Jornal Correio Braziliense

Três perguntas para...

Oleksandra Matviichuk, chefe da organização não governamental ucraniana Centro pelas Liberdades Civis (CCL), uma das ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz em 2022

Como a senhora vê o estado de espírito dos moradores de Kiev às vésperas do primeiro aniversário da invasão?

Eu devo admitir que nós vivemos em meio a uma incerteza absoluta. É impossível planejarmos não apenas o dia de hoje, mas também os próximos. Você nunca sabe quando o ataque russo começará ou quando a eletricidade sumirá. Nós, ucranianios, desenvolvemos habilidades bastante essenciais, a fim de fazermos o que precisa ser feito, mesmo em tais circunstâncias.

Putin insiste que vencerá a guerra. O que pensa sobre isso?

O povo da Ucrânia está pronto para seguir resistindo. Essa guerra tem características de genocídio. Não temos outra escolha. Se pararmos de lutar, não mais existiremos. Ainda há uma grande unidade entre as pessoas e entre diferentes setores da sociedade. Estamos prontos para defender o nosso território e a nossa gente, assim como nossos valores e nossas escolhas democráticas. 

De que forma avalia o envio de tanques dos EUA e da Alemanha à Ucrânia?

A Ucrânia precisa, mais do que rapidamente, de ser capaz de defender o nosso território, o nosso povo e a nossa liberdade. Infelizmente, Putin não vai parar até ser contido. O problema é que, a cada dia, com as discussões políticas e o atraso no envio de armamentos, seres humanos estão morrendo. Isso não ocorre apenas no front. As pessoas morrem também em territórios ocupados, em decorrência da tortura imposta pelos russos. Pessoas morrem durante os bombardeios, porque não há lugar seguro para onde se escapar dos foguetes russos. É  muito importante que, finalmente, a Alemanha e outros países tenham decidido fornecer armas à Ucrânia. Os valores do mundo civilizado devem ser protegidos. A democracia precisa ter a habilidade de se defender.