A capital da Coreia do Sul, Seul, está removendo vagas de estacionamento exclusivas para mulheres 14 anos depois de terem sido introduzidas como uma proteção.
As vagas exclusivas foram criadas em 2009, após uma série de crimes violentos - a maioria delitos sexuais contra mulheres - em estacionamentos subterrâneos.
Mas as autoridades da cidade dizem que esses espaços não são mais necessários e serão convertidos em vagas de estacionamento para famílias.
Os críticos dizem que sua remoção é apenas o exemplo mais recente de políticas antifeministas na Coreia do Sul.
Chung Eun-jung, de 55 anos, diz que usa os espaços femininos sempre que possível.
"Eu me sinto mais segura quando os uso, porque não há tantas pessoas perigosas por perto", afirma ela. "Quando entro no carro, sempre tranco a porta imediatamente".
Ela acrescenta que está bem ciente dos crimes em estacionamentos, frequentemente relatados nos noticiários.
Sua filha diz que está incomodada porque sua mãe se sentirá menos segura.
"É estranho que eles se esforcem para abolir algo que faz as mulheres se sentirem seguras", diz Park Young-seo, de 27 anos.
"Não é como se metade do estacionamento fosse dedicado às mulheres, são apenas algumas vagas", afirma.
Em Seul, que é a maior cidade da Coreia do Sul, os estacionamentos com mais de 30 vagas foram obrigados em 2009 a alocar 10% para mulheres - pouco menos de 2 mil das 16.640 vagas de estacionamento público são reservadas para mulheres.
As vagas ficam perto das entradas dos prédios para que as mulheres não tenham que andar pelo subsolo no escuro.
Dados do governo em 2021 mostraram que mais de dois terços dos crimes violentos cometidos nos estacionamentos da cidade foram crimes sexuais: estupro, agressão sexual e assédio.
Antifeminismo
O prefeito de Seul, Oh Se-hoon, que introduziu os espaços somente para mulheres, está revertendo sua própria política. Ele disse que é hora de "considerar as famílias".
As novas vagas familiares serão disponibilizadas para gestantes ou pessoas que viajam com crianças. O conselho da cidade confirmou que as mulheres que não atendessem a esses critérios não teriam permissão para usá-los.
Tal movimento alimenta o que os críticos dizem ser uma cultura de antifeminismo que caracterizou a política sul-coreana nos últimos anos.
Parte considerável dos homens na Coreia do Sul acredita que as políticas destinadas a aumentar a equidade para as mulheres são "discriminatórias contra homens".
O atual governo removeu o termo "igualdade de gênero" de seu currículo de ética escolar e está tentando fechar seu ministério de igualdade de gênero.
Oh Kyung-jin, da Associação Feminina Coreana, está desapontada com a remoção dos espaços, mas está mais preocupada com a tendência mais ampla de antifeminismo.
"O governo federal está tentando lançar políticas antifeministas, e agora podemos ver essas políticas retrógradas se espalhando pelos governos locais", disse ela.
As vagas exclusivas para mulheres, que foram introduzidas pela primeira vez na Alemanha na década de 1990, são controversas na Coreia do Sul.
Como algumas delas são mais longas e largas, os críticos argumentaram que as vagas reforçam o estereótipo de que as mulheres acham mais difícil estacionar. A verdadeira razão pela qual elas são maiores, no entanto, é porque se supunha que as mulheres - que assumem a maior parte dos cuidados com as crianças na Coreia do Sul - apreciariam o espaço extra para colocar e tirar seus filhos do carro.
A prefeitura pretende fazer valer as novas regras para os espaços no final de março.