Os ucranianos ainda comemoravam as notícias de que Alemanha, Estados Unidos, Noruega e Polônia enviarão tanques de guerra Leopard 2 e M1 Abrams a Kiev, quando a capital da ex-república soviética e outras cidades enfrentaram horas de intenso ataque de mísseis russos. A nova onda de bombardeios deixou pelo menos 11 mortos e o mesmo número de feridos, além de ter provocado blecautes, em meio à destruição de infraestrutura civil. O general Valery Zaluznny, chefe das Forças Armadas da Ucrânia, confirmou que a Rússia disparou 55 mísseis, ontem, dos quais "47 foram destruídos, 20 deles nas imediações de Kiev". Durante a madrugada, 24 drones Shahed de fabricação iraniana foram abatidos.
Moradora de Brovary, cidade a 20km de Kiev, a historiadora Kateryna Shtepa — chefe do Departamento de Planejamento Estratégico do Instituto de Relações Governamentais — disse ao Correio que a Rússia tenta travar uma guerra contra a população civil. "Moscou não perde a esperança de nos deixar sem eletricidade. Somos gratos por nossos aliados pelas armas que enviaram. Apenas um míssil russo atingiu o alvo. Nós sabemos o que fazer em caso de ataques massivos com mísseis, e estamos prontos para qualquer cenário. Pela manhã, um dos projéteis destruiu a infraestrutura crítica, mas nossos especialistas rapidamente estabilizaram a situação", relatou.
Ainda segundo Kateryna, o bombardeio de ontem foi uma reação à transferência de novas armas por parte do Ocidente. "Isso é o estilo russo. Quando os ucranianos são bem-sucedidos no campo de batalha ou no front diplomático, a Rússia dispara mísseis contra civis", comentou. "Os ataques de hoje (ontem) não foram algo novo para nós. Houve sirenes antiaéreas durante quase toda a quarta-feira, e existia a sensação de que uma ofensiva massiva era iminente. Hoje pela manhã, o perigo em Kiev e região durou 4 horas e 22 minutos."
Anton Suslov, especialista da Escola de Análise Política (em Kiev), não vê uma escalada por parte de Moscou. "Os russos utilizaram mísseis hipersônicos no verão e no outono. O estoque de mísseis do Kremlin está se esgotando, o que torna os bombardeios menos frequentes e com menor quantidade de artefatos", avaliou à reportagem.
Rotina
De acordo com Suslov, muitos cidadãos ucranianos se adaptaram aos alarmes antiaéreos. "De repente, o dia em que você acorda por causa do som de uma explosão passa a ser normal. Já recebi notificação sobre risco de bombardeios quando eu estava a caminho do trabalho. Vi muita gente nas estações de metrô, que passaram a servir de abrigo durante os ataques aéreos", relatou. "Quando cheguei hoje (ontem) ao meu escritório, escutei um míssil se aproximar. Felizmente para mim, ele atingiu um alvo em outro distrito. Mas as sirenes antiaéreas soaram por mais de quatro horas."
Os ataques de ontem ocorreram horas depois de o Kremlin advertir que o envio de tanques à Ucrânia representa um "envolvimento direto" do Ocidente na guerra, que completará um ano em 24 de fevereiro. A Alemanha espera entregar, entre o fim de março e o começo de abril, 14 tanques Leopard 2 a Kiev, anunciou o seu ministro da Defesa, Boris Pistorius. O Reino Unido também trabalha com o fim de março para a remessa de seus tanques Challenger 2 à Ucrânia. Ontem, o governo do Canadá anunciou que, nas próximas semanas, enviará quatro tanques Leopard, "prontos para o combate", segundo a ministra da Defesa canadense, Anita Anand.