Enquanto recebia a notícia de que a Alemanha estaria disposta a enviar tanques Leopard 2 para ajudar a Ucrânia a combater os invasores russos, Volodymyr Zelensky precisava lidar com um inimigo interno, que agia bem diante de seus olhos: a corrupção. O presidente ucraniano adotou uma política de "tolerância zero" contra irregularidades no Estado e promoveu a demissão de vários governadores regionais e vice-ministros. Em alguns casos, as próprias autoridades se anteciparam e anunciaram o afastamento.
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Segundo o jornal The Guardian, desde sábado passado, 15 integrantes do governo deixaram seus postos — seis tiveram acusações de corrupção expostas pela imprensa e por órgãos de controle. Entre as autoridades alvejadas pela purga, estão cinco governadores regionais — Dnipropetrovsk (centro), Sumy (nordeste), Zaporizhzhia e Kherson (sul) e Kiev — e quatro vice-ministros, além do vice-chefe do gabinete presidencial, Kyrylo Tymoshenko, e do vice-procurador-geral, Oleksiy Symonenko.
Vyacheslav Shapolav, vice-ministro da Defesa, responsável pelo apoio logístico do Exército e acusado de assinar contratos de alimentos a preços inflacionados, também foi demitido. Especialista da Escola de Análise Política (naUKMA), em Kiev, Anton Suslov disse ao Correio que medidas anticorrupção têm sido o fio condutor da comunicação entre a União Europeia (UE) e a Ucrânia, desde a assinatura do Acordo de Associação da ex-república soviética ao bloco, em 2014. "Agora, nós temos o status de candidatos a país-membro da UE. Não podemos ignorar o problema da corrupção, ainda mais pernicioso em tempos de guerra", afirmou. Ontem, completaram-se 11 meses da invasão russa.
De acordo com Suslov, Zelensky deseja que a Ucrânia se torne parte da UE o mais breve possível. "Por isso, ele está pronto para tomar ações decisivas contra os corruptores. Atualmente, não há necessidade de quaisquer medidas adicionais. Os políticos apenas devem permitir que as instituições anticorrupção funcionem", destacou. Por sua vez, Olexiy Haran, professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla, a purga de Zelensky afeta cargos de segundo escalão, como vice-ministros. "Sabemos que existem casos de corrupção em qualquer país, mesmo durante uma guerra, infelizmente. O ponto positivo dessa história é que os casos de corrupção foram revisados por jornalistas, e houve uma reação contundente da sociedade civil", disse à reportagem.
Haran acredita que a decisão de Zelensky mostra que a Ucrânia está mais perto dos padrões adotados pela União Europeia. "O problema persistirá se houver uma continuidade da estrutura corrupta", advertiu. Ele entende que é hora de as autoridades ucranianas manterem a luta anticorrupção. "É importante que o presidente demonstre à sociedade ucraniana os esforços em combater o problema", acrescentou.
Tanques
A revista Der Spiegel informou, ontem, que o chanceler alemão, Olaf Scholz, cedeu à pressão internacional e decidiu entregar tanques Leopard 2 a Kiev, depois de meses de debate. A expectativa é de que o chefe de governo faça o anúncio formal ainda hoje. Haran classificou a provável decisão como "atrasada, porém, muito importante". "A Rússia tem escalado a guerra, com ataques à infraestrutura civil. Precisamos receber tanques, caças e sistemas de defesa antimísseis. É uma mudança na postura política da Alemanha. Berlim tem enviado veículos blindados de transporte de tropas e lança-foguetes ao meu país", admitiu o ucraniano.
Suslov considera que o suposto reposicionamento da Alemanha era esperado. "Os alemães estavam relutantes em fornecer tanques antes de outros países. A França e a Alemanha anunciaram a decisão de enviar tanques. Quase ao mesmo tempo, a 'Coalizão Leopard', liderada pela Polônia, foi lançada."
O estudioso entende que a Ucrânia dispõe de menos recursos do que a Rússia. "Necessitamos do maior número possível de armas modernas. O Leopard não é muito avançado, mas integra várias forças armadas na Europa. É passível de ser transferido a Kiev de forma relativamente rápida e em números substanciais", avaliou Suslov. A TV CNN divulgou que os EUA estudam embarcar uma remessa de tanques Abrams para a Ucrânia.
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