Racha dentro do Partido Republicano enfraquece influência de Trump

Rebelião dentro do partido do ex-presidente dificulta a escolha do novo líder da Câmara dos Representantes e enfraquece a influência política do magnata, após lobby por Kevin McCarthy

Rodrigo Craveiro

postado em 05/01/2023 06:00

(crédito: Olivier Douliery/AFP)

Um impasse histórico para escolher o presidente da Câmara dos Representantes expôs fraturas no Partido Republicano e colocou em xeque a influência de Donald Trump em suas fileiras. Apesar dos apelos do magnata para que os representantes mais ultraconservadores do partido cerrassem apoio a Kevin McCarthy, levando-o ao terceiro cargo mais importante dos Estados Unidos, não houve unanimidade em torno do nome do deputado, depois de seis votações em dois dias.

Pelo menos até meio-dia de hoje (14h em Brasília), a cadeira mais importante da Câmara permanecerá vazia, apesar da maioria republicana e graças a 21 deputados rebeldes, que pendiam a optar pelo nome de Byron Donalds, 44 anos, representante da Flórida. Donalds foi um dos 147 republicanos que defenderam a rejeição aos resultados da eleição presidencial de 2020, segundo o jornal The New York Times. O site The Hill, no entanto, apontava sinais de progresso nas negociações. Às 22h de ontem (hora de Brasília), os deputados concordaram em adiar uma sétima votação para o início da tarde de hoje. Em 1923, os deputados somente chegaram a um consenso depois de três dias e de nove rodadas de votação.

Na manhã de ontem, ao fim da quarta votação, Trump fez um chamado a todos os republicanos para que apoiassem McCarthy. "É hora de todos os nossos membros republicanos da Câmara votarem em Kevin, fecharem o acordo e alcançarem a vitória", escreveu o ex-presidente, em letras maiúsculas, em sua plataforma Truth Social. "Kevin McCarthy fará um bom trabalho, e talvez até um ótimo trabalho", acrescentou Trump, que temia uma "derrota vergonhosa". De acordo com o jornal The Washington Post, quase todos os 21 deputados ultraconservadores que votaram contra McCarthy eram leais ao magnata.

A demora na eleição do novo presidente da Câmara compromete o capital político de Trump, que pretende tentar um retorno à Casa Branca nas eleições de 5 de novembro de 2024. Por sua vez, o caos no Capitólio, com a ameaça de paralisação das atividades legislativas, é interpretado como sinal de força do presidente democrata, Joe Biden.

Chip Roy, deputado pelo Texas e um dos 21 republicanos rebeldes, justificou a recusa em apoiar Kevin McCarthy. "Os Estados Unidos querem uma nova cara, uma nova visão, uma nova liderança", comentou.

Poder abalado

Professor de ciência política da Universidade de Indiana, Gerald C. Wright afirmou ao Correio que Trump não detém o mesmo controle de antes do Partido Republicano. "Os rebeldes do Caucus da Liberdade não parecem prestes a ceder e a conceder apoio a Kevin McCarthy", comentou, ao citar um grupo de deputados formado oito anos atrás para impulsionar a liderança da Câmara à direita na votação de temas fiscais e sociais.

Para Wright, todas as indicações sugerem que o poder de Trump dentro do partido, pelo menos entre a elite republicana, tem se esvaído. "Nós teremos que ver se ele consegue fazer com que o slogan 'Tornar a América grande novamente' sobreviva entre a massa de republicanos. Meu palpite é que o ex-presidente está perdendo apoio ali também."

O estudioso explicou que os democratas não se mostram tão preocupados com o impasse na Câmara porque os grandes projetos de lei aprovados nos dois primeiros anos de governo Biden serão implementados. "Qualquer presidente da Câmara escolhido terá dificuldades para governar", previu Wright.