Quase 54 anos após o primeiro Boeing 747 cruzar o céu, a aeronave deixa de fazer parte do mercado de transporte aéreo de passageiros e de cargas. Nesta terça-feira (31/1), o último modelo da linha, produzido pela Boeing Commercial Airplanes, foi entregue para a companhia Atlas Air, em uma cerimônia de despedida promovida pela empresa com a presença de milhares de funcionários e ex-funcionários que fizeram parte da produção do jato jumbo que mudou a história da aviação global.
“Hoje nós falamos sobre uma das mais importantes aeronaves de toda a história: a Rainha dos Céus. Por que o 747 é tão importante? Qual é o lugar dele na história? Essa aeronave democratizou as viagens aéreas — por causa do seu tamanho, por causa do seu alcance, por causa da economia que ele representa”, apontou Mike Lombardi, historiador da Boeing.
Desenvolvido entre 1965 e 1969, o 747 entrou para a história após o engenheiro Joe Sutter atender a demanda da companhia aérea Pan America Airways de ter um avião duas vezes maior do que os disponíveis no mercado à época. O objetivo da Pan America era reduzir em 30% o custo do assento e, para isso, era preciso abrigar mais passageiros em uma mesma aeronave.
Em 1965, Sutter começou a desenhar o 747, o primeiro avião de dois corredores da história. Foram necessários três anos para desenhar e construir a primeira unidade do boeing, um ciclo encerrado em 1969, quando a aeronave cruzou o céu pela primeira vez em um voo teste. Já em janeiro de 1970, a Pan Am passou a utilizar a aeronave. Com 366 lugares, os valores das passagens caíram e o acesso ao transporte aéreo ficou mais acessível para diversas classes sociais.
“Celebramos a existência de uma aeronave histórica, um avião que tem um profundo impacto em conectar o mundo”, frisa Earl Exum, presidente da Pratt & Whitney, primeira fabricante espacial americana a topar construir um motor capaz de fazer o 747 circular pelos céus ao redor do globo.
Introducing the last 747!
— The Boeing Company (@Boeing) January 31, 2023
Here is a look at how we put together the final #QueenOfTheSkies. pic.twitter.com/PGTy1tthVV
747 foi "superado" por modelos novos, mas não perdeu o legado
À medida que o mercado de aeronaves cresceu, novos modelos passaram a ser mais atraentes para as companhias aéreas, principalmente por oferecer, além de espaço, economia com os gastos de combustíveis. É por esse motivo que a Boeing anunciou, em julho de 2020, a extinção da linha.
Na época, a empresa já produzia meio avião por mês, uma média de cinco aviões em 2022. Uma diferença gritante ao se comparar com o ano de maior entrega do modelo, em 1990: 70 unidades foram produzidas e entregues para diversas companhias aéreas.
Apesar da decadência do modelo, Mike Lombardi frisa que os modelos novos de jatos, considerados mais eficientes, só existem porque o 747 estabeleceu um novo patamar na aviação. “Todos os dias pessoas ao redor do mundo podem comprar uma passagem e viajar em um 747. Essa aeronave forneceu o projeto, a base para cada avião que se seguiu”, declarou.
A última aeronave, que foi entregue à Atlas Air nesta terça-feira (31/1), é um 747-8 Freighter, e finaliza a produção da linha com 1.574 aviões produzidos nos quase 54 anos de produção.
A unidade foi finalizada no início de janeiro e já saiu da fábrica da Boeing em Everett, Washington, com a logo da nova dona. Um detalhe, no entanto, faz a aeronave ser única: um decalque bem próximo ao “nariz” da aeronave, em homenagem a Joe Sutter, que faleceu em 2016.
John Roundhill, engenheiro que trabalhou Sutter e substituiu o criador do 747, contou o segredo do sucesso do 747 aos funcionários e ex-funcionários da empresa. “A linha mudou a vida das pessoas ao redor do mundo e isso ocorreu porque uma série de pessoas não só foi responsável por produzir um avião tão potente, como também foram responsáveis por aprimorá-lo cada vez mais e mais”, declarou.
Emocionado, ele desejou união às equipes que trabalhassem nos próximos grandes modelos da empresa. “O 747 foi um sucesso apenas por essa união e objetivo comum em construir algo único. Nós estávamos unidos e também dedicados a cuidar um do outro durante todo o processo. E é isso que desejo à próxima geração de pessoas que trabalharão nas próximas inovações da Boeing”, reafirmou.
A Boeing afirmou que todos os trabalhadores que estavam na ativa na produção do modelo foram realocados para outros projetos. Uma parte deles também pediram uma aposentadoria voluntária.
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