ARQUITETURA

Prefeitura de Lisboa pode buscar financiamento para obra de Niemeyer

Prefeito da capital portuguesa afirma que gostaria muito de ter um empreendimento desenhado pelo brasileiro na cidade. Mas, neste momento, não há verbas públicas para tocar projeto avaliado em até 15 milhões de euros (R$ 84 milhões)

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 09/03/2023 11:29 / atualizado em 09/03/2023 11:30
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Lisboa, Portugal — A prefeitura de Lisboa pode buscar fontes de financiamento privado para retomar um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer que está engavetado há duas décadas. Segundo o prefeito da cidade, Carlos Moedas, não há, neste momento, recursos públicos para tocar as obras, avaliadas em até 15 milhões de euros (R$ 84 milhões). "Gosto muito do projeto, mas, neste momento, não temos orçamento, temos que encontrar financiamento", disse, ao ser questionado pelo Correio. "Tenho muito respeito pelo arquiteto Oscar Niemeyer, um grande homem, e gostaria muito, sem dúvida, de ter um projeto dele em Lisboa", acrescentou.

O empreendimento foi projetado por Oscar Niemeyer em 1991 para ser a sede da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento. Com aproximadamente 16 mil metros quadrados, a obra ficaria na Quinta dos Alfinetes, no bairro de Chelas. A proposta atual, porém, prevê que a construção fique no bairro de Olaias, uma das áreas mais degradadas da capital portuguesa. Defensores do projeto alegam que, funcionando, por exemplo, como centro cultural, o local terá força suficiente para incrementar a revitalização da região.

Moedas lembrou que o projeto de Niemeyer lhe foi apresentado pelo neto do arquiteto, Paulo, em outubro do ano passado, quando ele passou por Lisboa. "Ele me apresentou a proposta, que é bastante antiga. Fiquei de ver com a Câmara Municipal exatamente o que poderíamos desenvolver. Mas o valor era muito alto", reforçou. Hoje, os recursos da prefeitura estão sendo destinados, principalmente, para resolver questões de habitação na cidade — há pelo menos 3 mil lisboestas sem ter onde morar — e para preparar Lisboa para enfrentar as intempéries provocadas pelas mudanças climáticas. No início deste ano, chuvas torrenciais deixaram a cidade completamente alagada, com mortes e enormes perdas materiais

Histórico

A fundação para a qual Niemeyer fez o projeto chegou a dar início às obras, mas pouco se avançou. Em 1999, o empreendimento foi abandonado e, atualmente, se resume a escombros. Os terrenos escolhidos para abrigar o prédio foram retomados pela Prefeitura de Lisboa, que assumiu prejuízos em torno de 750 mil euros (R$ 4,2 milhões, a valores de hoje). Uma das promessas de retomada do projeto foi feita em 2010 por António Costa, então prefeito da capital portuguesa e atual primeiro-ministro da Portugal. Mas nada avançou.

Pela proposta original, o empreendimento previa um prédio com salas para trabalho, um centro de exposição e eventos, um teatro para 400 pessoas, lojas, restaurantes, um terraço e uma praça, além de estacionamento ao fundo. Se retomado, é possível que haja alguns ajustes, a depender das negociações entre o Instituto Niemeyer, a Prefeitura de Lisboa e os possíveis financiadores.

Especialista nas obras do arquiteto brasileiro, o professor Carlos Oliveira Santos, doutor em Ciências Políticas pela Universidade Nova de Lisboa e autor do livro Um Niemeyer é sempre um Niemeyer, afirmou que há chances de o empreendimento, enfim, se tornar realidade. Para ele, está provado que, além da riqueza da arquitetura do brasileiro, autor de obras de arte como Brasília, há o ganho econômico, por movimentar o turismo.

"Oxalá essa obra se concretize porque todos sabem que um Niemeyer é uma garantia de renovação de áreas urbanas e de atração de uma nova vida criativa e salutar para as cidades", ressaltou Oliveira. Ele lembrou que, se sair do papel, este será o primeiro empreendimento de Niemeyer no que se define como Portugal continental, pois há um conjunto de três edifícios, com hotel, casino e auditório em Funchal, na Ilha da Madeira, cujo projeto foi desenvolvido pelo arquiteto em 1966, quando ele estava exilado em Paris. "Ter um Niemeyer, dar-lhe vida cultural e social é, sem dúvida, uma importante riqueza humana", assinalou.

O especialista ressaltou que um projeto de Niemeyer, como se provou inúmeras vezes, especialmente em Niterói (Rio de Janeiro) e em Avilés (Astúrias, Espanha), representa um urbanismo renovado. Ele chamou a atenção para obras que continuaram sendo executadas mesmo depois da morte do arquiteto, há 10 anos. Um dos exemplos mais marcantes é um restaurante em Leipzig, Alemanha, construído num galpão industrial. Outro é um pavilhão dentro de uma vinícola encravada na cidade francesa de Aix-en-Provence. Esse foi o último projeto desenhado pelo brasileiro antes de morrer.

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