Política Internacional

China e EUA: quais são as consequências para as acusações de espionagem

Nos últimos dias, os EUA derrubaram vários objetos não identificados nos céus do país e as acusações contra a China sobre os objetos serem de fins de espionagem aumentaram

Camilla Germano
postado em 14/02/2023 23:09
 (crédito: CHASE DOAK / AFP)
(crédito: CHASE DOAK / AFP)

Após acusações mútuas de espionagem entre China e Estados Unidos nos últimos dias e a derrubada de vários objetos não identificados pelos governos norte-americano e canadense, a relação entre as duas maiores potenciais do planeta ficou ainda mais tensa. 

A crise de acusações de espionagem começou no dia 4 de fevereiro, quando os EUA abateram um balão, que sobrevoava o espaço aéreo estadunidense, e tinha 60 metros de altura e carga do tamanho de um avião, segundo autoridades locais. 

Segundo Washington, o dispositivo tinha a missão de obter informações sobre instalações militares. Além disso, o Departamento de Estado americano acusou a China de "tentar limitar os danos" provocados por "seu programa de balões de vigilância", que, de acordo com eles, envolve a espionagem de 40 países dos cinco continentes.

A tensão entre os países se escalou ainda mais quando, entre os dias 10 e 11 de fevereiro, os EUA e o Canadá derrubaram vários objetos não identificados. Apesar de não acusarem diretamente à China de espionagem neste caso, a Casa Branca declarou na segunda-feira (12/2), por meio da secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, que não existem indícios de que houve atividade extraterreste nos objetos voadores não identificados (OVNIs) abatidos pelo governo estadunidense.

Na sequência, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, também comentou brevemente sobre o tema, e negou as acusações chinesas de espionagem. "Isso não é verdade! Não fizemos isso!", declarou.

Vale lembrar que a China nem negou nem confirmou que o balão encontrado seria deles, tendo inclusive acusado os EUA de espioná-los. "Apenas no último ano, balões americanos sobrevoaram a China mais de 10 vezes sem qualquer autorização", disse Wang Wenbin, ministro das Relações Exteriores chinês.

A espionagem é comum na política internacional?

Em entrevista ao Correio, Alcides Cunha Costa Vaz, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), explica que a espionagem entre países não é um fato novo e que é usado como ferramenta não só para com países "rivais" como possivelmente para países que são aliados. 

"Todos os países tem a sua divisão de inteligência e de contra inteligência contra da espionagem da contra espionagem", explica o professor. No entanto, Alcides pontua que neste contexto entre EUA e China existe uma questão que chamou muito a atenção. "O que causa uma certa surpresa para alguns são os instrumentos utilizados, principalmente os balões, justamente por estarem a mais de seis mil metros e porque são instrumentos imensos", acentua. 

O fato de os EUA também não terem abatido o balão tão rapidamente no começo de fevereiro fundamenta a ideia de espionagem. "O governo passou a monitorá-lo porque estava sobrevoando áreas sensíveis do território e não o abateram logo porque é uma oportunidade que os organismos de inteligência de espionagem e contra espionagem norte-americano tem de observar aquilo e também buscar conhecimentos sobre aquilo e, quando decidiram abater, abateram", ressalta. 

Vale lembrar que o balão abatido pelos EUA tinha 60 metros de comprimento e tinha uma grande carga. Já os objetos não identificados, abatidos entre 10 e 11 de fevereiro, não tiveram suas medidas e/ou pesos revelados, apesar de terem formato divulgado: octogonal.

Justamente pelo formato divulgado, muitos especularam sobre uma possível invasão de extraterrestres — o que foi negado pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, na segunda-feira (13). 

O professor Alcides considera que, pelo fato da sigla de objetos voadores não identificados (OVNIs) remeter a filmes de alienígenas e vida espacial, muitos consideraram a informação do abatimento das aeronaves pelos EUA como uma "possível invasão", o que é inverídico. "O conceito é justamente esse objetos voadores não identificado".

Aliados ou inimigos?

Por muito tempo a China foi vista como uma potência regional, apesar de ser também um país nuclearmente armado e, portanto, ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Nações Unidas (ONU), com um status de grande potência. No entanto, do ponto de vista militar, ela tradicionalmente é vista apenas como uma potência regional.

Do ponto de vista econômico gradual a ascensão do país começou no campo comercial e depois se estendeu pelo campo dos investimentos diretos. No âmbito financeiro a China foi colocando em campo as suas próprias organizações de alcance regional no campo econômico, e a medida que esse processo foi transcorrendo, o professor Alcides destaca que a relação com os Estados Unidos mudou.

Primeiro, os dois países se tornavam cada vez mais interdependentes pelos laços econômicos e comerciais, conta o professor. Nessa questão da crescente de interdependência, o grande mercado chinês naturalmente é um atrativo muito grande para as empresas norte-americanas e vice-versa. 

Entretanto, do ponto de vista da segurança das questões geopolíticas globais, alimentou um antagonismo entre as duas potenciais. "Os países se reconhecerem como adversários e passaram a ser também os principais contendores as principais partes numa disputa hegemônica global", constata o professor. 

O especialista considera que ambos divergem por lado de interdependência, por um lado de disputa hegemônica global e crescentes preocupações uns com os outros no campo da segurança. "Então eles estão naquele limite de adversários e em algum aspecto é quase considerado os inimigos para o outro", aponta. 

Alcides ilustra também que ambos tem interesses convergentes porque um interessa muito o outro, mas divergem quando em analisada essa adversidade entre eles. "É nesse contexto (de espionagem) de uma relação paradoxais, com elementos de até certo modo contraditórios, o que é próprio quando se trata de grandes potências com sistemas econômicos e políticos diferentes, com preocupações geopolíticas que eles colocam em uma faixa de dissonância muito grande. É um relacionamento muito complexo pela diversidade de espaços e por existência de áreas de maior convergência, aproximação e outras de divergência, de quase inimizade", esclarece.

Possíveis consequências

É nesta relação entre eles, que se explica a preocupação com um possível conflito entre China e EUA. No entanto, para o professor Alcides, não é provável que a tensão entre os países se intensifique ou até mesmo escale para um confronto. "Eu acho que é uma crise que eles vão gerenciar pelos trabalhos diplomáticos, pelos seus órgãos de segurança, se necessário por meio de contatos telefônicos e virtuais ou contatos interpessoais entre autoridades de alto nível dos dois países".

Ele explica ainda que muito provavelmente ambos os países repensaram ações de segurança de espionagem e também de contraespionagem, tendo em vista o ocorrido.

Além disso, o professor pontuou que, apesar de no primeiro momento os EUA ter demonstrado sua insatisfação ao fato cancelando a viagem do secretário de estado do país, Antony Blinken, para a China, ainda continua sendo de interesse de ambos conter a crise e a tensão diplomaticamente.

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