Na noite desta terça-feira (07/02), o presidente do Estados Unidos, Joe Biden, fez seu terceiro discurso ao Congresso — marcando a metade de seu primeiro mandato.
O chamado "Discurso do Estado da União" (State of the Union) é um momento crucial para o presidente americano e, nesta noite, Biden fez um discurso animado e às vezes combativo.
A fala ocorreu em meio aos preparativos para uma provável campanha de reeileição do democrata e diante de uma nova situação na sua presidência: o controle republicano na Câmara dos Representantes.
Aqui estão os principais pontos do discurso de Biden, que falou para um Congresso fortemente dividido e para uma audiência de dezenas de milhões de americanos.
Biden pede unidade
Joe Biden começou seu discurso parabenizando o republicano Kevin McCarthy por ter sido eleito presidente da Câmara.
O presidente democrata passou a primeira parte de seu discurso dialogando com essa nova realidade política em Washington. Biden se gabou das conquistas bipartidárias em seus primeiros dois anos no cargo, citando a cooperação na gestão de gastos com infraestrutura, no investimento em alta tecnologia, na ajuda militar à Ucrânia, nas garantias para o casamento gay e na reforma eleitoral, entre outros tópicos.
"Muitas vezes nos dizem que democratas e republicanos não podem trabalhar juntos", disse ele. "Mas, nos últimos dois anos, provamos que os cínicos e os pessimistas estavam errados."
Biden reconheceu que houve momentos em que os democratas tiveram que "seguir sozinhos" — uma expressão que lembra as ferozes batalhas partidárias que ocorreram em torno de um pacote de trilhões de dólares para o combate à covid-19 e a lei de redução da inflação, que aumentou os gastos relacionados ao clima e à saúde em bilhões de dólares.
O presidente reivindicou o crédito por essas realizações, mas a nova realidade é que essas conquistas arrebatadoras no Congresso são coisa do passado, pelo menos nos próximos dois anos. Cada vitória legislativa obtida por Biden agora terá que ser alcançada com os republicanos ao seu lado — um formidável obstáculo a ser superado.
Mas deu uma cutucada nos republicanos…
Embora Joe Biden tenha feito o possível para polir a relação bipartidária no discurso, um dos desafios mais prementes que a Casa Branca e o Congresso enfrentarão nos próximos meses será aumentar o limite de empréstimos federais para evitar o calote dos EUA em sua dívida nacional.
Nesse tópico, Biden e os republicanos da Câmara estão se envolvendo em uma intensa disputa.
Referindo-se às exigências republicanas de vincular um aumento do limite a cortes de gastos, Biden afirmou que nenhum presidente aumentou a dívida nacional como seu antecessor, o republicano Donald Trump.
Os republicanos responderam a essa fala com vaias.
Ele então tentou associadas as demandas republicadas sobre o limite da dívida a algumas propostas conservadoras para cortar a Previdência Social e o Medicare (os programas de aposentadoria e seguro de saúde administrados pelo governo).
Isso levou a ainda mais vaias indignadas.
Biden disse que apresentaria seu plano orçamentário e pediu aos republicanos que propusessem o deles.
"Podemos sentar juntos e discutir os dois planos", disse ele.
É claro, isso é uma espécie de armadilha. O objetivo é obter as propostas dos republicanos e, com isso, dar aos democratas um alvo para atacar.
A disputa sobre o limite da dívida está apenas começando — e a cooperação bipartidária provavelmente ficará em segundo plano até que a tempestade passe.
Convidados proporcionaram momentos emocionantes
Biden anunciou uma série de novas ou reformuladas propostas durante seu discurso presidencial, muitas das quais têm poucas chances de se tornarem lei, agora que uma das casas do Congresso é controlada pelos republicanos.
Ele falou emocionado sobre a necessidade de uma reforma policial e de uma nova legislação para controle de armas, apontando para convidados na galeria — entre eles os pais de Tyre Nichols, um jovem morto após abordagem policial, e um heroi do tiroteio em massa em Monterey Park.
"Todos nós aqui precisamos estar à altura deste momento", disse o presidente. "Não podemos nos virar."
A realidade, entretanto, é que nenhum desses esforços tem muita chance de sucesso. Se o Congresso conseguir se unir para aprovar novas leis, provavelmente será contra as "taxas inúteis" contra as quais o presidente protestou — incluindo taxas bancárias, taxas de resorts e tarifas adicionais para assentos aéreos.
"As taxas inúteis podem não importar para os muito ricos, mas importam para a maioria das pessoas em lares como aquele onde cresci."
China e Ucrânia ficam em segundo plano
Embora o balão chinês tenha sido uma grande história nos Estados Unidos nos últimos dias, ele mal recebeu uma menção do presidente.
"Como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, agiremos para proteger nosso país", afirmou. "E nós fizemos."
O presidente passou a discutir os desafios colocados pela China e os passos de seu governo para fortalecer a economia dos EUA e modernizar as forças armadas.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, que dominou a última parte do discurso de Biden, também mal foi mencionada. O presidente deu as boas-vindas ao embaixador da Ucrânia nos EUA, que estava sentado na galeria, e anunciou o apoio dos aliados a Kiev. Mas ele não aproveitou a oportunidade para anunciar uma nova rodada de apoio à nação devastada pela guerra — tipo de ajuda que será dificultado com os céticos republicanos no controle da Câmara.
Há um ditado que diz que os americanos só se preocupam com a política externa quando os soldados americanos estão morrendo no exterior. Joe Biden, com seu foco na economia e nas realizações domésticas, parece ter levado isso em conta nesta noite.
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