Lisboa, Portugal — A prefeitura de Lisboa pode buscar fontes de financiamento privado para retomar um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer que está engavetado há duas décadas. Segundo o prefeito da cidade, Carlos Moedas, não há, neste momento, recursos públicos para tocar as obras, avaliadas em até 15 milhões de euros (R$ 84 milhões). "Gosto muito do projeto, mas, neste momento, não temos orçamento, temos que encontrar financiamento", disse, ao ser questionado pelo Correio. "Tenho muito respeito pelo arquiteto Oscar Niemeyer, um grande homem, e gostaria muito, sem dúvida, de ter um projeto dele em Lisboa", acrescentou.
O empreendimento foi projetado por Oscar Niemeyer em 1991 para ser a sede da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento. Com aproximadamente 16 mil metros quadrados, a obra ficaria na Quinta dos Alfinetes, no bairro de Chelas. A proposta atual, porém, prevê que a construção fique no bairro de Olaias, uma das áreas mais degradadas da capital portuguesa. Defensores do projeto alegam que, funcionando, por exemplo, como centro cultural, o local terá força suficiente para incrementar a revitalização da região.
Moedas lembrou que o projeto de Niemeyer lhe foi apresentado pelo neto do arquiteto, Paulo, em outubro do ano passado, quando ele passou por Lisboa. "Ele me apresentou a proposta, que é bastante antiga. Fiquei de ver com a Câmara Municipal exatamente o que poderíamos desenvolver. Mas o valor era muito alto", reforçou. Hoje, os recursos da prefeitura estão sendo destinados, principalmente, para resolver questões de habitação na cidade — há pelo menos 3 mil lisboestas sem ter onde morar — e para preparar Lisboa para enfrentar as intempéries provocadas pelas mudanças climáticas. No início deste ano, chuvas torrenciais deixaram a cidade completamente alagada, com mortes e enormes perdas materiais
Histórico
A fundação para a qual Niemeyer fez o projeto chegou a dar início às obras, mas pouco se avançou. Em 1999, o empreendimento foi abandonado e, atualmente, se resume a escombros. Os terrenos escolhidos para abrigar o prédio foram retomados pela Prefeitura de Lisboa, que assumiu prejuízos em torno de 750 mil euros (R$ 4,2 milhões, a valores de hoje). Uma das promessas de retomada do projeto foi feita em 2010 por António Costa, então prefeito da capital portuguesa e atual primeiro-ministro da Portugal. Mas nada avançou.
Pela proposta original, o empreendimento previa um prédio com salas para trabalho, um centro de exposição e eventos, um teatro para 400 pessoas, lojas, restaurantes, um terraço e uma praça, além de estacionamento ao fundo. Se retomado, é possível que haja alguns ajustes, a depender das negociações entre o Instituto Niemeyer, a Prefeitura de Lisboa e os possíveis financiadores.
Especialista nas obras do arquiteto brasileiro, o professor Carlos Oliveira Santos, doutor em Ciências Políticas pela Universidade Nova de Lisboa e autor do livro Um Niemeyer é sempre um Niemeyer, afirmou que há chances de o empreendimento, enfim, se tornar realidade. Para ele, está provado que, além da riqueza da arquitetura do brasileiro, autor de obras de arte como Brasília, há o ganho econômico, por movimentar o turismo.
"Oxalá essa obra se concretize porque todos sabem que um Niemeyer é uma garantia de renovação de áreas urbanas e de atração de uma nova vida criativa e salutar para as cidades", ressaltou Oliveira. Ele lembrou que, se sair do papel, este será o primeiro empreendimento de Niemeyer no que se define como Portugal continental, pois há um conjunto de três edifícios, com hotel, casino e auditório em Funchal, na Ilha da Madeira, cujo projeto foi desenvolvido pelo arquiteto em 1966, quando ele estava exilado em Paris. "Ter um Niemeyer, dar-lhe vida cultural e social é, sem dúvida, uma importante riqueza humana", assinalou.
O especialista ressaltou que um projeto de Niemeyer, como se provou inúmeras vezes, especialmente em Niterói (Rio de Janeiro) e em Avilés (Astúrias, Espanha), representa um urbanismo renovado. Ele chamou a atenção para obras que continuaram sendo executadas mesmo depois da morte do arquiteto, há 10 anos. Um dos exemplos mais marcantes é um restaurante em Leipzig, Alemanha, construído num galpão industrial. Outro é um pavilhão dentro de uma vinícola encravada na cidade francesa de Aix-en-Provence. Esse foi o último projeto desenhado pelo brasileiro antes de morrer.
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