O Ministério da Defesa da Rússia alertou, ontem, que Moscou responderá "proporcionalmente" às futuras "provocações dos Estados Unidos". "A Rússia não está interessada em tais eventos, mas continuará respondendo proporcionalmente a todas as provocações", indicou o comunicado. A advertência representa um elemento a mais na escalada de tensões desde a manhã de terça-feira, quando um caça russo Sukhoi Su-27 atingiu a hélice de um drone norte-americano MQ-9 Reaper sobre o Mar Negro. A manobra forçou os EUA a derrubarem a própria aeronave não tripulada.
Ao mesmo tempo, o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, garantiu que os aviões de seu país voarão "onde o direito internacional permitir". Pouco depois de conversar por telefone com o homólogo russo, Sergei Shogu, o chefe do Pentágono instou a Rússia a agir com precaução. Os EUA classificaram o incidente russo de "imprudente" e "pouco profissional". Por sua vez, o governo de Vladimir Putin denunciou "voos hostis" dos norte-americanos na região. O Kremlin anunciou que pretende resgatar os destroços do MQ-9 Reaper. "Não sei se conseguiremos recuperá-lo, mas temos que tentar e vamos trabalhar nisso", declarou o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev.
A iniciativa de Moscou não foi bem recebida pelos EUA. "Obviamente, não queremos ver ninguém colocando as mãos nele (drone), além de nós. Tomamos medidas para proteger nossos interesses", advertiu John Kirby, porta-voz da Segurança Interna da Casa Branca. Horas depois de ser sabatinado pelo Departamento de Estado norte-americano, Anatoli Antonov, embaixador da Rússia em Washington, classificou como "hostis" os voos dos EUA. "Nós presumimos que os Estados Unidos se abstenham de mais especulações na mídia e interrompam os voos perto das fronteiras russas. Nós consideramos qualquer ação com o uso de armamento dos Estados Unidos como abertamente hostil", escreveu o diplomata no Telegram.
A Ucrânia acusou Putin de pretender "ampliar" a guerra para outras regiões. "O incidente com o drone americano MQ-9 Reaper provocado pela Rússia no Mar Negro é um sinal de Putin de que está disposto a expandir a zona de conflito e envolver outras partes", afirmou no Twitter o secretário do Conselho de Segurança ucraniano, Oleksii Danilov. As forças russas mantêm os bombardeios a Donetsk, território a leste da Ucrânia, o qual Moscou anunciou a anexação, em setembro passado.
Diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev), Peter Zalmayev acredita que a Rússia tenta escalar a tensão para justificar as perdas no front e o insucesso na Ucrânia. "A intenção de Moscou é afirmar que a luta é contra os países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e os Estados Unidos. Isso é parte de uma mensagem que Putin tenta vender aos cidadãos russos. Ele diz: 'Olhem, nós temos esses inimigos poderosos. Isso é uma batalha existencial pelo futuro e pela sobrevivência do Estado russo'", afirmou ao Correio.
Zalmayev lembra que Putin fracassou em sua chantagem nuclear. "O que ele diz tem o propósito de ser usado como propaganda", comentou. De acordo com o ucraniano, os EUA não desejam ser vistos como fracos. "Houve uma ocasião em que um míssil russo caiu em território polonês. O artigo 5 do Tratado da Otan poderia ter sido evocado, o que levaria a uma guerra com a Rússia. Os EUA tentam se distanciar por entenderem que não podem entrar em confronto militar direto com uma potência nuclear", acrescentou o especialista.
Para Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (em Kiev), os Estados Unidos, e em menor grau os países europeus, ainda percebem a Rússia como uma superpotência. "Embora isso seja parcialmente verdade por causa das armas nucleares, desde o início da invasão em larga escala, a Rússia provou a ineficiência de seu exécito, perdeu chantagens energéticas na União Europeia e aprofundou seu isolamento político-econômico do mundo civilizado", disse à reportagem.
Suslov sublinhou que a influência de Moscou diminuiu consideravelmente. "Apesar disso, os EUA continuam tratando a Rússia como um importante ator internacional, tentando não provocar um conflito direto entre os russos e a Otan e poupando o mínimo de espaço, para negociações futuras", afirmou. De acordo com ele, é por esse motivo que Washington tem adotado cautela extrema na escolha de armamentos a serem enviados para a Ucrânia. "O drone, definitivamente, não é algo digno de confronto entre a Otan e a Rússia."
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Caças da Alemanha e da Rússia interceptam aviões russos
Dois caças Typhoon — da Força Aérea Real (Reino Unido) e da Força Aérea da Alemanha — interceptaram, na terça-feira, um avião-tanque de reabastecimento aéreo russo Ilyushin Il-78 Midas, que sobrevoava perto do espaço aéreo da Estônia, país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Pouco depois, as duas aeronaves foram encarregdas de interceptar um avião de transporte militar russo Antonov 148.
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