Acredita-se que milhares de pessoas perderam suas economias após investir em um aplicativo de negociação de criptomoedas chamado iEarn Bot.
Especialistas que investigaram a empresa dizem que pode ser um dos maiores escândalos de criptomoedas até hoje.
O investimento em criptomoedas tem ganhado popularidade em meio a promessas de grandes retornos em curtos períodos.
Mas autoridades alertam para um número crescente de golpes e recomendam que os investidores sejam cuidadosos.
O app, disponível nos sistemas Android e iOS, tem um site com versões em vários idiomas, incluindo português.
'O dinheiro simplesmente sumiu'
Roxana, nome fictício, é da Romênia. Ela diz que perdeu centenas de euros quando investiu no iEarn Bot. Ela pediu para não ter sua identidade revelada, pois teme que sua reputação profissional possa ser prejudicada.
Os clientes que compraram os bots — como Roxana — foram informados de que seu investimento seria administrado pelo programa de inteligência artificial da empresa, com a garantia de retornos altos.
"Investi em um bot por um mês", diz Roxana à BBC. "Era possível ver quantos dólares o aplicativo estava gerando: havia gráficos mostrando como o investimento estava progredindo".
"Parecia bastante profissional até que, em algum momento, eles anunciaram estar em manutenção."
Nesse ponto, por algum tempo, os saques do aplicativo foram congelados.
"Algumas pessoas começaram a dizer 'não posso desistir... o que está acontecendo'", explica Roxana. "Fiz o pedido de saque e o dinheiro simplesmente sumiu. A carteira ficou zerada — nunca recebi um tostão sequer."
Na Romênia, dezenas de figuras importantes, incluindo funcionários do governo e acadêmicos, foram persuadidos a investir por meio do aplicativo porque ele contava com o respaldo de Gabriel Garais, um dos principais especialistas em TI do país.
Garais diz que também foi enganado ao investir suas próprias economias no aplicativo e perdeu seu dinheiro.
Mas Roxana insiste que, se não fosse por Garais, jamais teria pensado em investir.
"Acreditávamos que isso poderia ser uma farsa", diz ela, "mas o fato de que, entre nós e a empresa, havia um professor respeitável, fez com que não checássemos muito — não duvidamos demais."
O que aconteceu na Romênia não é um incidente isolado.
Quando Silvia Tabusca, uma especialista romena em crime organizado do Centro Europeu de Educação e Pesquisa Jurídica, começou a investigar o iEarn Bot, descobriu que muitas pessoas em outros países também haviam perdido suas economias.
E o que mais a surpreendeu foi a escala da operação.
"Pelo que temos visto, o número de investidores é bastante alto", diz ela. "Na Indonésia, por exemplo, eles [iEarn Bot] afirmam ter 800 mil clientes."
"No começo, o aplicativo funciona muito bem", diz Tabusca.
"Mas, assim que eles têm investidores suficientes e dinheiro suficiente investido em um país específico, não permitem mais que usuários desse país façam saques — e passam a investir em outros países."
O iEarn Bot se apresenta como uma empresa sediada nos EUA com excelentes credenciais, mas quando a BBC verificou algumas informações em seu site, descobriu inconsistências.
O homem que o site nomeia como o fundador da empresa nos disse que nunca tinha ouvido falar deles e disse que fez uma denúncia à polícia.
O prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ao lado de empresas como Huawei e Qualcomm, são todos apontados como "parceiros estratégicos" do iEarn Bot, mas também disseram não ter conhecimento da empresa e que não estão trabalhando com ela.
No site, a empresa não fornece nenhuma informação de contato.
Ao checar o histórico de sua página no Facebook, a reportagem da BBC constatou que, até o final de 2021, a conta anunciava produtos para perda de peso. Ela é administrada a partir do Vietnã e do Camboja.
O iEarn Bot encoraja investidores a recrutar mais pessoas para ingressar no aplicativo.
"A maneira como as pessoas operam nesta empresa é mais semelhante a um esquema Ponzi (pirâmide financeira) do que a um negócio real", diz Tabusca.
A reportagem da BBC também viu conversas de bate-papo em que pessoas, que afirmam ser do atendimento ao cliente do iEarn Bot, disseram aos investidores que, para sacar seu dinheiro, eles deveriam pagar uma taxa de 30%.
"Algumas pessoas estavam desesperadas para receber seu dinheiro de volta, então pagaram a taxa — mas ainda assim não conseguiram sacar", diz Tabusca.
A reportagem da BBC tentou entrar em contato com o iEarn Bot várias vezes, sem sucesso.
Eventos de recrutamento
Em alguns países, como Nigéria e Colômbia, usuários nomeados como "líderes locais" foram pressionados pelos mentores do iEarn Bot — com quem eles só se comunicavam pelo Telegram — para organizar eventos de recrutamento.
Andres, da Colômbia, disse que recrutou ativamente pessoas para aderir ao aplicativo. Ele ainda acredita que a empresa é legítima.
"Eles tinham seu registro nos EUA que mostrava que eram legítimos", diz ele. "E eles estavam pagando."
Em seu país, os saques foram interrompidos em dezembro. As pessoas foram informadas de que a empresa estava transformando o investimento em USDT — uma criptomoeda bem estabelecida — em uma nova moeda chamada iBot, que tinha o mesmo valor.
Os investidores foram solicitados a aguardar até março, quando a nova moeda deveria ser lançada oficialmente. Mas ainda estão esperando para acessar seu dinheiro.
"[As pessoas] pegaram empréstimos para investir. Usaram dinheiro de outras fontes, muitas pessoas foram afetadas", diz Andrés.
"Como os líderes locais não tinham respostas, as pessoas começaram a ficar com raiva."
Com a ajuda de um analista, a reportagem da BBC conseguiu identificar uma carteira cripto principal que recebeu pagamentos de cerca de 13 mil vítimas em potencial, obtendo um lucro de quase US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 7 milhões) em menos de um ano.
Mas não foi possível rastrear para onde e para quem foi o dinheiro.
Para os investigadores, este é um problema comum.
"Um dos desafios é identificar e atribuir quem é o agente ilícito, para onde está indo o valor e, então, ser capaz de tomar medidas investigativas e ações de aplicação da lei", diz John Wyman, chefe da nova Unidade de Ativos Virtuais do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.
As investigações nesse tipo de esquema, diz ele, se tornam globais rapidamente.
Tais investigações requerem cooperação internacional e podem levar mais tempo, mas Wyman insiste que os responsáveis sejam eventualmente levados à justiça.
O FBI criou a Unidade de Ativos Virtuais no ano passado para responder ao crescente número de crimes usando criptomoedas.
O departamento solicita às pessoas que foram vítimas de golpes a fazer uma reclamação online.
Mas as agências de aplicação da lei afirmam que a melhor maneira de combater os golpistas continua sendo a prevenção.
"O conhecimento — e a devida diligência antes do investimento — é fundamental", diz Wyman.
"Se parece bom demais para ser verdade, duvide."
Saiba Mais
- Economia Discussão sobre novo arcabouço fiscal se estende por mais uma semana
- Esportes Conheça Erick Maia, o candango que é protagonista da arte marcial no país
- Economia Emendas parlamentares são poupadas de nova âncora estudada por governo
- Diversão e Arte Christina Rocha comove a web ao anunciar fim do ‘Casos de Família’
- Diversão e Arte Marrone surpreende e revela que sexo melhorou após plásticas
- Diversão e Arte BBB 23: "Di Ferrero aguçou um lado bissexual meu", diz Fred
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.