O Partido Republicano conquistou, ainda que por pequena margem, a maioria dos assentos da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nas eleições de novembro passado. Mas, ontem, na abertura do ano legislativo, a divisão entre os deputados da legenda gerou uma situação que não se via há um século. Após três tentativas, não se atingiu o mínimo de votos suficientes para eleger o novo presidente da Casa. Não acontecia nada parecido desde 1923.
Uma nova votação será realizada hoje para tentar resolver o impasse. Favorito para substituir a democrata Nancy Pelosi, o republicano Kevin McCarthy não conseguiu acalmar a revolta de apoiadores do ex-presidente Donald Trump, evidenciando uma cisão no partido.
O presidente da Câmara baixa, conhecido como "speaker", é a terceira figura mais importante da política americana. Para a eleição, é necessária uma maioria de 218 votos. McCarthy não alcançou atingir esse patamar devido à oposição de cerca de 20 congressistas trumpistas. "Kevin não acredita em nada, não tem ideologia", afirmou Matt Gaetz, que ocupa um assento pela Flórida.
O impasse foi, de certa forma, inesperado. A candidatura de McCarthy atraiu, desde o início, um apoio amplo dentro do seu partido. O anúncio de sua indicação no plenário foi recebido com aplausos de pé nas fileiras americanas.
Entretanto, o republicano da Califórnia, líder da oposição nos dois primeiros anos de governo do presidente Joe Biden, se vê debilitado pelo desempenho do partido nas eleições de meio de mandato, que não cumpriu os prognósticos. Esperava-se uma onda vermelha, que não aconteceu. Republicanos conquistaram 222 assentos contra 213 dos democratas — uma cadeira está vaga após a morte, de Donald McEachin, da Virgínia, no fim de novembro.
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Concessões
Mc Carthy parece estar disposto a fazer concessões aos mais conservadores para evitar que a história se repita, uma vez que, em 2015, a ala mais à direita de seu partido o impediu de ocupar o cargo. Contudo, não pode se dar ao luxo de se colocar contra os republicanos moderados.
Embora a margem de manobra seja reduzida, no momento McCarthy não tem um adversário forte. Como possível alternativa, circula apenas o nome de Jim Jordan. Ontem, ele teve como oponentes Andy Biggs, apresentado pelo trumpista Paul Gosar, e o democrata Hakeem Jeffries.
Com os republicanos no controle da Câmara dos Representantes, Biden e seus correligionários perderam poder para aprovar novas iniciativas. Inicialmente, os republicanos pretendem usar essa maioria para abrir uma série de investigações que têm como alvo o presidente americano, entre elas sobre a forma como ele gerenciou a pandemia de covid-19.
Para que se entrincheirem em uma oposição sistemática, entretanto, teriam que estar unidos e na votação do orçamento, em dezembro, viu-se alguns republicanos votando com os democratas. Com a eleição do "speaker", a desunião salta à vista novamente.
Para analistas, uma Câmara hostil poderia, inclusive, beneficiar Joe Biden, caso ele confirme a intenção de se candidatar à Presidência em 2024. O presidente é cauteloso ao comentar as divisões republicanas. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, assegurou que o líder democrata não "se intrometerá nesse processo".
Sem presidente, a Câmara dos Representantes fica inativa. Não se pode aprovar leis ou formar comissões. Muito menos abrir as almejadas investigações contra Biden. Em caso de paralisação legislativa, o presidente americano deve culpar os republicanos pelo bloqueio, na esperança de se beneficiar politicamente.
Dessa forma, não há outra alternativa além de negociar e continuar votando até conseguir os 218 votos para a eleição, que pode ser decidida em horas ou levar semanas. Em 1856, o processo demorou dois meses.
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