Protesto

'Queremos que a Rússia venha': os manifestantes que pedem invasão russa em país vizinho

A Moldávia depende da Rússia para várias coisas, incluindo geração de energia

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postado em 21/02/2023 09:55
Mulher protesta em meio à multidão
EPA
A Moldávia depende da Rússia para geração de energia - e no ano passado o governo russo cortou pela metade o fornecimento de gás ao país vizinho

Em frente ao imponente prédio do parlamento da Moldávia, milhares de pessoas estão chegando de ônibus para um protesto contra o governo.

"Somos motivo de chacota - o governo está zombando de nós", uma manifestante chamada Ala me diz. "Tem gente com quatro ou cinco filhos que literalmente não tem o que comer."

As contas de energia representam mais de 70% da renda familiar, de acordo com a presidente da Moldávia.

"Quando elegemos este governo, eles prometeram aumentar salários e pensões, mas até agora não vimos um centavo", diz Ala.

Os protestos de domingo, organizados pelo partido Sor, que é pró-Rússia, estão sendo observados de perto por governos em toda a Europa. A maioria dos manifestantes viajou para a capital Chisinau de ônibus, com seus custos cobertos pelo Sor.

Recentemente a presidente Maia Sandu alertou que a Rússia planejava enviar ao país sabotadores treinados por militares, disfarçados de civis, para derrubar seu governo, que é aliado de países ocidentais.

A Rússia respondeu afirmando que a acusação é uma tentativa das autoridades moldavas de desviar a atenção de seus próprios fracassos sociais e econômicos.

A Moldávia fica estrategicamente localizada na fronteira com a Ucrânia. Ela tem sua própria região separatista pró-Rússia. Mas o país depende do gás russo.

No ano passado, Moscou cortou pela metade seu fornecimento para a Moldávia, pressionando o governo, que busca manter unidas suas populações de língua romena e russa.

Os protestos contra o aumento do preço do gás e da eletricidade começaram no outono passado.

Na semana passada, a presidente disse que a Rússia já havia tentado desestabilizar a situação na Moldávia por meio da crise energética, que, segundo ela, "pretendia causar grande descontentamento entre a população e levar a protestos violentos".

O plano, diz a presidente, envolve "sabotadores com treinamento militar [...] que tomariam atitudes violentas, realizariam ataques a prédios de instituições estatais ou até mesmo fariam reféns".

Nas últimas semanas, 57 pessoas foram impedidas de entrar na Moldávia por terem demonstrado apoio à Rússia —incluindo um grupo de torcedores de futebol sérvios e vários boxeadores de Montenegro.

O espaço aéreo da Moldávia foi inesperadamente fechado por várias horas esta semana.

"Está muito claro que a Rússia é um Estado agressor", disse Rosian Vasiloi, chefe da polícia de fronteira da Moldávia, à BBC. Ele afirma que a ameaça já existia desde o começo da guerra da Ucrânia, mas acredita que é "diferente agora; é uma mistura de ameaças de dentro e de fora da Moldávia".

Enquanto a Ucrânia continuar em guerra, ele acredita que os riscos para a Moldávia são menores.

"Se a Ucrânia cair, a Moldávia será a próxima", diz ele. "Mas eu não tenho medo."

Desde o início da guerra, o governo da presidente Sandu tentou diversificar as fontes de energia do país e reduzir a dependência do gás russo, mas os ataques à infraestrutura da Ucrânia e o custo de importação de eletricidade da Romênia não ajudaram nos esforços das autridades.

Ela afirma que o suposto complô russo depende de "forças internas", como o partido de oposição Sor. Ela pediu que o parlamento aprove leis de segurança mais rígidas.

Marina Tauber, secretária-geral de Sor, que liderou o protesto em frente ao parlamento, diz que seu partido não se opõe à União Europeia e quer boas relações com todos os lados.

Mas há em seu partido quem admita que gostariam de uma intervenção russa.

Marina Tauber protesta com megafone
EPA
Marina Tauber, do partido pró-Rússia Sor, diz querer boas relações com todos os lados

A uma hora de carro ao norte da capital Chisinau fica Orhei, um reduto do Sor onde conhecemos o conselheiro do partido Iurie Berenchi.

"Não temos medo", ele me diz, "porque se a Rússia quisesse tomar a Moldávia, o faria em meio dia."

Berenchi apoia uma possível invasão russa.

"Com a Rússia estaríamos muito melhor do que estamos agora."

Muitas pessoas na capital Chisinau acreditam que laços mais estreitos com o Ocidente podem ajudar a garantir a independência e a democracia da Moldávia neste momento conturbado.

O partido da presidente Sandu tem uma sólida maioria no parlamento.

Mas a visão da multidão do lado de fora é diferente. E existe o risco de que essa pressão política amplie as divisões na sociedade da Moldávia.

O risco fica claro quando perguntamos a Ala e aos seus amigos se eles acreditam que a Rússia quer se infiltrar na Moldávia, como teme a presidente.

"Sim, deixe-os vir!" Eles gritam. "Queremos que eles venham para cá. Queremos fazer parte da Rússia!"

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