MARROCOS

Diretora de cinema quer debate 'saudável' sobre homossexualidade em Marrocos

Embora relativamente menos reprimida que em outros países da região, a homossexualidade em Marrocos ainda recebe punição, mesmo que a perseguição não seja sistemática

Agence France-Presse
postado em 28/12/2022 15:26 / atualizado em 28/12/2022 15:27
 (crédito:  JALAL MORCHIDI / AFP)
(crédito: JALAL MORCHIDI / AFP)

Pré-indicado ao Oscar 2023, o filme marroquino Le Bleu du Caftan (Túnica Turquesa) "pode contribuir na criação de um debate saudável e necessário sobre a homossexualidade", declara sua diretora, Maryam Touzani, em entrevista à AFP.

Em seu segundo longa-metragem, Touzani conta a história de Halim e Mina, um casal unido e sem conflitos que vive com um grande segredo: a homossexualidade de Halim.

Selecionado ao Oscar por Marrocos, o filme foi incluído na lista de 15 obras pré-indicadas para a categoria de "Melhor Filme Estrangeiro" da premiação americana.

"É uma grande honra poder representar Marrocos e carregar as cores do país nesta fase da competição", conta Touzani. "O fato do meu filme representar Marrocos é um avanço. O simbolismo é belo e forte. Expressa um desejo de abertura e diálogo", expressa a diretora.

A prova disso, de acordo com Touzani, é que o filme foi escolhido por uma comissão oficial composta de profissionais do cinema para representar o país no Oscar.

Foi uma escolha ousada em um país conservador, onde a homossexualidade é um tema tabu que divide a opinião pública e continua sendo punida com três anos de prisão.

Sem julgar 

"Me machuca e me dói ver as pessoas (LGBTQIA+) viverem escondidas, com medo, e que a expressão de seu amor seja sufocada, negada e julgada" lamenta a cineasta de 42 anos.

A história se passa na Medina de Salé, vizinha da capital Rabat. A vida de Mina e Halim, interpretados pela atriz belga Lubna Azabal e o ator palestino Saleh Bakri, vira de cabeça para baixo com a chegada de um jovem aprendiz em seu atelier de kaftan, uma túnica tradicional de Marrocos.

A aproximação entre Youssef, interpretado pelo marroquino Ayoub Missioui, e seu mestre alfaiate os faz embarcar em uma nova e plural experiência de amor, junto à Mina.

"Muitas vezes tendemos a rotular histórias de amor, mas meu desejo mais profundo era contá-la sem julgá-la", explicou Touzani, que ganhou o prêmio da crítica internacional com este filme no Festival de Cinema de Cannes.

Tanto nos contos de fadas como na amarga realidade, a diretora considera que "as mentalidades precisam mudar".

"Liberdade de amar" 

Embora relativamente menos reprimida que em outros países da região, a homossexualidade em Marrocos ainda recebe punição, mesmo que a perseguição não seja sistemática.

"A liberdade de amar nos pertence", destacou a diretora à AFP em novembro durante o Festival de Marrakech, onde "Túnica Turquesa" recebeu o prêmio do júri.

O longa também valoriza a confecção artesanal do kaftan, peça tradicionalmente usada em ocasiões especiais em Marrocos.

"O filme também explora o amor por uma profissão, a de maalem (mestre alfaiate, em árabe marroquino), que tende a desaparecer. A evolução da história ocorre paralelamente à confecção do kaftan", examinou Touzani.

"Túnica Turquesa" é a segunda obra marroquina da história a ser pré-indicada ao Oscar, depois de "Omar m'a tuer" ("Omar Me Matou" em tradução livre), do franco-marroquino Roschdy Zem. A lista final de filmes indicados será divulgada 24 de janeiro.

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