"Nenhuma mãe deveria passar pelo que estou passando", desabafou RowVaughn Wells, ao admitir que ainda não teve tempo de chorar a morte do filho. Em 7 de janeiro passado, Tyre Nichols, um homem negro de 29 anos, foi parado por policiais, acusado de "direção imprudente", em Memphis (Tennessee). Segundo a polícia, houve um "confronto" entre os agentes e o motorista. Nichols fugiu a pé e foi detido em seguida. Hospitalizado, morreu três dias depois — a necropsia encomendada por sua família apontou "extenso sangramento provocado por uma forte surra".
Cinco policiais, negros, foram presos e indiciados por homicídio culposo, agressão e lesões, além de sequestro. Eles pagaram fiança e responderão em liberdade. O caso reacendeu o medo de tensões raciais nas ruas do país. O vídeo da prisão seria divulgado na noite de ontem. "Acho que vão ficar chocados quando virem as imagens", admitiu a chefe da polícia de Memphis, Cerelyn Davis. Familiares e advogados denunciam que Nichols apanhou tanto, que os policiais o deixaram "irreconhecível".
O presidente Joe Biden telefonou para Row Vaughn Wells. A conversa durou 10 minutos. Biden falou sobre as tragédias que se abateram sobre sua própria família. Na quinta-feira, a Casa Branca divulgou nota em que o democrata dizia que a família de Nichols "merece uma investigação rápida, completa e transparente" sobre a morte dele. "Não podemos ignorar que encontros fatais com agentes da lei têm impacto, de forma dirferente, as pessoas negras e pardas", declarou o democrata. "A indignação é compreensível, mas a violência nunca é aceitável. A violência é destrutiva e contrária à lei", comentou.
Antonio Romanucci, advogado da família de Nichols, contou ao Correio que teve acesso ao vídeo da prisão antes de se tornar público. "Só posso descrever o que vi como algo brutal, selvagem, violento e vulgar. O que aconteceu a um jovem indefeso, que não sabia que crime tinha cometido, é absolutamente perturbador e nojento. Isso nunca deveria acontecer", afirmou, por telefone. "Nichols estava muito perto de sua casa quando a polícia o parou pela segunda vez. Ele gritava por sua mãe, que, claro, não podia ouvi-lo."
De acordo com Romanucci, o tipo de unidade policial que abordou Nichols claramente mirava minorias. "Tyre Nichols foi uma vítima inocente, neste caso. Ele não cometeu nenhum crime."