A comoção inicial diante do terremoto que deixou ao menos 28 mil mortos na Turquia e na Síria vai dando lugar à raiva e à revolta entre os moradores das regiões atingidas. Os turcos queixam-se das respostas do governo para questões de segurança e suporte, além da má qualidade das construções. Na Síria, as dificuldades para a chegada da ajuda humanitária elevam a preocupação quanto à disseminação da cólera — o país enfrenta um surto da doença desde o ano passado.
Diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus chegou, ontem, à cidade síria de Aleppo, fortemente atingida pelo terremoto, para visitar hospitais e centros de acolhimento. Ele disse que viajava com "cerca de 37 toneladas de suprimentos médicos de emergência" e que, hoje, haverá outra rodada com mais de 30 toneladas de ajuda. O órgão estima que pelo menos 870 mil pessoas precisam urgentemente de alimentos. Além disso, o sismo pode afetar 23 milhões de pessoas nos dois países, sendo 5 milhões de vulneráveis.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU pediu US$ 77 milhões para fornecer rações de alimentos a 590 mil deslocados na Turquia e 284 mil, na Síria. Em outra frente, o escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas solicitou que a ajuda humanitária tenha passe livre para chegar às regiões atingidas. Ontem, pela primeira vez em 35 anos, uma passagem foi aberta na fronteira entre Turquia e Armênia com esse objetivo. Segundo a agência oficial de notícias turca Anadolu, cinco caminhões cruzaram o posto de Alican, na província de Igdir, rumo aos necessitados.
Em 1998, a passagem havia sido aberta para socorrer vítimas também de um terremoto. À época, um sismo abalou a capital da Armênia, Erevan, deixando entre 25 mil e 30 mil mortos. Divididos pela memória do genocídio armênio em 1915 e pelo conflito em Nagorno Karabagh, os dois países começaram a retomar os contatos em dezembro de 2021 com a nomeação de enviados especiais que discutiram, em Viena, a normalização das relações.
Prisões
Os desdobramentos do terremoto também têm demandado do governo turco respostas policiais. Mesmo o país tendo uma rígida legislação para as construções, diante do cenário de destruição — autoridades estimam que 12.141 edifícios foram destruídos ou gravemente danificados —, surgiram dúvidas quanto ao estado dos prédios e à qualidade dos materiais usados. "Poderíamos temer danos, mas não isso que observamos", disse, à agência France-Presse de notícias (AFP), o presidente da Fundação de Terremotos da Turquia, o engenheiro sísmico Mustafa Erdik.
Há suspeitas, por exemplo, de uso de concreto e de aço de baixa qualidade. Ontem, a polícia turca deteve 12 pessoas pelo desabamento de edifícios nas províncias de Gaziantep e Sanliurfa. Na sexta-feira, um incorporador imobiliário foi preso no aeroporto de Istambul, quando tentava fugir do país depois do desabamento de uma das residências de luxo construídas por ele.
Saqueadores também estão sendo detidos. Aproveitando a devastação e a fuga dos moradores, grupos de pessoas têm quebrado vitrines de lojas e levado produtos. Ontem, a polícia turca prendeu 48, em oito províncias, e o presidente Recep Tayyip Erdogan prometeu que as autoridades serão mais severas com os saqueadores. Moradores de regiões atingidas reclamam da sensação de insegurança.
Diante das críticas às respostas à população, o presidente turco fez uma espécie de "mea-culpa" na sexta-feira. "Houve tantos edifícios danificados que, infelizmente, não conseguimos acelerar nossas intervenções como gostaríamos", afirmou Erdogan, durante uma visita a Adiyaman. Em visita a Diyarbakir (sudeste), o presidente lembrou que está em vigor, no país, o estado de emergência. "Isso significa que, a partir de agora, as pessoas envolvidas em saques ou sequestros devem saber que a mão firme do Estado estará sobre elas."
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