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TURQUIA

Turquia anistiou prédios que não cumpriam normas de segurança contra terremotos

Embora os terremotos tenham sido fortes, os especialistas dizem que os prédios construídos adequadamente deveriam ter resistido.


Problemas de aplicação de regulamentos segurança contra terremotos, além de anistias para construções que não seguiram as regras, contribuíram para o colapso de muitos edifícios da Turquia durante os tremores de segunda-feira (6/2). Até agora, mais de 20 mil pessoas morreram na Turquia e na Síria.

A BBC News encontrou casos de edifícios recém-construídos que desabaram durante os terremotos.

Um deles fica na cidade de Malatya, no sudoeste da Turquia. O prédio foi concluído no ano passado.

Imagens capturadas por moradores mostram um anúncio publicitário sobre o edifício na internet. A peça afirma que ele foi "concluído de acordo com os mais recentes regulamentos antissísmicos".

O texto afirmava que os materiais e a mão de obra utilizados eram de "primeira qualidade".

Não há mais vestígios desse anúncio na internet, mas várias pessoas tiraram fotos e vídeos e os postaram na internet.

A propaganda segue o estilo de outros similares no site da empresa que construiu o edifício.

Outro prédio residencial recentemente construído na cidade portuária de Iskenderun, no litoral turco, também foi fotografado em grande parte destruído.

 

 

BBC
Antes e depois: prédio recém-construído em Iskanderun

A construtora deste edifício publicou uma imagem mostrando que ele havia sido concluído em 2019.

A BBC confirmou que a imagem do prédio destruído (à direita) corresponde à localização da foto publicitária da empresa do quarteirão (à esquerda).

Outro prédio inaugurado em Antakya em 2019 também pode ser visto destruído em uma imagem confirmada pela BBC.

A reportagem encontrou um vídeo da cerimônia de inauguração do conjunto habitacional, de novembro de 2019, no qual o proprietário de uma construtora envolvida na obra afirma que "o projeto é especial em relação a outros por sua localização e qualidade de construção".

Embora os terremotos tenham sido fortes, os especialistas dizem que os prédios construídos adequadamente deveriam ter resistido.

"O pico de intensidade deste terremoto foi violento, mas não o suficiente para derrubar prédios bem construídos", disse David Alexander, professor de planejamento e gerenciamento de emergências da University College London.

"Na maioria dos lugares, o nível de tremor foi menor do que o pico registrado, então podemos concluir que, dos milhares de prédios que desabaram, quase todos não atenderam a nenhum código de construção antiterremoto de maneira razoável."

Violação dos regulamentos de construção

Os regulamentos de construção foram reforçados na Turquia após desastres anteriores, incluindo o mais recente, em 2018.

Regulamentos de segurança mais rígidos também foram introduzidos após o terremoto de 1999 na cidade de Izmit, no noroeste do país. Na ocasião, 17 mil pessoas morreram.

As normas mais recentes exigem que estruturas em regiões sísmicas usem concreto de alta qualidade reforçado com aço.

As colunas e vigas também devem ser distribuídas de forma que absorvam efetivamente o impacto dos terremotos.

Getty Images
Mais de 50% dos edifícios na Turquia foram construídos em violação dos regulamentos de construção

No entanto, essas leis foram mal aplicadas.

"Parte do problema é que há muito pouca adaptação de edifícios antigos, mas também há muito pouca aplicação dos regulamentos de construção em novas obras", explica Alexander.

O governo turco também concedeu "anistias de construção" periódicas - na verdade, isenções legais mediante o pagamento de uma taxa - a estruturas construídas sem os certificados de segurança exigidos. Eles foram aprovados desde a década de 1960 (o último em 2018).

Os críticos há muito alertam que tais anistias representam um risco catastrófico no caso de um grande terremoto.

Getty Images
As anistias representam um risco catastrófico no caso de um grande terremoto, dizem especialistas

Até 75 mil edifícios na área afetada pelo terremoto no sul da Turquia receberam anistias de construção, de acordo com Pelin P?nar Giritlio?lu, chefe da Câmara de Urbanistas de Istambul do Sindicato das Câmaras de Engenheiros e Arquitetos da Turquia.

Poucos dias antes do último desastre, a imprensa local informou que um projeto de lei que concederia uma nova anistia para as recentes obras estava pendente de aprovação parlamentar.

No início deste ano, o geólogo Celal Sengor declarou que aprovar esse tipo de anistia para construção em um país cortado por falhas geológicas equivale a um "crime".

Depois que um terremoto atingiu a província ocidental de Izmir em 2020, uma reportagem do serviço turco da BBC revelou que 672 mil edificações em Izmir se beneficiaram da última anistia.

A reportagem citou que o Ministério do Meio Ambiente e Planejamento Urbano havia declarado em 2018 que mais de 50% dos edifícios na Turquia - o que equivale a quase 13 milhões de prédios - foram construídos em violação dos regulamentos.

A BBC News questionou a pasta sobre os regulamentos de construção na Turquia após os terremotos mais recentes.

"Nenhum edifício construído por nossa administração desabou. Os estudos de avaliação de danos continuam rapidamente no local", respondeu o ministério.

Reportagem adicional de Olga Smirnova, Alex Murray, Richard Irvine-Brown e Dilay Yalcin.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjrwnw9g9ewo

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