MIANMAR

Junta militar de Mianmar prolonga estado de emergência e adia eleições

O país enfrenta uma grave crise desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, marcada pela dura repressão dos militares contra os opositores e por episódios de violência em diversas partes do país

Agence France-Presse
postado em 01/02/2023 15:09 / atualizado em 01/02/2023 15:10
 (crédito: HANDOUT / MYANMAR MILITARY INFORMATION TEAM / AFP)
(crédito: HANDOUT / MYANMAR MILITARY INFORMATION TEAM / AFP)

A junta militar que governa Mianmar prolongou nesta quarta-feira (1º/2), por seis meses, o estado de emergência, o que implica no adiamento das eleições que estavam marcadas para agosto, desafiando os focos de resistência e uma greve silenciosa em repúdio ao segundo aniversário do golpe que a colocou no poder.

O país enfrenta uma grave crise desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, marcada pela dura repressão dos militares contra os opositores e por episódios de violência em diversas partes do país, em um cenário de colapso da economia.

O líder da junta militar, Min Aung Hlaing, admitiu que as autoridades não têm o controle total de mais de um terço dos municípios do país, informaram veículos de comunicação estatais nesta quarta.

No segundo aniversário desde o golpe, a mídia estatal reportou que o Conselho Nacional de Defesa e Segurança de Mianmar estabeleceu a ampliação por mais seis meses do estado de emergência imposto pelos militares quando derrubaram o governo do partido de Aung San Suu Kyi.

Estender o estado de emergência supõe um adiamento da data das eleições. O líder da junta reiterou sua promessa de realizar eleições gerais, mas deixou claro que os militares terão papel preponderante.

Os militares sempre serão os "guardiões dos interesses do Estado e das pessoas [...] seja qual for o governo", disse Hlaing, citado pela emissora estatal MRTV.

Ruas desertas 

Este anúncio coincide com um protesto silencioso que esvaziou as ruas e fechou o comércio para comemorar o golpe, um aniversário em que, para marcar a data, vários países ocidentais decidiram impor novas sanções contra os generais que comandam o país. Contudo, medidas similares tomadas no passado tiveram pouco impacto sobre os militares.

Em Yangon - centro econômico do país - as ruas estavam vazias desde o início da manhã, segundo um correspondente da AFP.

As avenidas que levam ao famoso pagode de Shwedagon - santuário budista que domina a paisagem da cidade e que atrai muitos peregrinos - estavam praticamente desertas. A segunda maior cidade do país, Mandalay, também aderiu ao protesto, segundo moradores.

"Havia poucas pessoas caminhando nos bairros, mas quase nenhuma atividade nas ruas principais", disse uma fonte que pediu para não ser identificada.

A imprensa também divulgou imagens das ruas vazias na cidade de Mawlamyine, no leste do país. Quase 200 simpatizantes dos militares organizaram uma passeada pelo distrito histórico de Yangon no início da tarde, escoltados por soldados.

'Agitação e violência' 

Os militares justificaram o golpe de 1º de fevereiro de 2021 com denúncias - sem comprovação - de uma fraude nas eleições do ano anterior, que o partido de Suu Kyi venceu por ampla maioria.

O estado de emergência deveria acabar em janeiro. Entretanto, o Conselho Nacional de Defesa e Segurança, controlado pela junta, se reuniu ontem para discutir a situação e determinou que o país "ainda não voltou à normalidade".

O conselho denunciou que os opositores à junta militar tentaram tomar "o poder estatal com agitação social e violência". Phil Robertson, da ONG Human Rights Watch, disse à AFP que a ampliação do estado de emergência mostra que, para Min Aung Hlaing, "só lhe interessa a sua permanência no poder".

Para o analista independente David Mathieson, "é uma clara admissão do fracasso" da junta "para conter a guerra civil que o golpe de Estado desencadeou".

Mais de 2.900 pessoas morreram na repressão militar contra os dissidentes desde o golpe e mais de 18.000 foram detidas.

A junta militar concluiu recentemente uma série de julgamentos a portas fechadas contra Suu Kyi, condenada a um total de 33 anos de prisão, em um processo que grupos de defesa dos direitos humanos tacharam de "farsa".

Thet Naung, ativista na região de Sagaing, no norte do país, onde militares e dissidentes travam combates, contou à AFP que seu principal desejo para 2023 é "liberdade e poder voltar para casa".

"O que queremos é ser felizes e viver livres, mas perdemos tudo. Passamos a maior parte do tempo na floresta e longe das cidades", disse.

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