gravadas e tratadas como um produto comercial para jornalistas e outros desconhecidos, independentemente de terem sido publicadas ou não."
"A dor continua a mesma, sabendo que suas vidas foram tratadas como uma mercadoria e seus preciosos e inestimáveis momentos de privacidade degradados dessa maneira".
Sherborne continuou: "Em particular, eles consideram sua casa um espaço sagrado".
"Saber agora que isso foi impiedosamente invadido, sua casa tão violada e sua família e entes queridos visados, tudo por meio de atos ilegais destinados a roubar e explorar suas informações, é imperdoável para eles."
'Táticas deliberadas'
A Suprema Corte ouviu que Elton John e seu marido não tinham visto uma cópia da certidão de nascimento de seu primeiro filho antes de ela ser obtida ilegalmente pela empresa de mídia.
Sherborne disse ao tribunal: "Os requerentes acharam particularmente perturbador entender as táticas deliberadas empregadas pela Associated para contornar a confidencialidade e as proteções éticas concedidas às informações médicas".
"Eles ficaram chocados com as reportagens ilegais publicadas sobre o primeiro requerente cujas informações foram obtidas dessa maneira."
"Pior ainda foi a obtenção ilegal pela Associated da certidão de nascimento de seu primeiro filho, antes mesmo de eles mesmos terem visto uma cópia", disse o advogado.
"Eles ficaram desolados pela manchete depreciativa que a Associated usou na veiculação, claramente calculada para lucrar e gerar comoção pública sobre um evento que eles haviam protegido com tanto cuidado para manter seu valor."
Sherborne completou: "O fato de que essas reportagens ilegais, que causam tanta perturbação, foram realizadas por meio de atos ilegais que o tempo todo foram deliberadamente escondidos deles os enfureceu".
Acusações são 'infundadas e difamatórias', diz empresa
Em argumentações por escrito em nome da Associated Newspapers, os advogados da empresa citaram documentos arquivados em nome de Harry.
O advogado Adrian Beltrami disse que Harry aponta que a "publicação de reportagens ilegais pela Associated" causou "suspeitas e paranoia" no príncipe.
"Como resultado, amizades foram perdidas ou cortadas, e todos se tornaram 'suspeitos', já que ele foi levado a crer pela maneira como os artigos foram escritos que pessoas próximas a ele eram a fonte dessas informações fornecidas aos jornais da Associated."
Beltrami acrescentou: "Ele afirmou que 'as repetidas e injustas divulgações sem explicação de informações privadas e confidenciais relacionadas à sua vida privada e familiar tiveram um efeito grave e profundo' e que ele tinha 'memórias dolorosas' a respeito desta divulgação".
Em um comunicado divulgado em outubro, a Associated Newspapers disse: "Refutamos total e inequivocamente essas difamações absurdas que parecem ser nada mais do que uma tentativa pré-planejada e orquestrada de arrastar os títulos do Mail para o escândalo de escuta telefônicas relacionado a artigos de até 30 anos atrás".
A empresa disse que as alegações são "infundadas e altamente difamatórias — baseadas em nenhuma evidência confiável".
Acredita-se que a aparição do duque no tribunal tenha sido a primeira viagem ao Reino Unido desde o funeral da rainha Elizabeth 2ª em setembro passado. ele vive nos Estados Unidos.
Seu retorno surpresa ocorre quase três meses depois que ele divulgou seu relacionamento conturbado com seu pai, o rei Charles 3º, e seu irmão, o príncipe William, em sua polêmica autobiografia O Que Sobra.
O duque e sua mulher, a duquesa de Sussex, Meghan Markle, também lançaram um documentário na Netflix em dezembro, intitulado Harry & Meghan, a respeito desses conflitos.
O rei Charles 3º deveria dar início na segunda-feira para a primeira visita de Estado oficial de seu reinado, mas a viagem à França foi cancelada devido aos protestos no país sobre a reforma previdenciária.
Ele deve partir para uma visita de Estado à Alemanha na manhã de quarta-feira (29/3). O Palácio de Buckingham disse que ele não estava em Windsor ou Londres na segunda-feira.
O duque e a duquesa de Sussex foram convidados a desocupar sua casa no Reino Unido, a Frogmore Cottage, na propriedade de Windsor, em uma mudança sancionada pelo rei.
O duque também está entrando com uma ação legal contra o Ministério do Interior sobre medidas de segurança tomadas para quando ele estiver no Reino Unido, levantando questionamentos sobre as próprias medidas de segurança que estariam sendo tomadas durante esta visita.
- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gr6d0vk0mo
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