Jornal Correio Braziliense

Oriente Médio

Antony Blinken faz apelo contra a escalada do conflito no Oriente Médio

Secretário de Estado norte-americano exorta israelenses e palestinos a recuperarem a calma e a evitarem o acirramento do conflito, após incursão em Jenin e atentados em Jerusalém. Casa Branca defende solução baseada em dois Estados

Pouco efeito

Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, Alon Ben-Meir admitiiu ao Correio que o apelo de Blinken pela contenção deve surtir pouco efeito inicialmente. "Não acredito que a violência seja contida, principalmente porque os palestinos não detêm o controle completo sobre muitos grupos extremistas. Israel também carece de domínio absoluto sobre as ações de muitos dos colonos", disse. Ele acredita que a manutenção da calma depende mais do que apelos. "É preciso tomar ações concretas no terreno, o que não acho que ocorrerá enquanto Itamar Ben-Gvir, um 'falcão' na política, permanecer no comando da segurança nacional."

Para Ben-Meir, não existem condições maduras, no terreno, para negociações de paz sérias. "Infelizmente, mesmo os Estados Unidos, com seus melhores esforços, não serão capazes de fazer com que as duas partes se sentem e entrem em um diálogo significativo. O melhor que podem fazer é realizar um esforço supremo para manter a calma por um período de tempo mais longo, a fim de criar ambiente fértil para negociações substantivas. Mais uma vez, não vejo isso acontecendo tão cedo."

Por sua vez, o palestino Bishara Bahbah — vice-presidente do Conselho Palestino dos EUA — concorda que o importante, agora, são as ações tomadas principalmente pelos Estados Unidos e por Israel. "A violência do povo palestino é uma indicação de sua frustração e da descrença em relação ao futuro do processo de paz e à interminável ocupação israelense. O governo de Joe Biden tem sido incapaz de implementar duas promessas feitas durante a campanha: as reaberturas do consulado dos EUA em Jerusalém Oriental e do escritório da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em Washington", lembrou.  

Bahbah entende que isso mostra a impotência da Casa Branca. De acordo com ele, a única medida que poderia reduzir tensões é a retomada das negociações de paz. "Sem uma solução baseada em dois Estados, testemunharemos a violência repetidas vezes. A Autoridade Palestina está desamparada e, na minha opinião, deveria se dissolver e se instalar no exílio, em um país vizinho árabe, talvez a Argélia". Segundo o palestino, Biden deixou claro, desde o começo, que o conflito israelo-palestino não é prioridade para Washington. 

Eytan Gilboa, professor de comunicação política da Universidade Bar Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), disse que o principal assunto abordado por Blinken com Netanyahu foi a adoção de medidas para impedir o Irã de se tornar potência nuclear. Ele explicou que, depois dos "violentos confrontos com terroristas da Jihad Islâmica", em Jenin, e de atentados contra judeus em Jerusalém, Israel discute ações de combate ao terror. "Blinken pediu a Israel que se abstenha de retaliações duras e que a Autoridade Palestina renove a coordenação de segurança com o Estado judeu  e estabeleça seu domínio sobre Jenin e outras cidades na Cisjordânia."

Eu acho...

Arquivo pessoal - Crédito: Arquivo Pessoal. Bishara A. Bahbah, professor da Universidade Al-Quds, em Jerusalém, Israel.

"Os EUA não pressionarão Israel a se sentar na mesa de negociações. Mesmo que o fizesse, Israel pode escolher concordar com um número de temas no papel. Quando chegar a hora de implementar qualquer tema acordado com os palestinos, Israel encontrará obstáculos para impedir sua efetivação. Neste momento, Israel está em vantagem e não mostra interesse em compromissos com os palestinos que os forçariam a desistir de uma polegada da terra."

Bishara Bahbah, vice-presidente do Conselho Palestino dos Estados Unidos

Alfred Muller/Divulgação - 2015. Crédito: Alfred Muller/Divulgação. Eytan Gilboa, especialista do Centro para Estudos Estratégicos Besa (em Ramat-Gan, a 47km de Jerusalém).

"O governo Biden sabe que, ante a debilidade e a impopularidade da Autoridade Palestina e de Mahmud Abbas, e o governo de direita de Israel, não há chance de uma solução negociada para o conflito. Os EUA condenaram fortemente o terrorismo palestino e a incitação ao ódio e à violência, e pediram a Israel que mantenha o status quo sobre o Monte do Templo e a Cisjordânia."

Eytan Gilboa, professor de comunicação política da Universidade Bar Ilan (em Ramat Gan)