Vladimir Putin marcou a celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre os nazistas na Batalha de Stalingrado com uma exaltação ao potencial militar russo e advertências ao Ocidente. O chefe do Kremlin aproveitou para comparar a ofensiva nazista durante a Segunda Guerra Mundial à campanha militar na Ucrânia. "É incrível, mas estamos novamente ameaçados por tanques alemães", afirmou, assinalando que a Rússia vai se valer de todos os meios disponíveis contra qualquer país que venha a intimidá-la.
As comemorações acontecem em um momento de acirrado combate entre forças russas e soldados ucranianos na ex-república soviética, palco há quase um ano de uma ofensiva lançada por Putin, segundo Moscou, para "desmilitarizar" e "desnazificar" o país vizinho. O presidente russo se apresenta há anos como o maior defensor da memória do triunfo soviético contra a Alemanha nazista, feito que é motivo de muito orgulho entre seus compatriotas.
Diante de soldados cobertos de medalhas e oficiais reunidos em Volgogrado (sudoeste), antigamente chamada de Stalingrado, Putin equiparou os tanques Panzers de Adolf Hitler aos veículos blindados Leopard 2, de fabricação alemã, que países ocidentais prometeram fornecer a Kiev.
"Mais uma vez, os sucessores de Hitler querem enfrentar a Rússia em solo ucraniano, usando 'bandêrovtsis'", assinalou, referindo-se aos partidários do líder ultranacionalista Stepan Bandera (1909-1959), que colaborou com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Depois de obter a promessa do envio de tanques modernos, a Ucrânia reivindica mísseis de precisão com alcance de mais de 100km para destruir as linhas de abastecimento russas e compensar sua inferioridade numérica em tropas e armas. Até agora, porém, os países ocidentais vêm-se mostrando reticentes, temendo que os disparos cheguem ao território russo.
Horas antes das declarações de Putin, o Kremlin alertou que não medirá esforços para enfrentar todas as ameaças. "Quando as novas armas entregues pelo 'coletivo ocidental' aparecerem, a Rússia vai usar, plenamente, seu potencial existente para responder", declarou porta-voz da Presidência, Dmitri Peskov, citado pelas agências locais de notícias.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, por sua vez, acusou a União Europeia (UE), de querer destruir a Rússia, em "uma derrota de modo que não se levante durante décadas".
Saiba Mais
- Mundo Papa pede que jovens do Congo construam futuro melhor e lutem contra corrupção
- Mundo Gripe aviária é detectada em mamíferos no Reino Unido: há riscos para humanos?
- Mundo Governo da Flórida determina que professores escondam livros; entenda
- Mundo 'Torturamos ucranianos': a confissão de ex-oficial do Exército russo
Busto de Stalin
A vitória em Stalingrado tem seu simbolismo aumentado à medida que se aproxima o primeiro aniversário da invasão russa na Ucrânia, deflagrada em 24 de fevereiro de 2022. Segundo seus críticos, Vladimir Putin usa a história para justificar suas políticas, glorificando o poder soviético e minimizando seus crimes.
Às vésperas do 80º aniversário da derrota dos nazistas, um busto de Josef Stalin foi inaugurado em Volgogrado, ao lado de dois líderes militares famosos por seus papéis na batalha: Georgy Zhukov e Aleksandr Vasilevsky. Desde a queda da URSS, as autoridades russas mantiveram uma posição ambivalente em relação ao líder soviético.
Stalin é oficialmente condenado pelo terror de Estado que orquestrou na década de 1930 e até a sua morte, em 1953, mas permanece enterrado em frente ao Kremlin, na Praça Vermelha. Muitos russos continuam a venerá-lo por seu papel no revés sofrido pela Alemanha nazista nas mãos da União Soviética.
Novo pacote
Em Kiev, o presidente Volodymyr Zelensky, acusou Moscou de concentrar tropas para lançar uma operação de "vingança" contra a Ucrânia e as potências europeias. O líder ucraniano fez o alerta ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A chefe do Executivo europeu anunciou que a UE vai lançar um décimo pacote de sanções contra a Rússia, "exatamente um ano depois do início da invasão".
Embora não tenha detalhado as novas medidas, Von der Leyen garantiu que as punições já adotadas impuseram um atraso de "uma geração" à economia russa. Implementada no início de dezembro pelo bloco europeu, pelo G7 (grupos das maiores potências ocidentais) e pela Austrália, a limitação do preço do barril de petróleo bruto a US$ 60, por exemplo, custa a Moscou cerca de 160 milhões de euros (US$ 175 milhões) por dia, segundo ela.
Zelensky pediu que essas sanções sejam adotadas o mais rápido possível e que se acelere o processo de adesão de seu país ao bloco europeu. Essa é uma das questões centrais da cúpula de hoje entre Ucrânia e a UE. A ex-república soviética obteve em junho de 2022 o status de candidata a ingressar no grupo formado atualmente por 27 países, mas os processos de adesão costumam ser longos.
Um dos critérios do processo de adesão é o combate à corrupção na Ucrânia. Nesse sentido, Von der Leyen elogiou as medidas policiais e judiciais dos últimos dias contra funcionários suspeitos de malversação de recursos públicos no país.
No campo de batalha, as forças russas obtiveram recentemente algumas vitórias, em particular nos arredores de Bakhmut, cidade ucraniana que Moscou tenta conquistar há meses. Sem recursos para irem embora, os últimos moradores permanecem no local, ainda que as condições sejam infernais. "Como poderia fugir?", pergunta Natalia Shevchenko, uma mulher de 75 anos. Escondida em um porão há muito tempo, ela diz que se sente "como uma toupeira" quando vai à superfície e sente que seus olhos precisam se ajustar à luz.
Saiba Mais
- Mundo Papa pede que jovens do Congo construam futuro melhor e lutem contra corrupção
- Mundo Gripe aviária é detectada em mamíferos no Reino Unido: há riscos para humanos?
- Mundo Governo da Flórida determina que professores escondam livros; entenda
- Mundo 'Torturamos ucranianos': a confissão de ex-oficial do Exército russo
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Confronto sangrento
A Batalha de Stalingrado começou em julho de 1942 e durou 200 dias e 200 noites. Considerada uma das mais sangrentas da História, com um total de quase 2 milhões de mortos em ambos os lados, ela mudou o rumo do conflito na União Soviética, desmoralizada após várias derrotas.