Jornal Correio Braziliense

Duas perguntas para...

Noel Shaida, chefe de comunicações da Esfera, fundação criada em 2011 para a de defesa da comunidade LGBTQIA+ na Rússia

Noel Shaida, chefe de comunicações da Fundação Esfera, de defesa da causa LGBTQIA+
Arquivo pessoal - Noel Shaida, chefe de comunicações da Fundação Esfera, de defesa da causa LGBTQIA+

Por que a comunidade LGBTQIA+ russa sofre tanto preconceito e ódio?

As leis aprovadas hoje (ontem) se encaixam perfeitamente no contexto da guerra. O governo russo tenta, diligentemente, se livrar de tudo supostamente estrangeiro, ocidental, "não convencional". O Estado tenta manter a ideia nacional, que certamente está conectada à ortodoxia. É claro, o Estado precisa mostrar que nós temos nosso próprio caminho, que somos diferentes, e que nossas crianças não sofrerão o destino de ter um "pai 1" e um "pai 2". Mas, do ponto de vista racional, eu não consigo explicar isso. É por isso que estamos retrocedendo, em contraste com os anos 2.000.

Depois da aprovação da lei que bane a propaganda LGBTQIA+, o que esperam em relação à homofobia?

Presumo que o crescimento do ódio em relação às pessoas LGBTQIA+ na Rússia seja possível, já que a mídia (Estado) divulgará tal pauta. Mas, as consequências não serão apenas para as pessoas LGBTQIA+. Essas leis levarão a uma redução na quantidade de conteúdo que, de alguma forma, afetam os problemas modernos das pessoas queer. Agora, não há meios de usar o Neflix, por exemplo. Mesmo nas plataformas russas, o conteúdo sumirá. Na discussão dos projetos de lei em setembro, um dos deputados citou a série Peppa Pig como exemplo de propaganda. Então, literalmente, tudo pode ser banido.