Direitos humanos

ONU expulsa Irã de comissão sobre direitos das mulheres

Manifestações se espalham pelo Irã desde 16 de setembro, quando a jovem curdo-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morreu após ser espancada pela chamada "polícia da moralidade"

No fim de setembro, Forouzan Farahani, 31 anos, ganhou as páginas dos principais jornais do mundo ao raspar o cabelo diante das câmeras, durante protesto contra o Irã, em Nova York. A ativista e pós-doutoranda iraniana experimentava, ontem, sentimentos contraditórios: alívio pela decisão da ONU de expulsar a República Islâmica da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres (UNCSW) e preocupação com os sentenciados à morte por protestarem contra o regime. Ao todo, 29 dos 54 países-membros do Conselho Econômico e Social da ONU (Ecosoc) votaram a favor da remoção do Irã, 8 contra e 16 se abstiveram.

A expulsão — medida apresentada pela delegação dos Estados Unidos — dependia de maioria simples. Manifestações se espalham pelo Irã desde 16 de setembro, quando a jovem curdo-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morreu após ser espancada pela chamada "polícia da moralidade". De acordo com a resolução do Ecosoc, Teerã "mina, continuamente, e reprime cada vez mais os direitos humanos das mulheres e das meninas, incluindo o direito à liberdade de expressão e de opinião, muitas vezes com uso excessivo da força". O texto também acusa o Irã de aplicar "políticas flagrantemente contrárias" aos direitos humanos e ao mandato da comissão e denuncia "o uso de força letal que resulta na morte de manifestantes pacíficos, incluindo mulheres e meninas".

"Foi perturbador ver quando a República Islâmica ganhou um assento nessa comissão. Depois de muitas vidas levadas, o mundo reconheceu que o Irã não merecia essa cadeira. Estou feliz em ver a sua remoção", celebrou Forouzan, em entrevista ao Correio. Para ela, a decisão envia uma mensagem às autoridades de Teerã de que a comunidade internacional as observa e não aceita o modo como tratam as mulheres.

Por sua vez, Mahmood Amiry-Moghaddam — diretor da organização não governamental Iran Human Rights (IHR) — não escondeu a alegria com a decisão da ONU. "Estou feliz que o regime que trata as mulheres como pessoas de segunda categoria e comete violência sistemática contra elas não esteja mais sentado naquela comissão. Na verdade, ele nunca pertenceu a ela", disse à reportagem. 

Saiba Mais

Pena capital

Mais de 20 iranianos correm o risco de execução na forca, incluindo 11 condenados à pena de morte por protestarem contra o regime. Entre eles, estão o rapper Toomaj Salehi, 32 anos, e o jogador de futebol profissional Amir Nasr Azadani, 26. Salehi foi acusado "unicamente pelas críticas feitas em sua música e nas redes sociais", segundo a organização não governamental Anistia Internacional. Azadani foi condenado pela morte de três seguranças na cidade de Isfahan, em novembro. 

"A pena de morte é a ferramenta mais importante do regime iraniano para espalhar o medo", lamentou Amiry-Moghaddam. "As atuais execuções são uma clara escalada da violência usada contra os manifestantes. Depois de matar civis nas ruas, agora eles matam os prisioneiros." Forouzan considerou "ultrajante" a aplicação da pena capital, muitas vezes sem o devido processo legal. "Eles tentam enviar a mensagem de que não têm piedade e querem deter a revolução criando medo. Isso mostra que o regime não tem a intenção de recuar. A comunidade internacional precisa reagir firmemente para deter os assassinatos em massa", afirmou a ativista. 

Eu acho...

"A expulsão do Irã da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres (UNCSW) é um ato simbólico, mas também importante. Mostra a redução da tolerância da comunidade internacional por um regime que ela tem suportado por muito tempo."

Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da organização não governamental Iran Human Rights (IHR), em Oslo