Várias ONGs estrangeiras anunciaram neste domingo (25) a suspensão das atividades no Afeganistão depois que o regime Talibã proibiu que as mulheres trabalhem neste tipo de organização.
"Enquanto não apresentam mais explicações sobre o anúncio, suspendemos nossos programas e exigimos que homens e mulheres possam continuar, em igualdade de condições, com nossa ajuda para salvar vidas no Afeganistão", afirmaram em um comunicado as ONGs Save the Children, Conselho Norueguês para os Refugiados e CARE.
Outra ONG, o Comitê Internacional de Resgate (IRC) também anunciou pouco depois que estava suspendendo suas atividades no país, destacando que 3.000 de seus 8.000 funcionários eram mulheres.
"Se não estivermos autorizados a empregar mulheres, não poderemos prestar serviços a quem precisa", disse em um comunicado esta organização, que está presente no Afeganistão desde 1988.
Dezenas de representantes de ONGs e funcionários da ONU que atuam no Afeganistão se reuniram neste domingo para discutir a situação.
"Se (as autoridades do Talibã) não estiverem em condições de revogar esta decisão e encontrar uma solução para este problema, será muito difícil continuar e fornecer ajuda humanitária de maneira independente e justa, porque a participação das mulheres é muito importante", declarou à AFP o coordenador humanitário da ONU para o Afeganistão, Ramiz Alakbarov.
A Organização para a Conferência Islâmica (OIC) condenou a proibição neste domingo e seu secretário-geral, Hissein Brahim Taha, apelou "fortemente" ao regime talibã para rever sua decisão, considerando-a "contrária aos interesses do povo afegão".
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Impacto devastador
No comunicado enviado às ONGs no sábado, o Ministério da Economia ordenou que parassem de empregar mulheres sob pena de perder a autorização para trabalhar no país.
A decisão foi justificada por "denúncias" de que as mulheres que trabalhavam nessas organizações não respeitavam o uso do véu islâmico. No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.
A ONU e as agências de cooperação destacam que mais da metade dos 38 milhões de habitantes do precisarão de ajuda humanitária durante o inverno rigoroso.
Dezenas de organizações trabalham em regiões remotas do Afeganistão e muitas empregam mulheres. Várias associações alertaram que a proibição vai prejudicar suas atividades.
"A proibição terá um impacto em todos os aspectos do trabalho humanitário, pois as mulheres têm cargos cruciais em projetos voltados para população feminina vulnerável do país", afirmou à AFP uma fonte de uma ONG estrangeira.
"Não queremos interromper a ajuda imediatamente, pois isso prejudicaria o povo afegão", disse o enviado da ONU Ramiz Alakbarov, enfatizando que o veto teria um impacto "devastador" na já deteriorada economia do país.
Nos últimos meses, o movimento Talibã, que retornou ao poder em agosto de 2021, apertou o cerco às mulheres.
Há menos de uma semana elas foram vetadas nas universidades do país por "desrespeito" ao código de vestimenta. E desde março estão proibidas de frequentar as escolas do Ensino Médio.
As mulheres também foram excluídas de vários empregos públicos e não podem viajar sem a presença de um parente homem. O Talibã também proibiu o acesso a parques, jardins, academias e banheiros públicos.
"Inferno para as mulheres"
"O retrocesso flagrante mais recente dos direitos das meninas e das mulheres terá consequências de grande alcance para a prestação de serviços de saúde, nutrição e educação das crianças", tuitou o diretor regional do Unicef, George Laryea-Adjei.
Uma afegã de 27 anos contou à AFP, sob anonimato, que começaria a trabalhar neste domingo para uma ONG estrangeira.
"O trabalho árduo que fiz nos últimos anos no campo da educação foi destruído", disse. Shabana, 24 anos, funcionária de uma ONG em Cabul, também falou sobre a mudança.
"Somos 15 na minha família e eu sou o único sustento. Se eu perder meu emprego, minha família vai passar fome", disse. "Enquanto vocês celebram a chegada do Ano Novo, o Afeganistão virou um inverno para as mulheres", resumiu.
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