A Rússia queria uma vitória relâmpago ao lançar sua invasão da Ucrânia, mas doze meses depois a guerra está em um impasse, sem que nenhum dos lados faça avanços militares nem esteja disposto a uma solução de 'status quo'.
Analistas temem que o conflito desencadeado pela invasão russa em 24 de fevereiro de 2022 não termine tão cedo e que sua intensidade aumente em seu segundo ano.
"Certamente não mostra sinais de estar perto do fim", diz Jon Alterman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) dos EUA. "Cada parte sente que o tempo está a seu favor e que chegar a um acordo agora é um erro", acrescenta.
Depois de algumas conquistas recentes na região do Donbass, no leste da Ucrânia, o lado russo pode estar preparando uma ofensiva para a primavera boreal (outono no Brasil), acreditam os especialistas.
Enquanto isso, a Ucrânia parece determinada a recuperar o território perdido, auxiliada pelos governos dos Estados Unidos e da Europa, cujo apoio a Kiev parece estar crescendo. Inclusive, chegou a deixar clara a intenção de recuperar a península da Crimeia, no mar Negro, anexada pela Rússia em 2014, uma ambição que levantou suspeitas no Ocidente.
No início deste mês, o presidente francês Emmanuel Macron disse a seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, que estava "determinado a ajudar a Ucrânia a alcançar a vitória".
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Uma vitória "boa o suficiente"?
Mas isso não significa que a guerra terminará com uma derrota clara da Rússia, de acordo com Liana Fix, do think-tank americano Conselho de Relações Exteriores.
"O cenário mais provável é que os avanços ucranianos levem a uma vitória 'boa o suficiente'", seguida por "combates contínuos em alguns territórios" enquanto a Rússia tenta manter a Crimeia, acrescentou.
O exército russo poderia mobilizar um grande número de novos soldados, mas eles teriam que ser treinados, alimentados e equipados, tarefas que o exército tem feito "muito mal até agora", diz a especialista.
O tipo de armamento que a Ucrânia receberá de seus aliados ocidentais será decisivo, de acordo com Dimitri Minic, do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).
A artilharia de longo alcance poderia permitir "quebrar o ciclo ataque-contra-ataque-defesa, enfraquecer a capacidade da Rússia de se recuperar e obter uma vitória decisiva", estima.
Para o especialista, uma vitória "estratégica" para Kiev poderia consistir em "dividir em dois o destacamento do exército russo na Ucrânia através de Zaporizhzhia" (sudeste).
Mas ele lembra que mesmo quando a Ucrânia infligiu uma pesada derrota ao exército russo ao reconquistar Kherson (sul), Moscou não desistiu.
"Farão qualquer coisa"
"Os russos farão qualquer coisa, incluindo realizar mobilizações sem limites e empobrecer todo o seu país, se necessário, para manter os territórios ocupados e continuar suas conquistas", disse Minic.
Embora diga que "é muito cedo", Alterman prevê vários cenários: de Moscou "consolidando algumas conquistas" a "uma transição de liderança na Rússia que ponha fim à guerra", passando por "algum tipo de trégua".
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Mas nenhum dos lados parece realmente querer negociar por enquanto. Zelensky apresentou um plano de paz de 10 pontos que inclui o reconhecimento pela Rússia da integridade territorial da Ucrânia e a retirada de suas tropas.
Para o especialista do Ifri, a Rússia poderia aceitar "temporariamente" a independência da Ucrânia e inclusive um poder pró-União Europeia e pró-Otan em Kiev, mas "em troca do reconhecimento das conquistas russas na Ucrânia".
No entanto, esta é uma linha vermelha que Kiev nunca cruzará, de acordo com especialistas.
Ameaça nuclear
Outra incerteza diz respeito às armas nucleares e seu possível papel na próxima fase da guerra. A Rússia fez uma ameaça velada sobre o uso de armas atômicas no início do conflito.
Embora tenha sido um "blefe", segundo Fix, esse cenário pode se tornar uma "possibilidade muito séria" se a Ucrânia conseguir recuperar a Crimeia, aponta Minic.
Se chegar a esse ponto, a dissidência interna na Rússia pode disparar devido ao medo de uma guerra nuclear e porque o uso de armas nucleares pode ser visto como uma revelação da fraqueza do presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com o especialista.
Além disso, Putin enfrenta pressão dentro da Rússia, mas de uma facção mais linha-dura liderada por Yevgeny Prigozhin, fundador da milícia Wagner.
As próximas eleições podem ter uma enorme influência no futuro da guerra, incluindo as eleições legislativas na Ucrânia em outubro e a eleição presidencial nos Estados Unidos em 2024.
Para este ano, o apoio dos EUA está garantido, mas a aprovação do Congresso de um novo programa de ajuda para a Ucrânia não é certa, de acordo com Fix. Alguns governos aliados na Europa podem enfrentar o cansaço dos eleitores e a oposição política contra a guerra se ela se prolongar.
"Será mais difícil explicar por que esta guerra continua", segundo a especialista do Conselho de Relações Exteriores, para quem a Ucrânia é obrigada a registrar.
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