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Irã

Irã executa outras duas pessoas relacionadas a protestos

Essas mortes elevam o número de executados para quatro desde o início do movimento de protesto no Irã, em meados de setembro

As autoridades iranianas anunciaram neste sábado (7) a execução por enforcamento de dois homens condenados pelo assassinato de um paramilitar durante os protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, uma decisão que gerou repudio internacional.

Essas mortes elevam o número de executados para quatro desde o início do movimento de protesto no Irã, em meados de setembro.

"Mohammad Mahdi Karami e Seyyed Mohammad Hosseini, os principais autores do crime que levou ao martírio de Ruhollah Ajamian, foram enforcados na manhã deste sábado", informou a Mizan Online, agência de informações do Judiciário iraniano.

Os dois homens foram acusados de matar este membro da milícia paramilitar Basij, ligada ao Exército da Guarda Revolucionária, em 3 de novembro em Karaj, uma cidade a oeste de Teerã.

O tribunal de primeira instância condenou os três acusados à morte em 4 de dezembro. A sentença foi confirmada em 3 de janeiro pela Suprema Corte do Irã, um processo descrito como "acelerado" pelas ONGs de defesa dos direitos humanos.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos denunciou neste sábado os julgamentos "baseados em confissões extorquidas". "É chocante que o Irã continue a executar manifestantes, apesar da indignação internacional", disse o órgão no Twitter.

A União Europeia ficou "consternada" com as execuções, afirmou, neste sábado, em nota Nabila Massrali, porta-voz do chefe da diplomacia do bloco, o espanhol Josep Borrell.

A UE "apela mais uma vez às autoridades iranianas para que ponham imediatamente fim à prática altamente condenável de emitir e executar sentenças de morte contra manifestantes", disse o porta-voz.

A França classificou as execuções como "repugnantes", enquanto os Países Baixos anunciaram a convocação do embaixador iraniano.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que as execuções fortalecem a vontade de Berlim de "aumentar a pressão sobre Teerã dentro da UE".

AFP - Mohammad Mahdi Karami e Seyyed Mohammad Hosseini foram acusados de matar membro da milícia paramilitar Basij, ligada ao Exército da Guarda Revolucionária, em 3 de novembro em Karaj, uma cidade a oeste de Teerã

O desespero de um pai 

Desde o início das manifestações, o tribunal condenou à morte 14 pessoas ligadas a estes protestos, segundo uma contagem da AFP com base em informações oficiais.

Destas, quatro foram executadas, outras duas receberam a confirmação da sentença pelo Supremo Tribunal Federal, seis aguardam novo processo e duas podem recorrer da decisão.

Ativistas no país dizem que outras dezenas de pessoas enfrentam acusações que podem levar à pena de morte.

A República Islâmica foi abalada por um movimento de protesto após a morte em 16 de setembro de Mahsa Amini, uma mulher curda de 22 anos que foi presa por violar o rígido código de vestimenta do país, que inclui o uso obrigatório do véu.

Autoridades iranianas denunciam "distúrbios", alimentados por países estrangeiros e grupos de oposição e afirmam que centenas de pessoas foram mortas nos confrontos, incluindo membros das forças de segurança.

As execuções de sábado ocorreram apesar de uma campanha de ONGs pedindo que Teerã perdoasse Mohammad Mahdi Karami e Seyed Mohammad Hosseini. A Anistia Internacional denunciou um processo "injusto".

Em meados de dezembro, o pai de Mohammad Mahdi, Mashallah Karami, postou um vídeo nas redes sociais implorando às autoridades que anulassem a sentença de morte contra seu filho.

O advogado, Mohammad Aghasi, escreveu no Twitter que Karami não conseguiu se reunir com sua família antes de sua execução.

Segundo o grupo Iran Human Rights (IHR), sediado na Noruega, Karami tinha 22 anos e, segundo outras ONGs, Hosseini tinha 39.

"Simulacro de julgamento"

O diretor do IHR, Mahmood Amiry-Moghaddam, disse que os dois foram "sujeitos a tortura e condenados após um simulacro de julgamento" e pediu "sanções mais duras contra indivíduos e entidades iranianas".

Teerã já foi alvo de uma série de sanções internacionais em reação à repressão aos protestos.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, anunciou neste sábado que havia nomeado Ahmad-Reza Radan como o novo chefe da polícia nacional.

Em 2010, o Departamento do Tesouro americano colocou Ahmad-Reza Radan na lista de pessoas investigadas por violar os direitos humanos, após a polêmica reeleição do presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad, que levou a grandes protestos reprimidos pelo poder. Nesse mesmo ano, foi sancionado pela União Europeia.