Cinco anos após o surgimento do movimento #MeToo, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, ontem, em Paris e em outras grandes cidades francesas, para exigir uma legislação que acabe com a "impunidade" para qualquer tipo de agressão contra mulheres motivada por questões de gênero. "Somos fortes e orgulhosas. Somos feministas, somos radicais e estamos com raiva", gritavam as manifestantes, enquanto outras repetiam "Metoo em todo lugar, justiça em lugar nenhum".
Convocados por 90 associações, sindicatos e partidos políticos de esquerda, os atos se antecipam ao dia mundial de combate à violência contra as mulheres, em 25 de novembro. A maior adesão foi na capital, Paris, onde 80 mil pessoas, segundo estimativas divulgadas pelos organizadores, marcharam da Praça da República até a Praça da Nação.
"O que nos enfurece é a impunidade dos agressores e os maus-tratos às vítimas", desabafou Maëlle Noir, integrante do #NousToutes (Nós todas), que coordena a organização das passeatas. "Nós nos manifestamos para prestar homenagem às vítimas", insistiu Sandrine Bouchait, da União Nacional de Famílias de Feminicídios (UNFF), para quem "os feminicídios são o topo da pirâmide da violência sexual e sexista" e cuja associação solicita "um estatuto de vítimas com acompanhamento psicológico e financeiro" para os familiares.
Reivindicações
As associações exigem um orçamento público de 2 bilhões de euros por ano (aproximadamente R$ 11,1 bilhões), além de uma lei que estabeleça "brigadas e jurisdições especializadas", bem como auxílio financeiro para a "proteção das mulheres vítimas". Reivindicam ainda a criação 15 mil novos locais de abrigo, além de reforço da educação sobre a vida sexual e afetiva na escola.
A ministra francesa responsável pela igualdade entre homens e mulheres, Isabelle Rome, destacou, em entrevista à rádio RMC, que está aberta à instituição de uma polícia e Justiça especializadas, tema sobre o qual está sendo preparada uma missão parlamentar. Sobre recursos financeiros, ela disse que "não pararam de aumentar" para atingir "um montante global de 2,4 bilhões de euros". Reconheceu, porém, que o valor não é "especificamente" dedicado ao combate à violência.
Frédéric Planquart, 46 anos, que participava de sua primeira mobilização feminista em Marselha, considera que "não se trata apenas de um tema das mulheres", mas também dos homens. Ele assinalou, porém, que "é mais importante agir na vida cotidiana do que se manifestar".
A indignação das organizações feministas é alimentada pelo alto número de feminicídios, que somam 100 desde o começo do ano, segundo um coletivo, contra 122 no ano passado (números oficiais), e pela reticência do mundo político em excluir alguns dirigentes acusados de violência contra as mulheres. Entre 2017 e 2021, o número de estupros ou tentativas de estupro registrados pelo ministério francês do Interior dobrou, passando de 16,9 mil para 34,3 mil.