Jornal Correio Braziliense

GUERRA NO LESTE EUROPEU

Para embasar denúncia contra Rússia, EUA dizem que há provas de tortura e estupro na guerra

Pela primeira vez desde a invasão à Ucrânia, Washington denuncia formalmente a Rússia em um fórum internacional. A vice-presidente americana, Kamala Harris, afirma que há provas de execuções sumárias, tortura e estupro cometidos pelas forças de Vladimir Putin

Em discurso a líderes mundiais presentes na Conferência de Segurança em Munique, no sul da Alemanha, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, acusou a Rússia de cometer "crimes contra a humanidade" na Ucrânia. Segundo ela, há provas efetivas de que as forças enviadas por Moscou à ex-república soviética realizaram um "ataque generalizado e sistemático" contra a população civil.

"Os Estados Unidos estabeleceram formalmente que a Rússia cometeu crimes contra a humanidade na Ucrânia", afirmou a vice de Joe Biden. "Examinamos as provas, conhecemos as normas legais e não há dúvida de que se trata de crimes contra a humanidade", reforçou.

Essa é a primeira vez que Washington denominou formalmente a Rússia como um país que cometeu crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Ucrânia desde que as tropas de Vladimir Putin invadiram o vizinho, em 24 de fevereiro passado.

Harris citou casos de execuções sumárias, tortura e estupro pelas forças russas na Ucrânia. Além disso, ressaltou a "transferência de centenas de milhares de civis ucranianos" para o território russo. "Afirmo a todos os que perpetraram esses crimes e a seus superiores ou cúmplices: vocês responderão", acrescentou.

Arquivos

De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, desde o início do conflito o governo de Joe Biden documentou ou catalogou mais de 30,6 mil casos de delitos de guerra supostamente cometidos por forças russas na Ucrânia. "Não pode haver impunidade para esses crimes", enfatizou Antony Blinken, chefe da diplomacia dos EUA, por meio de um comunicado.

Ontem, no segundo dos três dias da conferência de Munique, mais vozes pediram um maior apoio militar à Ucrânia. Nos últimos 12 meses, os aliados, liderados pelos Estados Unidos, doaram bilhões de dólares em armas a Kiev, incluindo artilharia e sistemas de defesa aérea, mas o governo Volodymyr Zelensky diz que precisa de mais para que sua contraofensiva tenha sucesso.

"Devemos dar à Ucrânia o que ela precisa para vencer e prevalecer como uma nação soberana e independente na Europa", disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg às autoridades presentes. "O maior risco de todos é que Putin vença. Se Putin vencer na Ucrânia, a mensagem para ele e outros líderes autoritários será que podem usar a força para conseguir o que quiserem", enfatizou o líder da Aliança Atlântica.

Também a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu o aumento do apoio militar à Ucrânia, em áreas como o abastecimento de munições. "Devemos redobrar e continuar com o apoio massivo necessário", disse ela.

Na sexta-feira, num pronunciamento por vídeo durante a abertura da conferência, Zelensky alertou que "não há alternativa à vitória ucraniana", frisando que, do contrário, Putin vai prosseguir as invasões. "Está claro que a Ucrânia não será sua última etapa. Ele vai continuar [sua ofensiva] contra outros Estados do antigo bloco soviético", advertiu.

A conferência de Munique é considerada o principal fórum de discussão internacional sobre segurança. Também participam do evento o presidente francês, Emmanuel Macron; o premiê britânico, Rishi Sunak; o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi; além do chefe do governo alemão, Olaf Scholz, entre outros.

Recentemente, Berlim concordou em entregar tanques pesados de fabricação alemã para a Ucrânia, depois de semanas debatendo se deveria ou não fazê-lo. Com esses blindados, as forças de Kiev poderiam repelir o avanço dos russos.

Entretanto, as negociações subsequentes com os parceiros da Otan ainda não reuniram tropas suficientes para formar um batalhão completo. Nas últimas semanas, Zelensky exigiu aviões de combate dos ocidentais, ideia que, por enquanto, seus interlocutores rejeitaram.

No mês passado, a Alemanha concordou em entregar tanques pesados de fabricação alemã para a Ucrânia, depois de semanas debatendo se deveria ou não fazê-lo. Com esses tanques, as forças ucranianas poderiam repelir o avanço dos russos.

Irã

Numa reunião à margem do fórum, os chefes da diplomacia americana, francesa, alemã e britânica expressaram, ontem, apreensão com a colaboração cada vez mais estreita entre o Irã e a Rússia."Eles discutiram suas preocupações sobre a cooperação militar bilateral entre os dois países e suas implicações para a segurança e estabilidade da região e além", disse o porta-voz de Antony Blinken, em nota. No passado, Kiev e seus aliados ocidentais acusaram Moscou de usar drones de fabricação iraniana em seus ataques à Ucrânia.

No encontro, Blinken, a francesa Catherine Colonna, a alemã Annalena Baerbock e o britânico James Cleverly também reafirmaram sua "solidariedade com o povo iraniano em relação às contínuas violações dos direitos humanos" no país.

Ofensiva em Kharkiv

O exército russo reivindicou, ontem, a captura de Grianykivka, vilarejo na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, onde as tropas estão na ofensiva há várias semanas. Em seguida, os militares rumaram para Kupiansk, distante 20km dali, anunciou o Ministério da Defesa russo em comunicado. Principal cidade dessa área de Kharkiv, Kupiansk foi tomada pelos russos nos primeiros dias da invasão. Após uma contraofensiva relâmpago, Kiev recuperou a localidade. Segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv (foto), próxima à fronteira com Rússia, continua a ser alvo de bombardeios. Na semana passada, sirenes voltaram a soar na cidade.