O desabafo foi de uma autoridade que sobreviveu a um dos atentados mais ousados dos últimos anos na Somália. "Houve uma explosão em minha residência, no Hotel Villa Rays. Eu saía das orações da congregação da noite quando o ataque ocorreu", afirmou ao Correio, sob a condição de anonimato. "Este será um dia que não passará. Ao mesmo tempo, os terroristas hediondos não nos intimidarão." O ataque ao hotel quatro estrelas situado no bairro de Aliyoow Boondheere, região central de Mogadíscio, teve início por volta das 20h05 (14h05 em Brasília). "Eram seis atiradores e pelo menos dois homens-bomba. Quando saí do prédio, por meio de uma porta de fuga, havia pelo menos uma pessoa morta", acrescentou o sobrevivente. Até o fechamento desta edição, as forças de segurança ainda combatiam os extremistas, sitiados dentro do prédio.
O grupo fundamentalista islâmico Al-Shabab reivindicou a autoria do atentado. O Hotel Villa Rays está situado em uma das áreas mais policiadas da capital somali e a apenas 350m do Palácio Presidencial Villa Hargeisa. Por meio de um comunicado, o Al-Shabab afirmou que seus combatentes também tinham invadido o palácio, mas as autoridades garantiram que o prédio foi completamente isolado.
O jornalista somali Mohamed Gabobe mora a cerca de 2km do Villa Rays. Ele contou ao Correio que cinco pessoas morreram na ação terorrista, inclusive um cidadão britânico. "Entre os feridos, estão o ministro da Segurança, Mohamed Sheikh; o vice-ministro da Defesa, Abdifatah Kasim; e o ex-diretor financeiro do palácio presidencial Abdulahi Bashir. Enquanto a situação de Sheikh é estável, não se conhece o quadro de saúde de Kasim. Por sua vez, Bashir está em estado gravíssimo e apresentava forte hemorragia ao ser resgatado do hotel."
"Eu escutei uma imensa explosão, seguida por tiros, no início da noite, quando eu me preparava para encerrar as atividades em meu escritório. Minutos depois da detonação, os extremistas invadiram o prédio", relatou à reportagem o jornalista somali Abdirazak Ali, editor da rádio e TV Dalsan. "A polícia informou que alguns hóspedes, incluindo os ministros do Meio Ambiente (Adam Aw Hirsi) e da Pesca (Ahmed Hassan Adan), além do senador Dunia Mohamed, foram resgatados do local. Foi o segundo ataque ao hotel em dois meses. Ele ocorreu quatro semanas depois de um duplo atentado suicida que deixou 120 mortos e 300 feridos", acrescentou.
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De acordo com Ali, o Al-Shabab foi criado há mais de uma década e, desde então, luta para derrubar o governo central e implantar um governo com a própria interpretação da sharia (lei islâmica). "Eles usam uma campanha de atentados a bomba contra instalações militares, hotéis, shopping centers e avenidas movimentadas."
Adam Aw Hirsi comentou a ação extremista em seu perfil no Twitter, por volta das 19h20 de ontem (hora de Brasília). "O ataque ao Villa Rays, onde eu e outros funcionários do governo residimos, não é de forma alguma uma manifestação de terroristas encorajados. Pelo contrário, a manonbra desesperada mostra que os manda-chuvas do terror (...) estão danodo os últimos chutes. Não desistireemos da guerra", escreveu. (RC).