Autoproclamado defensor da liberdade de expressão, o magnata Elon Musk, dono do Twitter, enfrentou uma reação negativa nesta sexta-feira (16), após a suspensão das contas de vários jornalistas americanos, o que gerou ameaças de sanções por parte da União Europeia.
Vários jornalistas foram suspensos da rede social, incluindo funcionários de veículos como CNN (Donie O'Sullivan), The New York Times (Ryan Mac), The Washington Post (Drew Harwell) e jornalistas independentes. A plataforma também suspendeu a conta da rede social Mastodon, concorrente do Twitter.
Algumas pessoas na rede social comentaram a decisão do Twitter de suspender, na quarta-feira, a conta que relatava automaticamente as viagens de jato particular de Musk, também dono da SpaceX e da Tesla.
Qualificando a decisão do magnata como "preocupante", a vice-presidente da Comissão Europeia, Vera Jourova, lembrou em um tuíte que há "linhas vermelhas" e o ameaçou "com sanções, em breve".
"A liberdade de imprensa não deve ser ligada e desligada à vontade", tuitou o ministério das Relações Exteriores da Alemanha. "É por isso que temos um problema com o Twitter", acrescentou.
O ministro francês da Transição Digital, Jean-Noël Barrot, disse na mesma rede social que estava "angustiado com a guinada a que Elon Musk está precipitando o Twitter": "A liberdade de imprensa está na mesma base da democracia, é um ataque contra o outro".
Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, destacou que "a decisão cria um precedente perigoso, no momento em que jornalistas de todo o mundo enfrentam censura, ameaças físicas e coisas piores".
Suspensão temporária
Musk afirmou em uma série de tuítes postados durante a madrugada que "contas envolvidas em doxing (revelação intencional e pública de informações pessoais sem autorização) recebem uma suspensão temporária de 7 dias".
Ele acrescentou que as regras se aplicam tanto "'aos jornalistas' quanto a qualquer outra pessoa".
"Eles publicaram minha localização exata em tempo real, literalmente as coordenadas que permitiriam um assassinato, em violação direta (e óbvia) dos termos de serviço do Twitter”, disse Musk.
"A suspensão impulsiva e injustificável de vários jornalistas, incluindo Donie O'Sullivan, da CNN, é perturbadora, mas não surpreendente", afirmou o canal em um comunicado.
"A crescente instabilidade e volatilidade do Twitter é uma preocupação particular para qualquer um que usa a plataforma. Pedimos uma explicação ao Twitter e reavaliaremos nosso relacionamento com base nessa resposta", acrescentou a CNN.
"Esperamos que as contas de todos esses jornalistas sejam restauradas e que o Twitter forneça uma explicação satisfatória", afirmou Charlie Stadtlander, porta-voz do The New York Times.
'Perseguidor'
A história começou na quarta-feira, quando Musk tuitou que um veículo em Los Angeles que transportava um de seus filhos foi seguido por "um perseguidor maluco" e deu a entender que atribuía o suposto incidente ao rastreamento de seu jato particular.
Ele também anunciou que iria processar a pessoa por trás da agora suspensa conta @ElonJet.
Criado por um estudante e seguido por cerca de 500 mil pessoas, o @ElonJet usou dados públicos para indicar automaticamente quando e onde o avião do magnata decolou e pousou.
Em seguida, o Twitter informou que atualizou sua política para banir tuítes que, na maioria dos casos, revelam a localização de uma pessoa em tempo real.
Musk, que comprou o Twitter em outubro por US$ 44 bilhões, havia prometido não mexer na conta @ElonJet.
Defensor fervoroso da liberdade de expressão, desde que os comentários respeitem a lei, ele restaurou contas antes banidas pela rede social, inclusive a do ex-presidente americano Donald Trump.
Também suspendeu a conta do rapper Kanye West após várias postagens antissemitas e rejeitou o retorno do conspirador de extrema-direita Alex Jones à plataforma.
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