O governo dos Estados Unidos afirmou nesta quinta-feira (26/1) que está "muito preocupado com a situação humanitária e de saúde dos Yanomami".
Desde o fim de semana passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma comitiva de ministros visitaram a terra indígena dos yanomami em Roraima, as imagens de crianças e adultos em estado grave de desnutrição, e com doenças como malária e verminoses, causaram consternação no mundo.
À BBC News Brasil, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou que o governo brasileiro ainda avalia o escopo da crise humanitária e medidas adicionais que poderiam ser apropriadas, mas assegurou que "o governo dos EUA está pronto para ajudar de qualquer maneira possível".
O Departamento de Estado ainda destacou a decretação do estado de emergência de saúde por Lula como uma forma eficiente de "responder às necessidades do povo yanomami".
"Os EUA apóiam o governo brasileiro em sua intenção e compromisso de eliminar a mineração ilegal, o desmatamento e outras atividades ilícitas que contribuíram para esta crise ao longo do tempo", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado.
"Os EUA apóiam o governo brasileiro em sua intenção e compromisso de eliminar a mineração ilegal, o desmatamento e outras atividades ilícitas que contribuíram para esta crise ao longo do tempo", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado.
O presidente Lula deverá visitar o colega americano Joe Biden em Washington no dia 10 e o tema deverá ser abordado na conversa entre os presidentes.
Tanto a pauta ambiental como a dos direitos indígenas são prioritárias para a gestão Biden, que enviou para a posse de Lula em Brasília a secretária de Interior Deb Haaland, a primeira indígena a ocupar um cargo de primeiro escalão do Executivo Federal americano.
Procurada pela BBC News Brasil para comentar a situação dos yanomami, Haaland preferiu remeter a reportagem ao Departamento de Estado. Antes de assumir a Secretaria de Interior de Biden, no entanto, Haaland era congressista e havia criado estreita parceria com a então deputada federal brasileira Joênia Wapichana, atualmente presidente da Funai. Ambas coordenavam esforços para avançar na questão dos direitos indígenas em âmbito interamericano.
Em dezembro de 2020, ainda como deputada, Haaland disse o seguinte à BBC News Brasil: "Continuaremos colocando (Jair) Bolsonaro na fogueira enquanto ele cometer violações dos direitos humanos, seguir no esforço para destruir a Floresta Amazônica e colocar nosso planeta em risco de um desastre climático ainda maior".
Kerry no Brasil
O governo Biden tem a expectativa de que Lula opere uma completa inflexão na política ambiental e indigenista adotada nos últimos quatro anos por Bolsonaro.
O Enviado Climático de Biden, John Kerry, pretendia viajar ao Brasil já em fevereiro para tentar avançar as parcerias entre os dois países para proteção do meio ambiente. Mas diante da provável vinda de Lula a Washington, a visita de Kerry deve ser adiada.
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Durante sua campanha presidencial, ainda em 2019, Biden chegou a dizer publicamente que queria liderar um fundo bilionário internacional para a conservação da Amazônia. O fundo, no entanto, jamais foi criado, já que os americanos cobravam metas e resultados práticos de redução do desmatamento que o governo Bolsonaro jamais ofereceu.
Com as recentes ações da gestão Lula, como colocar Marina Silva à frente da pasta do Meio Ambiente, prometer desmatamento zero até 2030 e fazer intervenção na área yanomami com um plano para desintrusão de 20 mil mineradores ilegais, a criação do fundo se torna mais provável.
A Polícia Federal abriu esta semana um inquérito para investigar possível crime de genocídio e responsabilidades de autoridades da gestão Bolsonaro no quadro crítico sanitário e humanitário dos yanomami. Bolsonaro chamou o assunto de "farsa da esquerda".
Em conversa com apoiadores na Flórida, onde ele está desde 30/12, Bolsonaro disse que a ele os yanomami pediram apenas "internet", segundo relato da Folha de S.Paulo.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64420276