A Guarda Costeira da Itália prosseguia, nesta segunda-feira (27/2), com as buscas na localidade de Crotone, na região da Calábria (sul), após o naufrágio de uma embarcação com migrantes, na véspera, que deixou dezenas de mortos.
A descoberta dos corpos de novas vítimas levadas até a costa pela maré elevou o número de mortos na tragédia para 62, informou a Guarda Costeira. O balanço divulgado no domingo registrava 59 vítimas fatais.
ONGs assumiram os cuidados das crianças que perderam seus familiares, quando a embarcação superlotada se chocou contra rochas a poucos metros da costa durante uma tempestade na madrugada de domingo.
"Um menino afegão de 12 anos perdeu toda a família, nove pessoas no total: os quatro irmãos e irmãs, seus pais e outros integrantes da família", afirmou Sergio di Dato, coordenador da equipe de psicólogos enviada para o local pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) para ajudar os sobreviventes.
Pedaços do barco foram encontrados espalhados na praia. Os bombeiros da cidade vizinha de Cutro também participam das buscas, com o auxílio de helicópteros.
Em Le Castella, onde uma fortaleza do século XV sobre a costa, um jornalista da AFP acompanhou as operações da Guarda Costeira que recuperaram o corpo de uma jovem em torno dos 20 anos de idade.
Autoridades locais disseram que continuam as buscas por cerca de 20 possíveis desaparecidos, embora os sobreviventes tenham dado versões diferentes sobre quantas pessoas estavam na embarcação.
A polícia forense iniciou a tarefa de identificação, compartilhando um endereço de e-mail para o qual aqueles que procuram seus entes queridos possam enviar detalhes significativos, da cor dos olhos ou do cabelo a tatuagens.
No Twitter, a ONG italiana Save the Children informou que atende sobreviventes procedentes de Afeganistão, Paquistão, Somália e Síria, incluindo vários menores de idade que viajavam com suas famílias.
"Há muitos menores desaparecidos", destacou. Segundo a ONG, os sobreviventes contaram que, "durante a noite, perto da costa, ouviram um barulho forte e depois todos caíram na água".
"Alguns disseram que viram seus familiares caírem na água e desaparecer, ou morrer", acrescentou a organização.
O Ministério paquistanês de Relações Exteriores indicou nesta segunda-feira que entre os resgatados havia 16 paquistaneses e que quatro dos desaparecidos eram dessa nacionalidade.
Saiba Mais
Uma autoridade paquistanesa encarregada do combate ao tráfico de pessoas explicou que cada vez mais habitantes de seu país decidem migrar "devido ao agravamento da situação econômica e à falta de trabalho".
"Calculamos que cerca de 40.000 tentam entrar em países europeus todos os anos", afirmou, pedindo anonimato.
"Criminoso"
A embarcação partiu de Izmir, na Turquia, na semana passada. Três responsáveis pelo tráfico de imigrantes sem documentos foram detidos. A polícia procura um quarto suspeito, noticiou a imprensa italiana.
A primeira-ministra da Itália, a política de extrema direita Giorgia Meloni, expressou sua "profunda dor" e declarou que é "criminoso enviar para o mar uma embarcação de apenas 20 metros com 200 pessoas a bordo e com previsão de mau tempo".
País que registrou a chegada de centenas de milhares de migrantes nos últimos anos, a Itália acusa seus parceiros da União Europeia (UE) de falta de solidariedade na distribuição das responsabilidades por esta situação, mesmo que um grande número de migrantes não permaneça na península.
A situação geográfica da Itália faz do país um destino preferencial para os demandantes de asilo que viajam do norte da África para a Europa.
De acordo com o Ministério do Interior, quase 14.000 migrantes entraram na Itália desde o início do ano, contra 5.200 no mesmo período no ano passado, e 4.200, em 2021.
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