Depois de 30 anos em fuga, o "capo" (chefão) Matteo Messina foi capturado nesta segunda-feira (16/01) na Sicília.
Apelidado de "Diabolik", ele é descrito como "um homem extremamente perigoso".
Messina é considerado um dos líderes da Cosa Nostra, uma das máfias mais conhecidas da Itália e que foi representada na saga cinematográfica O Poderoso Chefão.
O poder das máfias italianas reside no controle e na exploração de áreas e comunidades. Os conceitos de família, poder, respeito e território são cruciais para entender sua dinâmica.
Segundo a agência europeia de segurança Europol, elas são capazes de manipular eleições e infiltrar seus membros em cargos administrativos mesmo fora dos territórios que controlam.
As máfias italianas operam globalmente e competem com grupos criminosos de países como Rússia, China e Albânia.
Veja abaixo os mais conhecidos nomes do crime organizado na Itália:
Máfia siciliana: Cosa Nostra
As gangues sicilianas estabeleceram o modelo para outras máfias. Eles começaram administrando a justiça local no século 19 e, a partir de então, cresceram em poder e sofisticação.
A Cosa Nostra, que significa "coisa nossa", é considerada a máfia original baseada em clãs familiares.
Ela é famosa pelo "omertá", um código de silêncio para demonstrar total lealdade. Quem não cumprir é considerado traidor e corre o risco de ser torturado ou executado. O descumprimento pode levar à punição de famílias inteiras.
Escondido por três décadas, Matteo Messina teria continuado a dar ordens a seus subordinados por meio de um sistema chamado pizzini, deixando pequenas notas de papel dobradas sob uma pedra em uma fazenda na Sicília.
Muitos sicilianos têm repulsa pelos clãs familiares criminosos por causa do pizzo, uma forma de extorsão de comerciantes locais pelas máfias italianas disfarçada como dinheiro de "proteção".
A Cosa Nostra ganhou notoriedade nos Estados Unidos ao se tornar uma força do crime organizado em Chicago e Nova York. Estabeleceu-se como a máfia italiana por excelência.
Ela acumulou bastante poder com a venda de álcool durante os anos em que a bebida foi proibida na década de 1920, durante a lei seca.
Seus principais negócios nos últimos anos foram tráfico de drogas, despejo ilegal de lixo tóxico e lavagem de dinheiro.
Segundo dados do FBI, estima-se que a Cosa Nostra e os outros três grandes grupos — a Camorra, 'Ndrangheta e a Sacra Corona Unita — tenham cerca de 25 mil membros no total.
No entanto, Anna Sergi, pesquisadora da Universidade de Essex, no Reino Unido, especialista em máfias, disse à BBC que esses dados são puras estimativas, pois são "organizações secretas com membros secretos".
A Cosa Nostra esteve em guerra com o Estado italiano durante o reinado do líder Salvatore "Toto" Riina.
Em maio de 1992, os homens de Riina detonaram uma bomba que matou o promotor Giovanni Falcone, a mulher dele e três guarda-costas.
Dois meses depois, seus homens atacaram novamente, matando o substituto de Falcone, Paolo Borsellino, e cinco de seus guarda-costas com outra bomba.
Riina morreu em 2017, aos 87 anos, enquanto cumpria uma sentença de 26 penas perpétuas por homicídio.
Tanto a sociedade quanto as autoridades italianas lutaram vigorosamente contra a Cosa Nostra nos últimos anos.
Um grupo antimáfia chamado Libera Terra coordena novos negócios, incluindo hotéis, com o dinheiro e os bens apreendidos da máfia.
E a polícia, no cerco recente a Matteo Messina, capturou vários de seus parentes nos últimos anos, confiscou muitos de seus negócios e isolou cada vez mais o capo.
Tanto a Cosa Nostra quanto a Camorra, a máfia napolitana, foram fortemente enfraquecidas pela polícia nas últimas décadas.
Máfia napolitana: Camorra
A Camorra vem da região da Campânia e seus membros mais influentes estão concentrados em Nápoles e Caserta.
Seu principal negócio é o tráfico de drogas e seus métodos são extremamente brutais.
Eles também recebem dinheiro de extorsão de empresas de construção, firmas de descarte de lixo tóxico e da indústria têxtil. E seus negócios incluem confecções em que são feitas imitações de peças de moda italianas.
A forma de atuação da Camorra foi documentada pelo jornalista italiano Roberto Saviano, que escreveu o livro Gomorra, que se tornou um best-seller .
Saviano vive há anos com a proteção constante de guarda-costas após receber diversas ameaças de morte.
Em entrevista à emissora pública americana PBS, Saviano explicou que a Camorra e a 'Ndrangheta tinham uma estrutura menos ligada à hierarquia que a Cosa Nostra, mas seriam mais poderosas, com lideranças mais jovens e muito mais violência.
Outro aspecto importante da máfia napolitana é que as mulheres desempenham um papel importante como mensageiras, contadoras e encarregadas de pagamentos dos membros da organização.
Máfia calabresa: 'Ndrangheta
A região localizada no "pé" da "bota" que é o mapa da Itália, a Calábria fica perto da Sicília e a 'Ndrangheta era originalmente uma ramificação da Cosa Nostra.
Seu nome vem do grego "andragathia", que significa coragem e lealdade.
A 'Ndrangheta se estabeleceu como a máfia mais poderosa da Itália hoje, especialmente após uma forte ação policial contra a Camorra e a Cosa Nostra nas últimas décadas.
Suas operações abrangem todos os continentes do mundo e faturam cerca de US$ 60 bilhões por ano com base em uma das regiões mais pobres da Itália.
Sua "moeda" é a cocaína. O grupo é dominante no mercado mundial e estima-se que controle até 80% do tráfico da droga na Europa.
Em 2019, uma operação internacional conjunta da Itália, Alemanha, Suíça e Bulgária levou à prisão de 335 suspeitos ligados ao grupo, entre advogados, contadores e ex-parlamentares.
Todos eram membros ou conectados com a família Mancuso, um dos 150 clãs familiares que compõem a 'Ndrangheta.
Foi o maior golpe da história neste grupo e o julgamento começou há dois anos na Calábria. As acusações incluem homicídio, extorsão e tráfico de drogas. Mais de 70 integrantes já foram condenados.
Máfia apuliana: a Sacra Corona Unita
É o menor dos grupos mafiosos da Itália. Está sediado na região de Puglia (Apúlia), no sul do país.
Seus integrantes são especializados em atividades como contrabando de cigarros, drogas e armas, além do tráfico de pessoas.
Puglia é uma entrada natural para o comércio ilegal dos países dos Balcãs.
Acredita-se que muitos dos clãs desta região tenham laços estreitos com gangues criminosas na Europa Oriental.