O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na terça-feira (21/3) que o plano de paz da China para a Ucrânia pode ser usado como base para acabar com a guerra. Mas Putin afirmou que o plano só pode ser seguido quando "o Ocidente e Kiev estiverem prontos para isso".
O líder russo encontrou-se com o presidente chinês, Xi Jinping, em Moscou para discutir o conflito na Ucrânia e as relações bilaterais entre China e Rússia.
O plano proposto pela China, publicado no mês passado, não exige explicitamente que a Rússia deixe a Ucrânia.
O plano tem 12 pontos e sugere negociações de paz e respeito à soberania nacional — mas não contém propostas específicas.
A Ucrânia insiste que a Rússia se retire de seu território como condição para qualquer conversa — e não há sinal de que a Rússia esteja pronta para fazer isso.
Nesta quarta-feira (22/3), as autoridades apoiadas por Moscou na Crimeia anexada disseram que um ataque de três drones aquáticos à Frota do Mar Negro na Baía de Sebastopol foi repelido sem danos à frota. O relatório não pôde ser confirmado de forma independente.
Na segunda-feira (21/3), explosões em outra parte da Crimeia teriam destruído mísseis russos transportados por ferrovias, segundo autoridades da Ucrânia.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na segunda-feira que estabelecer um cessar-fogo antes da retirada da Rússia seria aceitar a conquista russa na prática.
Em uma coletiva de imprensa conjunta após o término das negociações com Xi, na terça-feira, Putin disse: "Muitos pontos do plano de paz chinês podem ser tomados como base para resolver o conflito na Ucrânia, assim que o Ocidente e Kiev estiverem prontos para isso".
Mas Putin diz que ainda não viu essa "disposição" do outro lado.
Ao lado do líder russo, Xi disse que seu governo é a favor da paz e do diálogo e que a China está do "lado certo da história".
Ele novamente afirmou que a China tinha uma "posição imparcial" sobre o conflito na Ucrânia, buscando colocar Pequim como possível agente de negociação de paz.
Putin e Xi também discutiram comércio, energia e laços políticos entre as suas duas nações.
"A China é o principal parceiro de comércio exterior da Rússia", disse o presidente Putin, prometendo manter e superar o "alto nível" de comércio alcançado no ano passado. Xi deixou a Rússia nesta quarta-feira.
No passado, Xi já disse que China e Rússia são "grandes potências vizinhas e parceiros estratégicos".
De acordo com a imprensa estatal russa, os dois líderes também:
- Assinaram dois documentos conjuntos — um detalhando planos para cooperação econômica e outro sobre planos para aprofundar a parceria Rússia-China
- Chegaram a um acordo sobre um gasoduto planejado na Sibéria para fornecer gás russo à China via Mongólia
- Concordaram que "nunca deve ser feita" uma guerra nuclear
- Discutiram sua preocupação com o novo pacto Aukus — um acordo de defesa entre a Austrália, o Reino Unido e os EUA
- Expressaram preocupação com a crescente presença da aliança militar Otan na Ásia em "questões militares e de segurança"
Há preocupações crescentes no Ocidente de que a China possa fornecer apoio militar à Rússia.
Em Bruxelas, o diretor da Otan, Jens Stoltenberg, disse que sua aliança "não viu nenhuma prova de que a China está entregando armas letais à Rússia".
Mas ele acrescentou que há "sinais" de que a Rússia solicitou armas e que o pedido está sendo considerado em Pequim.
Uma declaração conjunta divulgada pela China e pela Rússia após a reunião entre os dois líderes disse que a estreita parceria entre os dois países não constitui uma "aliança político-militar".
As relações "não constituem um bloco, não têm um carácter conflituoso e não são dirigidas contra terceiros países", acrescentaram.
Putin também aproveitou a coletiva de imprensa para acusar o Ocidente de usar armas com um "componente nuclear" e disse que a Rússia seria "forçada a reagir" se o Reino Unido enviasse projéteis feitos com urânio empobrecido para a Ucrânia.
O Ministério da Defesa do Reino Unido disse que o urânio empobrecido é um "componente padrão" que "não tem nada a ver com armas nucleares".
Xi foi recebido com grandes honrarias ao chegar ao Kremlin para um segundo dia de negociações na terça-feira.
Ele disse estar "muito feliz" por estar em Moscou e descreveu as conversas com o presidente Putin como "francas, abertas e amigáveis".
Sua visita à Rússia ocorreu dias depois que o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra Putin por acusações de crimes de guerra.
A visita de Estado aconteceu quase ao mesmo tempo da viagem surpresa do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, a Kiev — tornando-o o primeiro líder do Japão a visitar um país em conflito desde a Segunda Guerra Mundial.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse a Kishida que participará da cúpula do G7 no Japão em maio por meio de um link de vídeo.
Ele disse em entrevista coletiva nesta terça-feira que também pediu à China que se envolvesse nas negociações, mas estava esperando uma resposta.
"Oferecemos à China para se tornar um parceiro na implementação da fórmula da paz", disse ele. "Nós convidamos vocês para o diálogo, estamos aguardando sua resposta."
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