Em resposta ao lançamento surpresa de um míssil balístico intercontinental (ICMB) pelo governo Kim Jong-un, os Estados Unidos e a Coreia do Sul realizaram, ontem, exercícios aéreos conjuntos na península coreana, incluindo um bombardeio estratégico e caças furtivos. A Casa Branca informou, em comunicado, que a ação da Coreia do Norte, no sábado, "aumentou desnecessariamente as tensões" e "arriscou desestabilizar a segurança na região". Uma nota conjunta — também assinada por Alemanha, França, Reino Unido, Japão, Canadá e Itália — chamou o fato de "comportamento imprudente" e exigiu uma "resposta unificada da comunidade internacional".
Na manhã de segunda-feira, (ontem à noite em Brasília), o Estado-Maior sul-coreano informou que Pyongyang lançou mais um míssil não-identificado contra o mar do leste, 48 horas depois do primeiro. A ação confirma a ameaça feita por Kim Yo Jong, porta-voz norte-coreana e irmã de governante. Em resposta aos exercícios militares, ela afirmou que o país vizinho "exacerbou a situação mais a cada momento, destruindo a estabilidade regional". "Alerto que monitoraremos todos os movimentos inimigos e tomaremos as contramedidas correspondentes, muito poderosas e avassaladoras, contra todos esses movimentos hostis contra nós", assinalou, segundo a agência de notícias oficial KCNA. Kim também colocou nas mãos dos Estados Unidos a paz da região: "A frequência de uso do Pacífico como nosso campo de tiro depende das ações das forças norte-americanas".
Na opinião de Park Won-gon, professor da Universidade de Ewha, na Coreia do Sul, tanto os disparos quanto as declarações apontam para o "início de provocações de alta intensidade" por parte de Pyongyang.
Alcance
Segundo o governo japonês, o míssil balístico Hwasong-15, disparado do aeroporto de Pyongyang às 17h22 de sábado (5h22 em Brasília), voou 66 minutos e poderia percorrer 14 mil quilômetros, distância que permitiria que a arma chegasse a qualquer ponto dos Estados Unidos. A KCNA informou que o ICMB "viajou a uma altitude máxima de 5.768,5km e percorreu 989km em 4.015 segundos, antes de cair corretamente em uma área predeterminada de águas abertas" no mar do Japão.
A ofensiva de Pyongyang ocorreu um dia depois de o governo ameaçar uma "resposta sem precedentes" a exercícios militares conjuntos anunciados pelos Estados Unidos e a Coreia do Sul e previstos para esta semana. O lançamento surpresa teria como objetivo demonstrar a capacidade do país de realizar um "contra-ataque nuclear mortal".
"Dissuasão"
A KCNA destacou que as autoridades norte-coreanas elogiaram o teste de armas, o primeiro em sete semanas, que indicariam "a capacidade de guerra das unidades ICBM que estão prontas para um contra-ataque poderoso e móvel". Segundo a agência, o lançamento "é prova clara da poderosa dissuasão nuclear" da Coreia do Norte.
O lançamento ocorreu quando a Coreia do Sul e os Estados Unidos se preparam para realizar um exercício nesta semana em Washington, para saber o que fazer se Pyongyang usar armas nucleares. Isso atraiu a ira da Coreia do Norte, que chamou o anúncio norte-americano de "preparativo para a guerra".
Para o especialista em segurança americano Ankit Panda, o disparo é de considerável importância porque foi ordenado no mesmo dia, não sendo, portanto, um teste tradicional, mas um exercício. "Haverá outros do tipo", acrescentou. Park Won-gon, da Universidade de Ewha, disse ser a primeira vez que Pyongyang faz um relato detalhado desde a ordem de disparo até o lançamento. "O teste mostra que todas essas armas são utilizadas para o combate real e estão prontas para serem lançadas a qualquer momento", disse à agência France Presse.
A ex-analista da CIA Soo Kim acredita que as nove horas passadas entre a ordem do líder e o lançamento, de fato, do primeiro míssil é "tempo demais". Segundo ela, em condições realistas, Pyongyang poderia enfrentar desafios em uma ofensiva do tipo.
As relações entre as duas Coreias estão em um dos pontos mais baixos em anos, depois que o Norte se declarou uma "potência nuclear irreversível" e Kim pediu um aumento exponencial na produção de armas, incluindo as nucleares táticas. Em resposta, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, procurou intensificar a cooperação de segurança com os Estados Unidos, com mais exercícios militares conjuntos.
Segundo Park Won-gon, professor da Universidade de Ewha, na Coreia do Sul, a atitude de Pyongyang pode indicar distúrbios na situação interna do país. Recentemente, autoridades sul-coreanas alertaram que a Coreia do Norte pode enfrentar uma grave escassez de alimentos, após o extenso isolamento provocado pela pandemia de covid-19.
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