Há semanas, a França tem sido abalada por uma série de greves e protestos cada vez maiores contra a controversa lei previdenciária do governo de Emmanuel Macron.
Na quinta-feira (23/3), mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em todo o país, segundo dados do Ministério do Interior.
Uma das principais confederações de trabalhadores, a CGT, estimou esse número em 3 milhões.
Em Paris, onde as manifestações geralmente são pacíficas, cerca de 120 mil protestaram.
Houve confrontos entre policiais e indivíduos mascarados, que quebraram vitrines, vandalizaram o mobiliário urbanos e atacaram um restaurante da rede McDonald's na capital francesa, informou a agência de notícias Reuters.
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A polícia disparou gás lacrimogêneo contra os manifestantes, e cerca de 80 pessoas foram presas em todo o país.
Em Bordeaux, no sudoeste do país, o fogo atingiu o portão principal da Prefeitura após um dia de protestos e confrontos. O fogo foi rapidamente apagado pelos bombeiros.
Também houve uma série de greves de trabalhadores dos setores de transporte, lixo, educação e outros em todo o país.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, tuitou: "Expressar discordância é um direito. A violência e a depredação que testemunhamos hoje são inaceitáveis. Todos os meus agradecimentos à polícia e às forças de resgate mobilizadas".
Na sexta-feira (24/3), foi anunciado que a visita de Estado do rei Charles 3º à França, que começaria no domingo (26/3), foi adiada.
Explicamos a seguir no que consiste a reforma previdenciária e por que ela é tão polêmica.
O que significa a nova reforma?
O principal objetivo da nova lei previdenciária é aumentar gradualmente a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030.
O aumento ocorrerá com base em incrementos de três meses por ano, a partir de setembro de 2023.
A última vez que a idade de aposentadoria na França foi alterada foi em 2010, antes da qual era de 60 anos.
A reforma também adianta para 2027 a exigência de contribuir 43 anos para obter uma pensão e não 42 anos como acontecia até agora.
Além disso, a nova lei elimina os privilégios de aposentadoria de alguns funcionários do setor público, como os trabalhadores do metrô de Paris.
A resistência à nova lei tornou-se ainda mais forte depois que o governo forçou em 16 de março sua aprovação contornando a Assembleia Nacional - a câmara baixa do Parlamento - onde não tem maioria absoluta.
Por que Macron está decidido a implementar a nova lei?
A reforma previdenciária foi uma das principais propostas de Macron durante sua campanha para as eleições presidenciais de 2022.
Os protestos e greves iniciados em janeiro não fizeram o presidente recuar. Nesta semana, ele sobreviveu a duas moções de desconfiança e defendeu a reforma em entrevista à televisão.
"Esta reforma é necessária", disse Macron, salientando que a sua implementação ocorrerá até ao final de 2023.
O presidente diz que a reforma da previdência é uma forma "impopular, mas necessária" de garantir o futuro do sistema previdenciário do país.
Segundo o presidente, a medida é crucial para evitar o colapso do generoso sistema previdenciário da França e para garantir que os cidadãos mais jovens não assumam o ônus de financiar as gerações mais velhas.
Macron diz que se trata de "economizar e prevenir déficits" nas próximas décadas.
Mas os oponentes argumentam que a medida afetará desproporcionalmente os trabalhadores braçais, que têm maior probabilidade de começar a trabalhar em uma idade mais jovem e ter empregos fisicamente mais exigentes do que executivos e profissionais autônomos.
Alguma das partes vai ceder?
O governo sobreviveu a duas moções de desconfiança nesta semana. Agora, será preciso ver se a determinação de Macron superará a capacidade de pressão dos sindicatos nas ruas.
As pesquisas mostram que mais de dois terços dos cidadãos se opõem à reforma previdenciária.
E de acordo com a emissora France 24, "a grande maioria dos franceses também expressou seu apoio às greves que interromperam as aulas, o transporte público e a coleta de lixo".
Os líderes sindicais, que desde janeiro prometeram fazer greves e protestos contra a lei, classificaram os comentários de Macron em defesa da reforma como "desprezíveis".
"O presidente da República zombou de nós", disse Marie Buisson, umas das lideranças da CGT, à rádio France Info.
Ela acrescentou que os sindicatos estão "determinados" a continuar protestando. "Como (a lei) foi aprovada pela força, há indignação", disse. "Nosso objetivo é que o máximo de pessoas parem de trabalhar."
Greves generalizadas na quinta-feira levaram a grandes interrupções de transporte em estradas e trens e cancelamentos de voos.
Os sindicatos convocaram novos protestos para a próxima terça-feira (28/3).
Macron enfrenta um enorme desafio. Seu projeto principal foi aprovado, mas com alto custo político e a insatisfação da maioria dos cidadãos.
- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyrp5e86j1xo
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