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Após Brexit, Reino Unido e UE anunciam 'novo capítulo' de relações bilaterais

Após reunião em Windsor, premiê britânico e presidente da Comissão Europeia anunciam novo pacto sobre controles comerciais na Irlanda do Norte, controverso ponto pendente do Brexit. Acordo, que ainda tem questões sensíveis, precisa da aprovação do Parlamento

Passados três anos do Brexit, Reino Unido e a União Europeia (UE) anunciaram, ontem, o início de "um novo capítulo" em suas relações bilaterais, após chegarem a um acordo sobre os controles comerciais na Irlanda do Norte. Foram vários meses de longas e tensas negociações até que Londres e Bruxelas conseguissem chegar a um denominador comum em torno da questão aduaneira, o último e principal ponto de discordância em torno da saída dos britânicos do bloco europeu.

"É o começo de um novo capítulo em nossas relações", disse o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. "O Reino Unido e a União Europeia tiveram suas diferenças no passado, mas somos aliados, parceiros comerciais e amigos", assinalou, ao fim da reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Windsor, no oeste de Londres.

Von der Leyen ressaltou o fato "histórico" e também garantiu um novo ponto de partida nas relações entre Bruxelas e Londres. Ainda em Windsor, ela foi recebida pelo rei Charles III.

De acordo com Sunak, o acerto facilita significativamente a alfândega estabelecida no Mar da Irlanda para proteger o mercado único europeu na província britânica após o Brexit. Com o novo pacto, apenas as mercadorias com destino à República da Irlanda, ou seja, ao mercado único da UE, estarão sujeitas a controles. Já os artigos destinados à Irlanda do Norte têm passagem livre. "A complexa burocracia alfandegária será abolida", prometeu o premiê britânico.

Polêmica

O acordo modifica o protocolo para a Irlanda do Norte, assinado em janeiro de 2020, à época da formalização do divórcio entre o Reino Unido e o bloco europeu. Até então, o texto mantinha a província britânica da Irlanda do Norte como parte do mercado único europeu de mercadorias e previa controles alfandegários sobre produtos vindos do Reino Unido. O objetivo principal era evitar uma fronteira terrestre "dura" entre a província britânica e a República da Irlanda.

O protocolo também foi considerado um passo essencial para a estabilização na Irlanda do Norte, ainda marcada por três décadas de conflito armado, desde o acordo de paz assinado em 1998.

Contudo, o texto gerou tensões entre os unionistas, contrários aos controles alfandegários no Mar da Irlanda e rejeitam qualquer medida que questione a presença da Irlanda do Norte no Reino Unido. O governo britânico chegou a ameaçar uma reforma unilateral do protocolo, o que esfriou as relações e ameaçou uma guerra comercial.

O premiê britânico deve agora "vender" o acordo aos unionistas da Irlanda do Norte e aos membros do Partido Conservador que foram favoráveis à saída do bloco econômico. Pelo pactuado, há pontos a serem implementados gradualmente ao longo de 2023 e 2024.

"Não tenho dúvidas que recuperamos o controle", disse Sunak no Parlamento. "Cumprimos com o que o povo da Irlanda do Norte pediu, eliminamos a fronteira no mar da Irlanda", asseverou. Sunak prometeu que o novo acordo será submetido à votação no Parlamento "no momento certo e o resultado será respeitado".

Para responder às preocupações dos sindicalistas, explicou o premiê, o Parlamento local terá um "freio de emergência". Se ativado, "o governo britânico terá o direito de veto", acrescentou.

Um dos temas mais complexos consiste em o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) manter seu papel na administração do acordo. "O TJUE terá a última palavra em questões relativas ao mercado único (europeu) e às leis na UE", declarou Von der Leyen.

Em uma rede social, Jeffrey Donaldson, líder do Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês), afirmou que a legenda "tomará o tempo que for necessário para estudar os detalhes e avaliar o acordo". Ele acrescentou que, embora tenha visto "avanços significativos" em vários pontos, há questões que inspiram "preocupação", como o papel do Tribunal de Justiça da UE.

Os unionistas rejeitam qualquer aplicação de fato da legislação europeia na província britânica e bloqueiam há um ano o funcionamento do Executivo local.

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