Jornal Correio Braziliense

GUERRA NO LESTE EUROPEU

Putin considera mediação de Lula para eventual fim da guerra da Ucrânia

Vice-chanceler russo enaltece neutralidade do presidente brasileiro e a forma com que enfrenta as pressões dos EUA para se alinhar em defesa da Ucrânia. ONU aprova resolução exigindo retirada das tropas de Putin e o fim do conflito, que completa um ano hoje

Repúdio

Apesar dessa neutralidade, o Brasil foi um dos 141 países a endossar, ontem, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), uma resolução exigindo a "imediata retirada" das tropas russas da Ucrânia. Foram sete votos contra — além da própria Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Nicarágua, Mali e Síria se opuseram.

Houve ainda 32 abstenções, entre elas, da Índia e da China, que prepara uma "solução política" para o conflito, com chances de ser divulgada ainda hoje. Na quinta-feira, Putin recebeu o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, no Kremlin. Não foram divulgados publicamente detalhes do plano, em relação ao qual Kiev já manifestou interesse em conhecer.

"A Ucrânia vencerá!", proclamou seu presidente, Volodymyr Zelensky, antes do resultado da votação no Conselho de Segurança. "Nós não quebramos, nós superamos muitas provações e vamos triunfar. Vamos responsabilizar todos aqueles que trouxeram esse mal, esta guerra, para nossa terra", afirmou o líder ucraniano.

Na resolução, o fórum da ONU reiterou o "compromisso" com a "integridade territorial" da Ucrânia. "É uma maioria esmagadora da comunidade internacional e isso confirma o alto nível do apoio à Ucrânia como vítima da agressão russa", afirmou o alto representante de Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, lamentando que a "Rússia tenha tentado durante toda a semana distrair e perturbar o trabalho das Nações Unidas com manobras". "Mas, novamente, falhou", assinalou.

"É muito mais do que somente o Ocidente", frisou, por sua vez, o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba, lembrando que muitos países latino-americanos, africanos e asiáticos votaram a favor de Kiev. Desde a véspera, representantes de dezenas de países desfilaram na tribuna da ONU para apoiar a Ucrânia. Kuleba, em sua fala, exortou o mundo no dia anterior a escolher "entre o bem e o mal".

Fim das hostilidades

O texto, que não é vinculante, também pede a "cessação das hostilidades" e "enfatiza a necessidade de se alcançar uma paz geral, justa e duradoura na Ucrânia o mais rápido possível, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas".

"O elemento mais importante da resolução é o apelo à comunidade internacional para redobrar seus esforços diplomáticos para alcançar uma paz justa e duradoura na Ucrânia", opinou o embaixador Ronaldo Costa Filho, representante do Brasil na ONU, explicando seu voto a favor da resolução.

A resolução votada ontem foi a quarta aprovada pela Assembleia Geral desde a invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado. As três anteriores receberam entre 140 e 143 votos a favor, com cinco países sistematicamente contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e menos de 40 abstenções.

Antes de iniciar a votação, a Assembleia rejeitou várias emendas apresentadas por Belarus, aliado de Moscou, que pediam "o início imediato das negociações de paz", e a remoção de referências a uma agressão russa de retirada das forças de Moscou. Também cobravam que os Estados-membros "se abstenham de enviar armas para a zona de conflito".

O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, argumentou que o Ocidente está tentando "infligir uma derrota à Rússia", mesmo ao preço de "arrastar o mundo inteiro para o abismo da guerra". Hoje, o Conselho de Segurança marcará o aniversário da invasão com uma reunião ministerial na presença, entre outros, do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken.

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