Jornal Correio Braziliense

REINO UNIDO

Gripe aviária é detectada em mamíferos no Reino Unido: há riscos para humanos?

No Reino Unido, a Agência de Saúde Animal e Vegetal (APHA, na sigla em inglês) realizou testes em 66 mamíferos, incluindo focas, e descobriu que nove lontras e raposas receberam diagnóstico


O maior surto de gripe aviária de todos os tempos está afetando mamíferos, incluindo lontras e raposas no Reino Unido.

Dados a que a BBC teve acesso indicam que o vírus já causou a morte de cerca de 208 milhões de aves em todo o mundo, e há pelo menos 200 casos registrados em mamíferos.

Autoridades de saúde pública no Reino Unido alertam que a mutação em mamíferos pode dar um salto para os humanos, mas o risco para o público permanece muito baixo.

Elas anunciaram que haverá maior monitoramento e mais testes em animais e humanos expostos ao vírus no Reino Unido.

Segundo a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês), a gripe aviária é principalmente uma doença das aves, mas especialistas em todo o mundo estão analisando os riscos de ela se espalhar para outras espécies.

 

Em todo o mundo, o vírus foi encontrado em diferentes espécies de mamíferos, incluindo ursos pardos nas Américas e martas (pequeno mustelídeo) na Espanha, bem como em golfinhos e focas.

 

No Reino Unido, a Agência de Saúde Animal e Vegetal (APHA, na sigla em inglês) realizou testes em 66 mamíferos, incluindo focas, e descobriu que nove lontras e raposas receberam diagnóstico positivo para o vírus H5N1, um tipo de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP).

 

Casos foram encontrados nos condados de Durham, Cheshire e Cornwall na Inglaterra; em Powys, no País de Gales; e Shetland, Ilhas Hébridas Interiores e Fife, na Escócia.

 

Acredita-se que esses mamíferos tenham se alimentado de aves selvagens infectadas com o vírus.

 

Testes apontaram que os animais tinham uma mutação do vírus que poderia facilitar a infecção de mamíferos, mas não havia evidências de transmissão entre mamíferos.

 

A APHA acrescentou que havia "uma probabilidade muito baixa de qualquer infecção generalizada em mamíferos GB".

 

"Uma ave selvagem doente ou morta contém uma grande quantidade de vírus. Isso pode fazer com que o vírus entre em uma população hospedeira que normalmente não infecta", disse o professor Ian Brown, diretor de serviços científicos da APHA.

 

Brown disse que a força-tarefa nacional da gripe aviária do Reino Unido agora está aumentando sua vigilância de casos em mamíferos e a análise do genoma do próprio vírus, mantendo um "vigilância" sobre sua disseminação em populações globais de aves selvagens.

 

"O vírus está em movimento. E é quase notável — trata-se de uma única cepa", disse ele, acrescentando que é necessária uma maior ação internacional para combater sua propagação.

 

Ele disse à BBC que estava "altamente ciente dos riscos" de a gripe aviária se tornar uma pandemia como a covid-19.

 

"Esta disseminação global é uma preocupação. Precisamos globalmente olhar para novas estratégias, essas parcerias internacionais, para superar esta doença".

 

"Se não resolvermos o problema em todo o mundo, continuaremos a correr esse risco."

 

APHA
O professor Ian Brown diz que é preciso haver maior cooperação internacional

 

 

Desde outubro de 2021, quando o último surto teve início, houve cinco casos humanos confirmados do vírus H5N1, incluindo um no Reino Unido e uma morte na China.

 

No mês passado, uma menina de nove anos no Equador foi infectada com gripe aviária A (H5).

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que, nos últimos 20 anos, houve quase 870 casos de infecção humana pelo vírus da influenza aviária H5N1 registrados em 21 países. Destes, 457 foram fatais. O Brasil permanece livre do vírus, segundo o Ministério de Saúde.

 

Segundo a OMS, o vírus "não adquiriu a capacidade de transmissão sustentada entre humanos. Portanto, a probabilidade de propagação de humano para humano é baixa".

 

Mas ressalva que "devido à natureza em constante evolução dos vírus influenza, a OMS continua a enfatizar a importância da vigilância global para detectar e monitorar alterações virológicas, epidemiológicas e clínicas associadas a vírus influenza emergentes ou circulantes que podem afetar humanos (ou animais) saúde e compartilhamento oportuno de vírus para avaliação de risco."

 

Para Wenqing Zhang, chefe do Programa Global de Influenza da OMS, "é muito preocupante e o risco tem aumentado ao longo dos anos, conforme refletido no número de surtos em animais, bem como em uma número de infecções em humanos", diz ela.

 

A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) disse à BBC que registrou quase 42 milhões de casos em aves domésticas e selvagens desde o início do surto em outubro de 2021.

 

Quase 15 milhões de aves domésticas morreram da doença e mais de 193 milhões foram abatidas.

 

Segundo a entidade, houve também 119 surtos afetando mamíferos, com cerca de 200 casos individuais registrados — embora um porta-voz da OIE tenha alertado que a disseminação para mamíferos está provavelmente subnotificada.

 

Gregorio Torres, chefe do departamento de ciência da OIE, disse que houve um aumento nas notificações de espécies não aviárias afetadas pelo vírus nos últimos 18 meses. 

Segundo ele, esse número "pode ser um sinal de vigilância muito sensível — um indicador de que estamos fazendo um bom trabalho".

"Por outro lado, também pode ser um indicador de que há uma mudança na epidemiologia da doença ou uma mudança na dinâmica da doença", acrescentou.

"Existe o risco de transmissão entre espécies e não podemos subestimar a potencial adaptação aos humanos", concluiu.

Em um relatório recente, a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês) alertou que a "aquisição rápida e consistente da mutação em mamíferos pode implicar que esse vírus tem propensão a causar infecções zoonóticas".

Ou seja, isso significa que ele poderia passar para os humanos.

BBC
Vírus continuou a se espalhar em uma ampla gama de espécies de aves

O órgão também levantou preocupações sobre o monitoramento limitado de aves selvagens e mamíferos, a coleta de dados genômicos na Inglaterra e a falta de testagem suficiente de pessoas que tiveram contato com animais infectados.

A UKHSA está buscando desenvolver novas maneiras de testar humanos que foram expostos à doença, mas podem ser assintomáticos.

Meera Chand, diretora de incidentes para gripe aviária na UKHSA, disse: "As evidências mais recentes indicam que os vírus da gripe aviária atualmente circulando em aves não se espalham facilmente para as pessoas".

"Houve recentemente algumas detecções de vírus da gripe aviária em um pequeno número de mamíferos no Reino Unido. No entanto, a avaliação de risco realizada pela UKHSA e parceiros não identificou nenhum sinal de aumento do risco para o público em geral da gripe aviária no momento."

Enquanto isso, a recomendação das autoridades é que as pessoas não toquem em nenhuma ave morta ou doente.